São Paulo – O esforço de diversificação econômica nos países árabes, que tentam diminuir a dependência do petróleo, abre várias oportunidades para a indústria brasileira de construção. Esse foi um dos destaques apresentados nesta quarta-feira (01) a empresários do segmento no workshop Casa & Construção, realizado na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista.
“Os países árabes, principalmente do Golfo, têm procurado diversificar as economias, sair da dependência do setor petrolífero”, disse o coordenador de Gerenciamento de Informações da Câmara Árabe, Marcus Vinícius (foto acima). Ele citou áreas que são foco de investimento em função disso, como infraestrutura de portos e turismo.
No Norte da África, há muitos países árabes em pleno desenvolvimento, o que também tem gerado demanda por serviços e produtos em construção. A executiva de Negócios da Câmara Árabe, Fernanda Baltazar, citou Mauritânia, Marrocos, Tunísia, Líbia, Egito e Djibuti como países que passam por esse estágio e onde há oportunidades.
Somados a esses fatores, ainda há outros que apontam um caminho promissor para a construção no mercado árabe, como o déficit habitacional que cria alta demanda por moradias e os grandes eventos que vão ocorrer na região nos próximos anos, tais como Expo 2020, exposição mundial que Dubai sediará de outubro de 2020 a abril de 2021, e a Copa do Mundo 2022, prevista para ocorrer no Catar daqui quatro anos.
Marcus apresentou o tamanho do mercado árabe, com uma população somada de 406 milhões de pessoas, um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 2,5 trilhões e o fato de abrigar 60% das reservas de petróleo do mundo.
O coordenador citou o montante de importações de produtos voltados para construção nos países árabes. Na área de rochas ornamentais, por exemplo, os produtos mais importados são mármore, travertino e albastro de superfície lisa, com US$ 560 milhões comprados em 2016. O Brasil, porém, vende principalmente granitos, com US$ 9 milhões exportados no mesmo ano.
Na área de revestimentos cerâmicos, os árabes compram principalmente ladrilhos vidrados e esmaltados do mundo, com US$ 2 bilhões em 2016. O Brasil exportou o produto para eles no ano, mas foram apenas US$ 3,3 milhões. Em material de construção, o mercado árabe compra principalmente tubos e perfis ocos de ferro fundido, com US$ 622 milhões importados em 2016. O Brasil vendeu principalmente pás de metais para eles, com US$ 2,4 milhões.
Fernanda Baltazar afirmou que no Norte da África, o Brasil já tem uma porta aberta por ser reconhecido por bons produtos e serviços em construção. “O Brasil está lá presente, historicamente esteve, realizou construções importantes, e isso é uma porta de entrada, facilita que os senhores estejam lá”, disse Baltazar.
Ela citou ainda como atrativos para vender aos mercados árabes da África o fato de eles terem saída para o mar, parcerias e acordos com países do Golfo e Europa e de muitos serem espelhos para economias próximas, caso do Djibuti com a Etiópia. O crescimento médio anual da economia dos países é de 5% a 6%, de acordo com Baltazar.
A executiva falou que o governo da Argélia tem fomentado o desenvolvimento da infraestrutura e trabalhado para diversificar a economia. Ela falou também sobre o Egito, que vive nova fase pós Primavera Árabe, com retomada do turismo, política de atração de investimentos, construção de nova capital administrativa e de moradias para classes de rendas baixa e média. O Sudão também tem, segundo ela, muitos projetos voltados para infraestrutura em andamento.
O analista de Negócios Internacionais do Golfo Arábico da Câmara Árabe, Thiago Ramirez, apresentou ao público alguns dos principais projetos de construção em andamento na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, e deu os nomes das principais construtoras de cada país.
A Câmara
Dentro desse universo de oportunidades, o assessor para Assuntos Estratégicos da Presidência da Câmara Árabe, Tamer Mansour, falou do esforço adicional que a entidade está fazendo e planejando para ajudar seus associados a entrar nestes mercados, como divulgação de informações e licitações e promoção de missões empresariais. “Há muitas oportunidades, é importante saber qual é a entrada.”
O encontro foi aberto pelo diretor-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, que apresentou o trabalho da entidade e deu detalhes sobre como atuam os seus diversos departamentos. Ele lembrou de fatos das relações entre o Brasil e países árabes acompanhados ou protagonizados pela instituição, como a primeira exportação de frango halal do Brasil, em 1979, o primeiro encontro de chefes de estado árabes e sul-americanos em 2005, e mais recentes, o Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, realizado pela Câmara Árabe neste ano, em São Paulo, com mais de 700 pessoas.
Em busca de oportunidades
As empresas representadas no encontro são companhias interessadas em entrar ou ampliar presença no mercado árabe de construção. É o caso da Tigre, que enviou a sua executiva de Vendas Internacionais, Patricia Soares. A empresa já exporta tubos e conexões para a região, mas quer vender também ferramentas para pintura. “Existe demanda para nossos produtos lá. Qualquer país em expansão tem demanda para nossos produtos”, disse.
O gerente comercial da CS3 Mármores e Granitos, Kleberson Secchim, esteve no workshop em função do interesse de exportar para o mercado árabe. “O workshop acendeu um farol para as oportunidades que existem nos países árabes”, disse Secchim à ANBA, acrescentando que o mercado árabe já estava no foco da empresa.
Fabricio Rolim, da área de Negócios Internacionais da Câmara Árabe, esteve no encontro porque acredita que a Câmara Árabe é fundamental para fazer um meio de campo no relacionamento da empresa com o mundo árabe.
A Câmara Árabe divulgou alguns eventos nos quais promoverá a participação de empresas brasileiras nos próximos meses, como a Feira Internacional de Damasco, na Síria, em setembro, a Feira Middle East Stone Fair, também setembro nos Emirados, uma missão empresarial para a Argélia em outubro e uma missão empresarial para o Catar em dezembro.