São Paulo – A demanda mais promissora de café no mundo está na Ásia, especialmente na China, mas o Brasil vem encontrando crescimento de vendas acima da média também nos países árabes. “O mercado do Oriente Médio é muito importante para o Brasil, exportamos muito. O Brasil produz uma determinada qualidade de cafés arábica que é muito apreciada no mercado árabe. Temos parceiros muito bons no Oriente Médio”, disse o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Nelson Carvalhaes, em entrevista à ANBA durante o Coffee Summit, evento de discussão do setor que ocorreu nesta quarta-feira (29), na capital paulista.
De acordo com Carvalhaes (foto acima, no púlpito), o objetivo é ampliar as vendas brasileiras de café para o Oriente Médio, que já crescem acima da média. De janeiro a abril deste ano, as exportações gerais de cafés do Brasil avançaram 26,8% em volume e 3,5% em receita, enquanto para os árabes cresceram 39,8% em quantidade e 8% em faturamento. A Ásia, mercado infinitamente maior, também avançou acima da média como destino das exportações brasileiras, com crescimento de 29,9% nas compras em volume e 7,1% em receita, segundo dados do Cecafé.
A estrela da vez no consumo de café é a China, segundo apresentação sobre a produção e o mercado mundial de café feita no Coffee Summit pelo analista de café da consultoria INTL FCStone, Fernando Maximiliano. “O crescimento de demanda, tirando Ásia e China, é basicamente o mesmo, é bem estável, 2% a 2,1% ao ano, nos países árabes é mais ou menos esse nível”, disse Maximiliano à reportagem da ANBA. Em sua palestra, Maximiliano disse que a China pode ser uma “bomba” em crescimento de consumo de café porque o país está em transição do consumo de chá para o café.
O crescimento médio anual de consumo da Ásia e Oceania, com base nos último cinco anos, foi de 4,5%, com 39,6 milhões de sacas ao ano, segundo dados apresentados pelo analista da INTL FCStone. Na África, o avanço foi de 3,9%, mas o mercado é bem menor, de 11,2 milhões de sacas. Na América Latina, o percentual é de 2,1%, com 29,6 milhões de sacas; na América do Norte, de 2,3%, com 33,9 milhões de sacas; e na Europa, de 1,1%, com 49,2 milhões de sacas. A Europa é a maior consumidora de café do mundo, seguida de Estados Unidos e Brasil.
Apesar das notícias animadoras sobre a demanda asiática, os produtores de café do Brasil e do mundo vêm vivendo um período difícil, com os preços extremamente baixos. Segundo Maximiliano, para algumas regiões produtoras no Brasil, o preço está próximo do custo de produção. “O mercado está confortável de que existe uma ampla oferta de café e com o sentimento de que isso vai continuar”, explicou. Os estoques estão altos e a sua formação avança mais que o uso. “A oferta cresce de forma mais acelerada do que a demanda”, disse.
A percepção de que a oferta seguirá alta é ancorada em boas estimativas em importantes países produtores como Brasil, Vietnã e Colômbia. No mundo, a produção de café da colheita 2018/2019 será de 174,5 milhões de sacas, contra 158,8 milhões de sacas em 2017/2018, aumento de 9,8%. O consumo será de 163,6 milhões de sacas, contra 160,3 milhões de sacas no período anterior, alta de 2%. Assim, com a produção avançando bem acima da demanda, o estoque final da safra ficará em 37,1 milhões de sacas na colheita 2018/2019, contra 29,9 milhões de sacas em 2017/2018, volume 24% maior.
Além da oferta e o estoque satisfatórios, Maximiliano citou outros fatores que contribuem para a depreciação dos preços do café, como as posições vendidas dos fundos atrelados ao produto no mercado de capitais. O analista vê como fatores que favorecem a baixa futura do preço do café o volume de produção no Brasil – apesar da queda prevista na safra 2019/2020 sobre 2018/2019, em função da bienalidade da cultura, ela ainda assim será grande – e a produção recorde do Vietnã. Como fatores para uma possível alta, Maximiliano cita a ocorrência de anomalias climáticas e geadas, ou produtores desanimando do segmento em função do preço.
O Coffe Summit teve outros palestrantes, entre eles o economista e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que falou sobre os rumos da economia brasileira no novo governo. O evento foi aberto pelo presidente do Cecafé, que disse que a entidade se sente orgulhosa de ver o Brasil fornecer para o mundo um café de alta qualidade. O conteúdo das discussões do encontro teve como foco a qualidade e a sustentabilidade que, segundo Carvalhaes, também são pilares do trabalho da entidade, que comemora seus 20 anos de fundação em 2019.