Isaura Daniel e Marina Sarruf, enviadas especiais
Brasília – Empresários em grupos ou aos pares falando árabe, espanhol, português, inglês e até francês. Era esse o cenário do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, ontem, durante o primeiro dia do encontro empresarial. O evento ocorre paralelamente às atividades da cúpula de países árabes e sul-americanos. Nas conversas, perguntas sobre leis para investimentos estrangeiros, sobre produtos e serviços de maior demanda em cada um dos países.
Era o início do movimento da iniciativa privada árabe e sul-americana para cumprir um dos objetivos da cúpula: aumentar o relacionamento comercial entre as duas regiões. Os brasileiros começaram o dia com meta estipulada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan: elevar a atual corrente comercial do país com as 22 nações da Liga Árabe dos atuais US$ 8,2 bilhões anuais para US$ 15 bilhões em três anos.
O ministro do Comércio e da Indústria da Argélia, Hachemi Djaaboub, também deu seu recado aos empresários que participaram da solenidade de abertura do Encontro Empresarial. "Através de vocês, empresários e investidores, a idéia (da integração da América do Sul e países árabes) poderá sair do plano político", afirmou. "Espero que vocês possam estabelecer joint-ventures pelo bem comum das duas partes", disse.
Nos corredores do centro de convenções, o argelino Mourad Louadah, presidente da empresa Simed Internacional, da área agroalimentar, começava a cumprir a determinação do ministro do seu país. Louadah procurava parcerias com empresas brasileiras na área agrícola. A companhia dele trabalha com importação de alimentos. "Queremos levar investidores brasileiros para o setor agrícola da Argélia. Temos uma agricultura forte na Argélia", afirmou à ANBA.
A Simed importa carnes, açúcar e café da Itália, França, Espanha, Polônia, Islândia, China e Malásia e pretende começar a comprar também do Brasil. Os produtos brasileiros, na verdade, já são adquiridos pela empresa via Europa, mas o presidente da companhia quer passar a comprar direto do Brasil.
Paraguaios e brasileiros
O paraguaio Felipe Osvaldo Benitez, sócio da Inagasa, indústria agrícola fundada há seis meses, era outro empresário que circulava atrás de parceiros comerciais. A empresa dele vai começar a produzir água mineral e tem intenção de vender para os árabes, chilenos e bolivianos. A Inagasa já fabrica azeites e pretende começar a produzir também biodiesel. De acordo com Benitez, os países árabes compram água dos países europeus.
A Beauty of Brazil, empresa brasileira, também estava no local em busca de compradores para os seus produtos, cosméticos com essências da Amazônia. A empresa foi fundada em 1986 e pretende começar a exportar neste ano de 2005, de acordo com o consultor de exportações da Beauty, Paul Anderson.
A Câmara de Exportadores de Santa Cruz (Cadex), da Bolívia, trouxe entre 10 e 15 empresários do país para o encontro. De acordo com o gerente geral da Cadex, Juan Manuel Arias Castro, o objetivo é conhecer melhor os países árabes. Segundo Castro, os bolivianos não exportam mais que US$ 25 milhões ao ano para as nações árabes. "Não tenho dúvida que este encontro vai ajudar a aumentar as exportações", afirmou. A Bolívia produz desde soja até produtos têxteis, minerais, couros e açúcar.
Empresários da Tunísia transitavam pelo encontro interessados em formar parcerias na área de tecnologia. "Estou aqui em busca de empresas brasileiras interessadas em formar parcerias para exportar tecnologia para a Europa", afirmou o diretor da Divisão de Promoção e Tecnologia Avançada da Agência de Promoção de Investimentos Externos, Noureddine Zekri.
Atenção disputada
Parte dos 34 países integrantes da cúpula também fizeram dos seus estandes, na feira de investimentos, que ocorre dentro do encontro empresarial, um chamariz para investidores estrangeiros. É o caso da Argentina, que trouxe para a feira organismos de atração de capitais estrangeiros, como a Agência de Promoção de Investimentos e Turismo e a Agência de Desenvolvimento de Investimentos. De acordo representantes das agências, a grande procura foi por fornecedores argentinos das áreas agroindustrial, como lácteos, têxteis e madeiras.
No estande da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB) vários empresários buscaram informações sobre os mercados árabe e sul-americano. Queriam saber das oportunidades para seus produtos, desde agrícolas e cosméticos até água, móveis e serviços de segurança. Em torno de 50 pessoas passaram pelo estande.
Ontem também ocorreu uma série de palestras no Centro de Convenções. Hoje, a feira de investimentos continua e o seminário também. O encontro entre empresários termina amanhã. De acordo com o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Mario Vilalva, a participação dos empresários está dentro das expectativas. "As salas de palestras estão cheias. Também nos hotéis há árabes e sul-americanos se encontrando", afirmou. De acordo com o Itamaraty, 1.250 empresários estavam inscritos, até ontem, para o encontro.