Cláudia Abreu
São Paulo – Tempo de espera para os produtores de açúcar do Brasil. A decisão final da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os subsídios concedidos pela União Européia (UE) ao setor, esperada para esta semana, só sairá em meados de abril. A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) refez os seus cálculos e estima que se o país vencer a disputa comercial, as exportações brasileiras de açúcar refinado saltarão de 3,2 milhões de toneladas ao ano para 5,2 milhões. Em agosto do ano passado, a entidade previa embarques adicionais de 1,5 milhão de toneladas.
A briga internacional se arrasta desde o ano passado, quando Brasil, Tailândia e Austrália entraram com o pedido na OMC e ganharam a disputa em primeira instância. A entidade decretou que os subsídios concedidos por Bruxelas aos produtores de açúcar eram ilegais. Em janeiro deste ano, a UE entrou com um recurso para rever a decisão da OMC.
Esta semana, juízes internacionais da entidade estão reunidos em Genebra, na Suíça, para ouvir a argumentação das partes envolvidas. "Até agora, as notícias são positivas, apontam para uma vitória brasileira em abril. Os europeus não apresentaram nada de novo, nenhum fato que possa mudar a decisão da OMC", afirma Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica.
Na primeira avaliação, a OMC constatou que a UE colocou, de forma ilegal, cerca de 3 milhões de toneladas de açúcar refinado no mercado internacional. Isso em apenas um ano. O volume foi subsidiado e prejudicou as exportações brasileiras. O bloco simplesmente passou da condição de importador de açúcar para se tornar o segundo maior exportador do mundo, perdendo apenas pelo Brasil.
A argumentação brasileira mostra que a UE conseguiu chegar a essa situação por meio de dois mecanismos: apoiando financeiramente os produtores e criando uma política de estoques baixos. O bloco estabeleceu um limite interno, se ele fosse superado, o açúcar excedente seria exportado com preços abaixo do mercado. Com esse esquema, milhões de toneladas de açúcar foram para o exterior.
Atravessador
Outra acusação do Brasil se refere ao açúcar que é importado pela UE de países pobres do continente africano e do Caribe, principalmente. Os brasileiros alegam que Bruxelas está reexportando os volumes que compra desses países. "Com o mercado interno saturado por causa dos subsídios, os europeus adquirem os produtos e repassam", afirma Carvalho. Os europeus negam a acusação e dizem que a prática faz parte dos compromissos assumidos pela UE de ajudar os países mais pobres a comercializarem seus produtos.
Segundo Carvalho, o argumento do Brasil mostra que não se trata de deixar de importar dos países mais necessitados, mas de reduzir a produção interna para que haja um espaço para o consumo na Europa desse açúcar. A tese é amparada por um estudo recente do Banco Mundial que mostra que essa prática européia tem pouco ou nenhum resultado concreto para os países pobres.
Negócios
Enquanto o mercado internacional aguarda uma solução, os negócios do setor sucroalcooleiro no Brasil estão em movimento. Até quinta-feira, acontece em Araçatuba, interior de São Paulo, a 3ª Feira de Negócios da Agroindústria Sucroalcooleira (Feicana). O evento deve movimentar R$ 500 milhões em negócios. Cerca de R$ 50 milhões a mais que no ano passado, segundo Antonio Salibe, das Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop).
Este ano são cerca de 140 expositores, num pavilhão com 7,5 mil metros quadrados de área coberta, além de uma área externa. Mais de 17 mil pessoas são esperadas na feira. "No ano passado, a Feicana recebeu 15 mil visitantes", afirma Salibe.
Paralelamente à feira, ocorrem encontros da Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil (Stab) e da Organização dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Orplana), o primeiro no recinto da Feicana durante todos os dias do evento, e o segundo na quinta-feira, no Hotel Riviera.