Juazeiro, Bahia – Suemi Koshiyama nasceu no Japão e chegou com a família ao Brasil em 1960, aos cinco anos. Já como produtor rural, deixou Mogi das Cruzes, em São Paulo, em 1983 e, em parceria com a Cooperativa Agrícola de Cotia, outra cidade de São Paulo, instalou-se no Vale do Rio São Francisco. Trocou a energia elétrica da capital paulista pela lamparina do sertão em uma região que começava a crescer como produtora de frutas graças a incentivos da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
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A “aposta” de Koshiyama se tornaria a Special Fruit, uma das empresas do Vale do Rio São Francisco que produz e exporta mangas, uvas e melões. “Todos os dias do ano colhemos uva fresca. Isso só acontece aqui, no Vale do São Francisco. É um privilégio de clima e da água do Rio São Francisco. Com isso, Juazeiro e Petrolina se tornaram os maiores exportadores de uva e manga do Brasil, para o mundo todo”, diz o empresário. Assim como as uvas, na região do Vale do Rio São Francisco as mangas podem ser colhidas o ano inteiro.
A empresa tem 1.100 hectares de plantações de árvores frutíferas em cinco fazendas. Em 2023, faturou R$ 300 milhões, dos quais 70% procedentes da exportação para 36 países. De acordo com o gerente de Exportações, Joney Rodrigues, 39% do que a Special Fruit exporta vai para Europa e 20% para América do Norte.
Para Oriente Médio seguem 9% das vendas, que estão em crescimento. A empresa tem nos Emirados Árabes Unidos o principal cliente. Koshiyama diz que a maior parte dos embarques aos Emirados é feita por grandes redes de supermercados e que isso é reflexo da pandemia, quando apenas os supermercados estavam abertos e passaram a fazer as compras diretamente no produtor. Essa mudança no perfil do “comprador” também obrigou as empresas a ampliar seus processos produtivos e as certificações.
A Special Fruit, assim como outras produtoras de mangas do Brasil, enfrenta, contudo, concorrência de quem está mais perto e de quem produz ainda mais do que o Brasil. O Peru, por exemplo, é um grande competidor no mercado de mangas no fim do ano, quando sua safra chega à Europa a preços baixos. A própria Europa produz manga. A colheita espanhola de manga, por exemplo, abastece o continente durante parte do ano. O Brasil, embora tenha disponibilidade das frutas todos os meses, precisa encontrar as oportunidades de mercado para vender.
Concorrência para chegar aos Emirados
Para os árabes, explica Rodrigues, a “janela” de exportação ideal é nos meses de agosto, setembro e outubro, quando grandes produtores da África, como Senegal e Costa do Marfim, já não estão mais colhendo mangas.
Outro desafio é o tempo de transporte. Por via marítima, diz Rodrigues, é praticamente inviável exportar as mangas para o Oriente Médio porque as frutas podem estragar antes do prazo de entrega ao cliente, entre 35 dias e 40 dias a partir do Brasil. As uvas são um pouco mais resistentes, pois, diferentemente das mangas, param de amadurecer assim que são colhidas.
“O trânsito marítimo para o Oriente Médio é de 35 a 40 dias. Para manga é inviável, para uva ainda chega no limite. Os mercados de alto valor, principalmente para exportação de manga são [por via] aérea. É esse [meio de envio] que perseguimos para aumentar exportação para Oriente Médio e Ásia”, afirma Rodrigues.
O jornalista viajou a convite da CNA