Omar Nasser, da Fiep*
Curitiba – Do armazém de secos e molhados à grande indústria. O caminho que fez a fortuna de muitos imigrantes árabes no Brasil também foi trilhado, no Paraná, pela família Zattar. Tradicional empresa do ramo madeireiro do Estado, fundada há 72 anos, a Indústrias Zattar entra no século XXI com bons motivos para comemorar: a produção de compensado laminado de pinus triplicou entre 2002 e 2004, passando de 6 mil metros cúbicos para 18 mil. E as perspectivas são animadoras. Miguel Zattar Filho, diretor-presidente, prevê crescimento de 8% nas exportações este ano.
Com uma sólida base no mercado norte-americano e europeu, a companhia não descarta a possibilidade de diversificar o leque de clientes. "A Europa é o nosso maior mercado, mas o Oriente Médio tem boas perspectivas", destaca Zattar. Ele recorda que a empresa já teve negócios com a região por meio da Madebrás, trading montada na década de 1970 por seu pai. "Temos uma expectativa de nos próximos cinco anos expandir a produção e, necessariamente, não ficaremos focados num mercado exclusivo. Nesse caso, nossa primeira opção será o Oriente Médio."
A Indústrias Zattar tem perfil exportador. Segundo seu principal executivo, praticamente 100% do compensado produzido é vendido ao exterior. Apenas negócios esporádicos são feitos no mercado brasileiro. O produto é utilizado pelas empresas de construção civil, móveis e embalagens industriais da Europa e Estados Unidos. No Velho Continente destacam-se a Bélgica, Alemanha, França e Reino Unido. Entre os compradores estão montadoras alemãs de veículos, como a BMW, Audi e Volkswagen.
Além de produzir um insumo que permite múltiplos empregos, a Zattar investe no reflorestamento. Com isso, pretende manter um estoque de madeira que permita alimentar seu processo industrial e fornecer matéria-prima para as demais indústrias do setor. A área plantada de pinus dobrou nos últimos cinco anos, passando de 1,5 mil hectares para 3 mil. Outra aposta da empresa é no plantio do eucalipto. Enquanto uma árvore de pinus leva 20 anos para atingir a condição de corte para aproveitamento industrial, o eucalipto demora 7 anos.
Engana-se, contudo, quem está acostumado a associar a imagem do madeireiro à do devastador de florestas. A Indústrias Zattar possui 50 mil hectares de terras na região centro-sul do Paraná, dos quais 40 mil são de floresta nativa preservada. Com sua base industrial localizada no município de Pinhão, próximo a Guarapuava – cidade que fica a 258 quilômetros de Curitiba -, emprega 800 pessoas, entre funcionários próprios e terceirizados que prestam serviços exclusivos.
História
A história da empresa, porém, começa longe, do outro lado do Atlântico. Mais precisamente na cidade de Zahle, situada na região centro-oriental do Líbano, capital da província do Bekaa. Foi de lá que emigraram, no início do século passado, os bisavós de Miguel Zattar Filho: Yussef Zattar e a mulher, Hendi, acompanhados da filha mais velha, Naine. Aportando em Paranaguá, deslocaram-se para a cidade de Morretes, também no litoral paranaense, onde se instalaram. Lá, Hendi, que tinha vindo grávida do Líbano, deu a luz a João José Zattar.
A família sobe a Serra do Mar em busca de melhores condições e vai para a região de Fernandes Pinheiro, próxima à cidade de Irati, região centro-sul do Paraná. Repetindo a saga de muitos imigrantes árabes que chegam no Brasil à época.
Yussef – agora com o nome aportuguesado de José – monta um armazém de secos e molhados, onde vende, além de outras mercadorias, material de construção e artigos em madeira. É o primeiro contato da família com aquela que viria a ser a fonte de sua prosperidade. Em 1932 João José Zattar, avô de Miguel, monta a serraria, iniciando a produção de caixas de sabão. Em 1944 a Indústrias João José Zattar passa a ser sociedade anônima. Retomar os negócios com o Mundo Árabe não deixa de ser, portanto, um retorno às raízes.
*Federação das Indústrias do Estado do Paraná

