Cairo – A última reunião de altos funcionários dos países árabes e sul americanos antes da próxima cúpula de chefes de estado e de governo das duas regiões ocorreu na semana passada no Cairo, capital do Egito. Foram dois dias de trabalho que contaram com a participação de delegações de quase todas as nações envolvidas, com exceção da Somália e do Suriname. A cúpula será realizada no início de abril em Doha, no Catar.
A delegação brasileira foi chefiada pelo embaixador do Brasil no Cairo, Cesário Melantônio Neto, e teve a presença de cinco membros, entre eles o diretor do Departamento de Mecanismos Regionais, Gilberto Moura, e a chefe da Divisão de Seguimento de Cúpulas, Ivanise Maciel, ambos do Itamaraty.
Os trabalhos se concentraram na preparação da minuta da declaração final de Doha, que ainda precisa ser aprovada pelos chanceleres dos dois blocos durante reunião no Cairo no começo de março. “O documento está praticamente pronto. Embora os grupos árabe e sul-americano estejam de acordo sobre os 77 parágrafos de seu conteúdo, ainda é possível que haja alguma retificação em nível ministerial”, explicou o delegado permanente do Egito na Liga Árabe, embaixador Hazem Khairat, que participou do encontro.
Ele garante, no entanto, que as relações entre os países dos dois blocos se destacam pela fluidez nos trabalhos e pela facilidade com que eles chegam a acordos durante as reuniões. “Isso raramente ocorre em eventos que envolvem um número tão grande de países, como é o caso dos 34 que fazem parte da cúpula e dos 32 presentes neste encontro”, ressaltou Khairat, acrescentando que o lado árabe está bastante otimista quanto à perspectiva de uma aproximação cada vez maior com os países sul-americanos.
O documento estipula a criação e o fortalecimento de mecanismos de trabalho conjunto e cooperação entre os dois blocos numa gama variada de setores, como economia, comércio, ciência e tecnologia, meio ambiente, energia, educação, cultura, turismo e na área social.
Segundo Gilberto Moura, além da cooperação nas áreas já tradicionalmente discutidas, os dois blocos estão explorando a questão do aprimoramento da infraestrutura de serviços. “Isso diz respeito às grandes obras que contribuiriam para a intensificação da cooperação na área comercial e em todas as outras. Dentre estas, poderíamos identificar a construção de aeroportos, o aumento de conexões aéreas entre as duas regiões ou a construção de novos portos”, disse Moura.
De acordo com ele, o aumento do número de linhas aéreas é uma preocupação compartilhada pelos árabes e sul-americanos. “A companhia área dos Emirados [Emirates Airline] já funciona entre Dubai e São Paulo e seus vôos estão sempre cheios. A Catar Airways está também prevendo a possibilidade de uma linha entre as duas regiões. Existe também a possibilidade que o próprio Egito o faça”, declarou Moura.
Outra área que interessa muito tanto os árabes quanto sul-americanos é a do aprimoramento da cooperação na área de recursos hídricos e luta contra a desertificação. “Varias reuniões entre os dois grupos já foram feitas, como a de Recife em agosto do ano passado, que preparou a reunião de ministros responsáveis pela questão de recursos hídricos, que ocorreu em Riad em novembro de 2008”, afirmou Moura, acrescentando que “esta é uma área onde identificamos inúmeros projetos concretos, como o do monitoramento ambiental através da utilização de um satélite chinês ou a de dessalinização de água do mar”.
Um maior envolvimento diplomático do Brasil e dos países sul-americanos na ajuda à Palestina está assumindo dimensões cada vez mais importantes. “O Brasil é um dos países que mais busca evidenciar a importância da cooperação Sul-Sul em diversos fóruns, por essa razão acreditamos que já somos amigos naturais desta região e gostaríamos de contribuir com inúmeros projetos concretos de ajuda à população palestina, sobretudo os jovens. Por isso pensamos que a idéia da criação de um centro esportivo poderia ajudar a formar, gerar trabalho e integrar os jovens palestinos no processo de reconstrução de seu país”, concluiu Moura.