Cláudia Abreu, Débora Rubin e Geovana Pagel
São Paulo – As projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) mostram que em 2014 o mundo estará consumindo 144,6 milhões de sacas do grão contra as atuais 118,9 milhões de sacas. Isso significa que, nesse período, o consumo mundial do grão continuará a crescer, em média, 2% ao ano. Já no Leste Europeu e na Rússia o consumo vem crescendo 3% ao ano e no Brasil 4%.
E os especialistas em comércio internacional entendem que em 2014 o Brasil deverá responder, no mínimo, por 30% das exportações mundiais de café. Isso significa dizer que em meados da próxima década as vendas externas do café brasileiro poderão ultrapassar o volume de 43 milhões de sacas. No ano passado, foram exportadas 27,2 milhões para mais de 70 países.
O ministro da Agricultura Luis Carlos Guedes Pinto, em entrevista exclusiva à ANBA, destacou a importância da cadeia produtiva da cafeicultura no agronegócio brasileiro lembrando que, em 2006, as exportações de café somaram US$ 3,3 bilhões – um crescimento de 14,8% em relação ao ano anterior. E, em termos de receita, as vendas de café deverão continuar crescendo, pelo menos, nos próximos três anos.
"Os bons preços alcançados pelo café, tanto externa como internamente, estão levando os cafeicultores a aumentar a produtividade média das lavouras. Em algumas regiões produtoras os cafeicultores estão renovando suas lavouras. Ou seja, para continuar mantendo a liderança mundial de maior produtor e exportador de café, o governo e a iniciativa privada estão fazendo a lição de casa. A intenção é atender o aumento da demanda mundial de café assegurando, portanto, a liderança do mercado que movimenta anualmente US$ 91 bilhões", assegurou o ministro.
Uma das medidas recentes do governo federal, que resultará em maior estabilidade e renda para todo o setor, foi a decisão de facilitar as operações do Funcafé. Ou seja, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a proposta do ministro Guedes Pinto de incluir em um único voto as linhas de crédito de custeio, colheita, estocagem e Financiamento para Aquisição de Café (FAC), com os recursos do Funcafé.
De acordo com Guedes Pinto, isso, na prática, significa que "a partir de agora, essa medida não precisa mais ser submetida ao CMN, fato que permitirá aos ministérios da Agricultura e Fazenda alocar e remanejar o montante destinado às quatro linhas de crédito previstas no orçamento, que atualmente é de R$ 21 bilhões".
"Com essa medida não será necessário, a cada safra, submeter à apreciação do CMN as linhas de crédito para apoio à cafeicultura. Isso vai desburocratizar o processo decisório, permitindo que os financiamentos estejam à disposição do setor nos momentos oportunos".
No entender do mercado essa desburocratização do crédito dará mais segurança aos cafeicultores, que terão recursos para investir na própria atividade melhorando o trato cultural das lavouras e, por conseqüência, a própria produtividade média dos cafezais. Outro fator de estímulo aos produtores foi a decisão do CMN de manter os preços mínimos para a safra 2006/2007 de R$ 157 a saca de 60 quilos para o café arábica e de R$ 89 para a saca de conillon.
Aposta
Com relação ao futuro da cafeicultura brasileira, há quem aposte que o país tem condições, inclusive, de ampliar para até 35% sua participação no mercado cafeeiro mundial. Segundo exportadores, o Brasil é o único produtor de café em condições de oferecer a bebida para todos os paladares. Fato que, segundo eles, dá ao país vantagem junto aos consumidores em relação às demais nações produtoras.
"Com um parque cafeeiro diversificado, que possibilita ao país produzir tanto o café robusta quanto o arábica, temos condições de fornecer café para todo os países do mundo", garante o ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Luiz Haffers, um dos maiores cafeicultores brasileiros. De fato, hoje 25% da produção cafeeira é de robusta e 75% arábica.
No entender do diretor geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga Abreu Pires, para acompanhar o crescimento do consumo mundial de café, manter e ampliar os atuais 30% do mercado mundial e atender a crescente demanda interna, que em 2014 deverá chegar a 20 milhões de sacas anuais, o Brasil terá que aumentar a produção para 60 milhões de sacas por ano.
"Como um parque cafeeiro de 6 bilhões de pés em uma área de 2,2 milhões de hectares, o Brasil terá aumentar a produtividade média de sacas por hectare. Hoje essa média é de 19 a 22 sacas por hectare e deve trabalhar para chegar a 28 sacas por hectare. O que é perfeitamente possível tendo em vista os excelentes avanços das pesquisas realizadas no Brasil", afirmou.
De acordo com a avaliação do mercado, se as perspectivas de médio e longo prazo deixam os exportadores e cafeicultores brasileiros otimistas, no curto prazo todos já estão rindo à toa. E não é para menos já que as projeções indicam que a receita gerada pelas vendas externas do café continuarão crescendo nos próximos anos. E a razão disso é que há uma relação de equilíbrio entre a oferta e a procura do café no mercado.
"Na prática, isso significa que o mundo se encontra muito mais perto da falta de café do que de um quadro de super oferta, fato que explica os bons preços alcançados no mercado internacional", explica Guedes Pinto.
De fato, para um consumo mundial da ordem de 118,4 milhões de sacas, a produção de café do planeta na safra 2005/2006 foi de 122 milhões de sacas. Considerando que os estoques mundiais (carry-over), incluindo o brasileiro, somam 31,9 milhões de sacas não é difícil avaliar que o mercado trabalha com uma margem apertada considerando o crescimento anual do consumo mundial da bebida.
Diante desse quadro, é que exportadores e dirigentes cooperativistas acreditam que os preços do café continuarão firmes. Não haverá uma explosão de preços, mas a tendência para esse ano é de uma alta entre 10% e 15% em relação ao preço médio do ano passado. E a alta das cotações internacionais se deve também ao fato da própria redução da próxima safra cafeeira do Brasil.
Bases reais
Para o ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, o otimismo do setor é um fato calcado em bases reais:
"Basta observar a valorização da saca de café que, em 2003 valia US$ 50 e hoje custa, em média, três vezes. Isso é resultado de uma forte política que fizemos durante os últimos quatro anos, política de financiamento, estocagem para fazer com que a oferta crescesse em ritmo menor que o crescimento da demanda", explicou Rodrigues lembrando que apenas em 2003 o governo comprou mais de um milhão e sacas de café.
"Fizemos também uma política de renegociação da dívida dos produtores, vendemos mais do que a metade do estoque do café que herdamos desde os temos de IBC (anos 80) – com isso, aumentamos os recursos do Funcafé. Investimos também fortemente na divulgação do café brasileiro".
Para Rodrigues, o cenário melhorou muito nos últimos anos. Mas, ele alerta que se o Brasil quiser se consolidar como o maior produtor de café nos próximos anos e atender à demanda mundial e interna, terá que investir em três aspectos fundamentais: achar mecanismos para reduzir o endividamento dos produtores, que é ainda o elo mais frágil da cadeia; ampliar as negociações com compradores e expandir as vendas do torrado e moído e, por fim, permitir que os produtores, via cooperativas, negociem diretamente com os compradores e, de preferência, já processem seu café.
"E é preciso que os agricultores continuem investindo em tecnologia, assim como é preciso que o Projeto Genoma avance e traga novos tipos de café, mais resistentes à ferrugem, tolerantes à seca, etc", recomenda o ex-ministro, acrescentando que o investimento no café torrado e moído é o principal aspecto. Isso porque o café brasileiro precisa de mais valor agregado. "Enquanto não se investir nisso, Alemanha e Itália continuarão exportando café sem plantar um grão – o que não tem o menor cabimento", disse o ex- ministro.