Geovana Pagel e Marina Sarruf *
São Paulo – "Os mercados dos países árabes representam uma grande oportunidade para as indústrias brasileiras e nós precisamos trabalhar de forma sistemática, organizada e estruturada este mercado", declarou Pier Carlo Sola, diretor-geral do Porto Digital, espécie de Vale do Silício brasileiro, localizado em Recife (PE), durante a Feira de Tecnologias Emergentes, em São Paulo. O evento acontece paralelamente à 11ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
"Os países árabes, possivelmente, são algumas das melhores oportunidades de negócios", afirmou. Segundo ele, O Porto Digital, vai, num primeiro passo, mapear esses países; num segundo estabelecer contato físico com os árabes e num terceiro começar a estruturar a oportunidade de negócio. "Quero estruturar este trabalho com o apoio da Câmara (Árabe-Brasileira), ainda este ano. E ter o primeiro e o segundo passo completos até o final de 2004", afirmou.
O parque tecnológico Porto Digital reúne 68 organizações do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), distribuídas em mais de 20 mil metros quadrados de áreas recuperadas do centro histórico do Recife. O projeto, que gera 1,6 mil empregos, também abriga vários centros de excelência e recebe apoio de empresas nacionais e multinacionais de TI e telecom.
Em sua apresentação para um grupo de investidores, Sola mostrou porque o estado de Pernambuco é destaque em inovação tecnológica. "Atualmente o estado é o maior pólo de formação de capital humano, pesquisa e desenvolvimento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país", afirmou.
Pernambuco abriga 17 instituições que formam profissionais de TIC, possui quatro universidades e tem o Centro de Informática entre as cinco melhores instituições de ensino da área da América Latina.
De acordo com o diretor, a missão do Núcleo de Gestão do Porto Digital, fundado em 2000, é estruturar, gerir e fazer crescer no estado de Pernambuco um ambiente de negócios de classe mundial, baseado nas tecnologias da informação e da comunicação, por meio da integração e cooperação entre governo, universidade, iniciativa privada e organizações do terceiro setor.
"O Porto Digital possui a característica de ser a primeira iniciativa no mundo de instalação de um centro tecnológico num sítio histórico, e essa implantação está associada, diretamente, à ocupação de áreas de expansão urbana", explicou.
Política industrial
O diretor do Porto Digital contou que, no início deste ano, o parque tecnológico foi visitado pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, e pelo Ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos.
"O Brasil não tem uma política de software. Nós fomos envolvidos pelo próprio ministro na formulação de algumas sugestões para implementar a política industrial do governo(lançada no dia 31 de março), no que se refere à nossa área de software", explicou Sola.
Segundo ele, o documento com a proposta de utilização de recursos que possam ser destinados para o setor, no futuro, já foi encaminhado. "Estamos aguardando uma convocação do ministro para ter uma análise conjunta dele e do presidente do BNDES", contou.
Meta de US$ 2 bilhões de exportações
De acordo com Sola, a meta de exportações brasileiras de software para 2007 é de US$ 2 bilhões. "Para alcançar os nossos objetivos é preciso mudar a ordem de grandeza dos investimentos previstos", afirmou.
Segundo ele, para que esta meta de exportações seja atingida serão necessárias 100 mil pessoas dedicadas exclusivamente para o desenvolvimento de software para o mercado externo. "E tem de ser 100 mil pessoas muito boas para competir no mercado. Os melhores profissionais", ressaltou.
O ministro Eduardo Campos, também presente na Unctad, afirmou que, em relação aos países árabes, já há negociações embrionárias para cooperação na área de software. Segundo ele, há possibilidade de negócios também nas áreas de petróleo, geração de energia e dessalinização da água.
De acordo com o ministro, há muita demanda por parte de representantes de países em desenvolvimento, participantes da Conferência da ONU para cooperação científica e tecnologica com o Brasil. "Essa cooperação é fundamental para nós no âmbito da política industrial lançada pelo governo", afirmou.
Campos disse ainda que o Brasil tem experiências exitosas na área de tecnologia de ponta. Segundo ele, outra oportunidade que ficou clara durante a Unctad é na área de tecnologias intermediárias.
"Muitos países em desenvolvimento, especialmente aqueles menos desenvolvidos, têm no Brasil uma opção de transferência de tecnologia com as quais os países ricos não trabalham mais", explicou. Como exemplo, o ministro citou o tratamento da malária, doença erradicada nos países desenvolvidos.
Já nos países em desenvolvimento, segundo Campos, a demanda maior é pela troca de experiências nas áreas de petróleo, energias renováveis, satélites, principalmente climáticos, entre outros.
* Colaborou Alexandre Rocha

