São Paulo – O clima brasileiro e de países vizinhos está ameaçado com o desmatamento da Floresta Amazônica, principalmente por causa do ciclo das chuvas. Essa é uma das conclusões do Projeto Rios Voadores, que tem patrocínio da Petrobras e da Agência Nacional de Águas (ANA) e foi divulgado esta semana pela estatal do petróleo.
De acordo com dados do projeto, existe uma forte recirculação de água entre a superfície e a atmosfera, causada pela transpiração das plantas que compõem a floresta, o que contribui para os altos níveis de precipitação na Amazônia, que chegam a ultrapassar 2.400 mm/ano. Por isso, a destruição da floresta provoca alterações ainda difíceis de quantificar.
O coordenador do projeto, Gerard Moss, que já fez 12 viagens sobrevoando o Brasil em um avião monomotor, explicou que uma árvore de grande porte coloca cerca de 300 litros de água por dia na atmosfera e sua retirada não atinge somente a Amazônia, mas todas as outras regiões para onde essa água é transportada pelos ventos. “Tivemos no Brasil cerca de 600 mil quilômetros [quadrados] de terras desmatadas nos últimos 30 anos. Ainda não sabemos mensurar com precisão o impacto sobre o clima”, afirmou o pesquisador em nota divulgada pela Petrobras.
As informações levantadas pela equipe do projeto têm como objetivo tentar mostrar até que ponto o desmatamento da região amazônica poderá afetar o clima brasileiro, e como tal degradação pode alterar o ciclo de distribuição e circulação das águas na natureza. "O objetivo é entender melhor o trajeto percorrido por esses verdadeiros rios voadores, que viajam sobre nossas cabeças e podem ter volume maior que a vazão de todos os rios do Centro-Oeste, Sudeste e Sul", disse Gerard, que recolheu na última expedição cerca de 500 amostras de vapor d’água em diferentes camadas atmosféricas, entre 500 e 2 mil metros acima do nível do mar.
Para recolher as amostras, existe um coletor externo instalado no avião que capta o ar ambiente e o direciona para um tubo de vidro, que é resfriado em gelo seco a 80ºC negativos, permitindo condensar a umidade em uma gota dentro do tubo. As amostras são analisadas no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), em Piracicaba, interior de São Paulo. Com base nas propriedades dessa gota d’água são definidos origem, dinâmica e deslocamento da água carregada pela massa de ar.
Estudos do coordenador científico do projeto, Enéas Salati, revelaram que 44% do fluxo de vapor d’água que penetra na região amazônica vindo do Oceano Atlântico condicionam o clima da América do Sul e atingem as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A descoberta foi fundamental para a elaboração do projeto, que pretende aproximar a população dos grandes centros urbanos das questões relacionadas ao meio ambiente.

