Isaura Daniel
São Paulo – Uma filha de imigrantes libaneses está ajudando as adolescentes de favelas cariocas a resgatar sua auto-estima por meio das danças árabes. A dançarina Maira Mattar, nascida em Minas Gerais e criada no Rio de Janeiro, já deu aulas para mais cem adolescentes das favelas Morro do Vidigal, Rocinha e Dona Marta. Diferente da maioria das professoras de dança árabe, porém, Maira não ensina apenas ritmo às adolescentes. As lições são dadas também para que elas se conheçam e melhorem sua auto-estima.
Das aulas da mineira-carioca fazem parte não só a tradicional dança da fertilidade, conhecida como dança do ventre, mas também outros tipos de danças árabes, como a dabek, que é coletiva, as danças beduínas, que são ritualísticas, e a dança egípcia. Na dança egípcia, o corpo imita, com seus movimentos, as formas dos hieróglifos, sinais da escrita das antigas civilizações. O método empregado por Maira inclui a dança, mas também um acompanhamento pessoal da professora às alunas, com conversas ilustradas com elementos didáticos como a leitura de contos árabes.
Mas como a dançarina transforma as lições de ritmo em lições de auto-estima? A idéia é que conhecendo o próprio corpo, por meio da dança, a adolescente também descubra a sua identidade como mulher. "A mídia oferece uma receita pronta de como você (mulher) deve ser", diz a dançarina. Maira quer que as suas alunas se desvinculem dessa cartilha pronta e passem a seguir a sua própria interioridade. "A dança árabe mexe com as emoções", afirma. Maira afirma que a dança árabe acabou associada à sensualidade, com a dança do ventre, e que, na verdade, não se resume a isso.
Maira já teve como alunas mulheres que estavam tentando engravidar e até grávidas de nove meses. Segundo ela, a dança as ajudou no processo que estava vivendo. Muitas famosas, como jogadoras de vôlei, cantoras e atrizes, também tiveram aulas com Maira. A dançarina deu aulas, inclusive, para a atriz Cristiane Torloni fazer a peça teatral Salomé. A peça foi também coreagrafada por Maira. No Centro Integrado de Educação Pública (Cieps), a filha de libanês também aplicou o seu método junto a psicanalistas que trabalhavam no organismo. Foi por meio de uma Organização Não-Governamental (ONG) da qual os psicanalistas participavam que o trabalho nas favelas começou, há cerca de quatro anos.
Hoje, Maira, que tem 50 anos, faz o seu trabalho na periferia, por iniciativa pessoal, juntamente com outros profissionais, como fisioterapeutas e musicoterapeutas. Ela também dá aulas particulares, em sua casa ou em domicílio, faz apresentações, workshops e palestras. Maira chegou a ter aulas no Egito com uma dançarina que seguia o método que hoje ela aplica. Ela passou seis meses em países árabes, no Egito e Líbano, logo depois de se graduar em História pela Universidade Santa Úrsula, do Rio de Janeiro.
Maira é de uma família árabe tradicional. O avô, Tawfiq Mohammed Mattar, veio para o Brasil no começo do último século para trabalhar com comércio. O pai de Maira, Samir Mattar, chegou ao Brasil com 14 anos. Casou com uma brasileira, Anizia Magdalena Mattar, e virou artista plástico. Maira aprendeu a dançar em casa, ainda muito pequena, enquanto o avô cantarolava e batia palmas. A dançarina também escreveu um livro de poesias inspiradas no mundo árabe, mas ele ainda não foi publicado.
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Maira Mattar
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