Nova York- O secretário-geral do Itamaraty, Antônio Patriota, em visita de três dias a Nova York, disse, em entrevista à ANBA, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), que o Brasil esta acompanhando com grande atenção o desenrolar das discussões sobre a reforma do Conselho de Segurança (CS).
“Acredito que essa questão devera adquirir maior visibilidade nas próximas semanas e no próximo ano, até mesmo em função de todas as mudanças que estão ocorrendo na distribuição internacional de influência e do poder econômico”, afirmou.
Patriota é um dos cotados para assumir o cargo de chanceler no governo da presidente eleita Dilma Roussef, em substituição a Celso Amorim. Leia abaixo alguns trechos da entrevista:
ANBA – Qual a principal razão de sua visita a Nova York?
Antônio Patriota – Estou aqui para participar das discussões sobre o Sudão, que ocorreram no Conselho de Segurança esta semana. O Brasil está observando com atenção a situação nesse país e esperando que os referendos que ocorrerão lá se realizem da maneira pacífica, em beneficio da estabilidade. O Sudão é um país importante para o Brasil, sendo o maior da África.
O debate sobre a reforma das Nações Unidas está ganhando cada vez mais espaço na cena internacional. Como andam as discussões sobre esta questão, visto que o Brasil é considerado como um candidato natural para a adesão ao Conselho de Segurança?
Como sabemos, ocorreram recentemente alguns desenvolvimentos importantes, com as declarações do presidente [dos Estados Unidos, Barack] Obama, que abordou essa questão, explicitando seu apoio à Índia e reiterando o apoio ao Japão.
Por outro lado, o secretario do exterior da Grã Bretanha, William Hague, que preside atualmente o Conselho de Segurança, reiterou mais uma vez o apoio de seu país ao Brasil. Alguns artigos e jornais importantes retomaram o assunto. Acredito que esta questão devera adquirir maior visibilidade nas próximas semanas e no próximo ano, até mesmo em função de todas as mudanças que estão ocorrendo na distribuição internacional da influência e do poder econômico. Este ano tivemos a reforma do FMI, com a ampliação da quota das economias emergentes. O que é também um desenvolvimento importante. O G-20 está se firmando como um novo mecanismo de coordenação financeira e não há porque o Conselho de Segurança não reflita também essa nova distribuição de influência política.
Qual o é projeto que o Brasil apresenta para conquistar o apoio do maior número de países para a sua candidatura?
Esse é um assunto muito longo, mas, para tentar resumir, eu diria que o Brasil está entre os países de maior tamanho, maior PIB, etc. Ele pode ser considerado aquele com o perfil mais pacífico no mundo de hoje. É um país que tem relação com todos os vizinhos e estamos desenvolvendo uma rede global de embaixadas. É um país com forte presença nos fóruns multilaterais. Juntamente com o Japão, é o país que trabalhou o maior número de anos no Conselho de Segurança como membro não permanente. É um país desnuclearizado, com credenciais muito sólidas na área da não proliferação e do desarmamento. O Brasil é um país cuja ação externa se confunde com a própria noção de paz e desenvolvimento. Esse é o espírito que nós consideramos que temos uma contribuição para dar. Nossa agenda é puramente voltada para a diplomacia, para a resolução dos conflitos e tensões internacionais por via do diálogo, e também da combinação dos esforços de estabilização que a ONU realiza, com muita competência, por meio de operações de paz e outros métodos, com a ideia do desenvolvimento social e econômico. Por que sem desenvolvimento, em situações onde prevalece pobreza, miséria, contrastes, desigualdades, só está se contribuindo para eventuais acirramentos de tensões.
O Brasil continua preocupado em se apresentar à comunidade mundial como um modelo convivência pacífica e cordial de comunidades, e prova disso foi o sucesso do terceiro Fórum da Aliança de Civilizações, realizado no Rio de Janeiro em maio deste ano…
Na verdade, estamos cada vez mais envolvidos neste debate. O que queremos é poder mostrar que no Brasil coexistem grupos de todas as procedências, de todas as religiões, de todos os grupos étnicos, e que vivem em relativa harmonia.
O Brasil manifestou várias vezes o seu interesse em ter uma maior participação na busca de uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos. Como andam as discussões sobre essa questão?
Juntamente com a Índia e a África do Sul, no grupo que chamamos de Ibas, sempre incluímos exortações para que se encontre uma solução para esse conflito, e para a criação de dois estados.
Por outro lado, consideramos que o formato da conferência de Anápolis, que ocorreu em 2007, era bom para poder se chegar a algum resultado, porque incluía, além dos países da região e os membros permanentes do CS, outros países de fora da região que podiam também dar seu apoio. Talvez este exercício simbolize, de alguma forma, aquilo que consideramos que seja desejável no futuro.