São Paulo – Acomode-se bem na cadeira. De preferência, perto da janela. Daí por diante, é só descansar os olhos na paisagem, vendo a vida passar do lado de fora em meio a montanhas, campos, uma casinha ou um cavalo aqui e acolá, normalmente nas proximidades das estações. Muito relaxante e muito romântico passear de trem. Aos apreciadores do chamado turismo ferroviário, a boa nova é que o país nunca investiu tanto no segmento, com planos de investir ainda mais. Existem roteiros em diferentes regiões, embora os do Sul e Sudeste sejam os mais famosos. Hoje, o Brasil tem 20 trens turísticos, devendo chegar a 30 nos próximos cinco anos.
"Queremos melhorar e recuperar os trechos que temos, viabilizar mais rotas", explica o diretor de Estruturação, Articulação e Ordenamento do Ministério do Turismo, Ricardo Moesch. Para agilizar esses trabalhos, foi criado, no último mês de fevereiro, o Grupo de Trabalho de Turismo Ferroviário, formado por entidades como o Ministério dos Transportes, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Secretaria de Patrimônio da União e o próprio Ministério do Turismo, entre outros. Somados, os investimentos do governo federal nos passeios sob trilhos foram de R$ 16,9 milhões entre 2004 e 2009.
Ele próprio um apreciador das viagens de trem, Moesch destaca os roteiros entre as cidades de São João Del Rei e Tiradentes, em Minas Gerais, e o de Bento Gonçalves a Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul. "Em Minas o destaque fica por conta das cidades históricas percorridas no passeio. Já no Rio Grande do Sul, o atendimento ao turista nas estações é muito bem feito", recomenda.
Seguindo as dicas e começando por Minas, é preciso dizer que o estado tem quatro rotas de turismo ferroviário. São elas: a do Trem da Vale, de Ouro Preto a Mariana; a de São João Del Rei a Tiradentes, com a antiga Maria Fumaça; o Trem da Mantiqueira, entre Passa Quatro e Coronel Fulgêncio, e o Trem das Águas, que liga São Lourenço a Soledade.
"Minas sempre foi um estado famoso pelo turismo ferroviário", explica a superintendente de Políticas de Turismo da Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais, Jussara Rocha. "Basta lembrar a expressão ‘trem bão’, que usamos para tudo aqui. Andar de trem faz parte da nossa identidade", explica.
De acordo com Jussara, cada rota tem o seu charme. "Quem gosta mais de serra deve ficar com o passeio da Mantiqueira. Para destinos históricos, os trajetos de Ouro Preto e São João Del Rei são os melhores", afirma. "O trecho de São João Del Rei a Tiradentes ainda tem o charme de ser feito na antiga Maria Fumaça, com aquele barulhinho tradicional do apito e o ritmo mais lento das locomotivas", diz.
O trem a vapor Maria Fumaça também é a estrela do passeio entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, com parada em Garibaldi, no Rio Grande do Sul. No ponto de partida, Bento Gonçalves, os turistas são recebidos com uma degustação de vinho. Na estação Garibaldi, pausa para beber filtrado doce (espumante) e suco de uva ao som de música gaúcha e italiana. Vinte e três quilômetros de percurso depois, já em Carlos Barbosa, mais apresentações com melodias da Itália e do Rio Grande do Sul. "Ao longo do trajeto, são três degustações e sete shows", explica a coordenadora de Marketing da Giordani Turismo, Mara Pasquali. A empresa é a responsável pelo passeio.
Segundo Mara, as referências à cultura local e às origens italianas fazem a festa dos passageiros. "É uma volta ao passado", garante. Entre os turistas que passeiam de trem por lá, apenas 1% são estrangeiros. A maioria vem do próprio Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Rio de Janeiro e dos estados do Nordeste, nessa ordem.
Lá no Paraná
Ainda na região Sul, os roteiros entre a capital Curitiba e Morretes ou entre Curitiba e Paranaguá, no Paraná, são programas perfeitos para quem quer esquecer da vida no balanço dos trilhos. No primeiro caso, o tour tem três horas de duração. Já até Paranaguá são cinco horas de passeio. Ambos são operados pela Serra Verde Express.
Por que os dois trajetos são dignos de nota? As lindas paisagens do Paraná, com muitas araucárias pelo caminho, já seriam motivos suficientes, mas, além delas, há ainda o Túnel Roça Nova, com 457 metros, o maior da ferrovia Curitiba-Morretes-Paranaguá. Mais adiante, a Ponte São João é a queridinha dos passageiros. Construída com 402 toneladas de aço belga, a estrutura tem 70 metros de extensão e está localizada a uma altura de 55 metros. A sensação é a de estar flutuando. E, bem acomodado na cadeira, de preferência perto da janela, fazendo parte de um cenário de sonho e sossego. Para não esquecer jamais.
Serviço
Informações sobre os passeios de trem em Minas Gerais:
Secretaria de Estado do Turismo: (31) 32708501
São João Del Rei – Tiradentes: (32) 33718485 e (32) 88219541
Ouro Preto – Mariana: (31) 35573844
Site: http://www.fcasa.com.br/trens-turisticos
No Rio Grande do Sul:
Giordani Turismo: (54) 3455-2788. Site: www.giordaniturismo.com.br
No Paraná:
Serra Verde Express: (41) 38883888. Site: www.serraverdeexpress.com.br