Alexandre Rocha, enviado especial
Brasília – A cúpula dos países árabes e sul-americanos só começa hoje (10) em Brasília, mas o cronograma de trabalho posterior ao evento já foi definido ontem pelo ministros das relações exteriores dos países envolvidos. A próxima edição da cúpula será realizada em 2008 em um país árabe que, segundo o ministro Celso Amorim, poderá ser anunciado hoje.
Antes, em 2007, vai ocorrer uma reunião de chanceleres em Bueno Aires, na Argentina, e, em novembro deste ano, será organizado um encontro de altos funcionários dos governos das duas regiões, na sede da Liga dos Estados Árabes, no Cairo (Egito).
A idéia é fazer com que a cúpula seja organizada a cada três anos, que os chanceleres se reúnam pelo menos bienalmente e que técnicos dos governos se encontrem todos os anos. “E se houver necessidade vão haver outras reuniões ministeriais”, disse Amorim. Reuniões setoriais também deverão ser organizadas, para discutir temas específicos, como comércio, cultura e política.
Ontem também os chanceleres acrescentaram alguns pontos na declaração final da cúpula, que será submetida hoje aos chefes de estado e de governo. Em um deles, na área cultural, o Marrocos se ofereceu para sediar um centro de estudos sobre a América do Sul. O intercâmbio cultural é um dos pontos principais da cúpula.
Os ministros concordaram também em acrescentar posicionamentos sobre as Malvinas, foco da guerra entre a Argentina e a Inglaterra nos anos 1980, e sobre ilhas do Golfo Arábico, que atualmente são disputadas pelos Emirados Árabes Unidos e Irã. De acordo com informações do Itamaraty, o texto incluído ontem “exorta” a busca de soluções pacíficas sobre estes impasses e que atendam aos interesses de todas as partes envolvidas.
No restante da declaração, segundo a ANBA apurou, foi mantido o texto que já havia sido aprovado pelos chanceleres em março, durante reunião de Marrakesh. “É a posição tomada pelos 34 países, que foi aprovada em Marrakesh”, disse o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa.
Conforme a ANBA antecipou com exclusividade no final do mês passado, o documento sugere a criação de mecanismos para promover as relações econômicas entre as duas regiões e o estabelecimento de parcerias em setores estratégicos, como energia, telecomunicações, transportes e pesquisa.
Prevê também, entre outras coisas, o respeito ao multilateralismo e ao direito internacional; a condenação a todas as formas de terrorismo; a busca por soluções pacíficas para conflitos regionais, pelo desenvolvimento sustentável e pela erradicação da pobreza e da fome.
“É um processo já aprovado e há um grande entusiasmo. Há uma presença ministerial como nunca se viu em reuniões internacionais”, disse Amorim. “E o que ocorreu hoje é apenas um prelúdio do que vai acontecer amanhã (hoje), uma demonstração de que aquilo que a cúpula queria provocar ela já provocou, que é essa afirmação de interesse nos planos político, econômico e cultural”, acrescentou. De acordo com ele, 60 ministros, de várias pastas, dos 34 países envolvidos estão no Brasil para participar dos eventos da cúpula.
Presença
No mesmo sentido, Amr Mussa afirmou que a falta de alguns chefes de estado, principalmente dos países árabes, não esvazia a cúpula. “Todos os países árabes estão presentes”, afirmou, referindo-se ao fato de que todos os governos enviaram pelos menos seus ministros de Relações Exteriores. Para ele, este é um sinal da importância que os árabes estão dando ao evento.
Para o chanceler da Argélia, Abdelaziz Belkhadem, a cúpula vai “consolidar laços de amizade que já existem e estabelecer as bases para uma cooperação maior entre as duas regiões”. A Argélia é co-presidente da cúpula, ao lado do Brasil, e ocupa também a presidência rotativa da Liga Árabe.
Iraque
O chanceler do Iraque, Hoshyar Zebary, acrescentou que, para seu país, o evento é especialmente importante, já que ocorre logo após a posse do novo governo eleito recentemente. Para ele, a cúpula representa a oportunidade do Iraque dar início a parcerias com a América do Sul. Zebary disse ainda que, na declaração, os países participantes apóiam o governo eleito do Iraque.
Já o ministro das Relações Exteriores do Sudão, Mustafa Osman Ismail, disse que o governo de seu país vê na cúpula uma oportunidade para a ampliação das relações econômicas e comerciais. O vice-chanceler do Peru, Armando Lecaros, por sua vez, espera que a cúpula resulte em “ações concretas e promissoras entre nossos países”.
Debates
A cúpula começa hoje. Dos 34 países participantes, 17 serão representados por chefes de estado ou de governo, os demais enviaram seus chanceleres como líderes das delegações.
A abertura do evento vai ocorrer pela manhã, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e vai contar com discursos dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da Argélia, Abdelaziz Boutlefika, e do Peru, Alejandro Toledo, que ocupa a presidência temporária da Comunidade Sul-Americana de Nações. Mussa, da Liga Árabe, também vai falar.
Pelo resto do dia e amanhã de manhã vão ocorrer as reuniões plenárias dos chefes de estado, de governo e das delegações. Como a declaração final já foi discutida pelos chanceleres, os debates devem se concentrar sobre três temas.
O primeiro é a cooperação econômica bi-regional, por meio do incentivo ao comércio e aos investimentos. O segundo refere-se ao diálogo político e o terceiro ao intercâmbio cultural. De acordo com informações do Itamaraty, cada representante deverá falar sobre a visão e as idéias de seu governo sobre estes assuntos.