Doha – Era por volta de 19 horas em Doha e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, já havia anunciado a Rússia como sede da Copa do Mundo de 2018. A reportagem da ANBA seguia de táxi do shopping City Center, o mais popular da cidade, em direção ao Souq Waqif, mercado repleto de lojas e restaurantes e ponto de encontro de turistas e locais, quando começou um buzinaço e uma imensa carreata se formou praticamente do nada: o Catar tinha sido escolhido para receber o mundial de futebol de 2022.
Enormes utilitários esportivos, um dos meios de transporte preferidos no país, tomaram as ruas pilotados por jovens, com mais jovens sentados nas janelas, nas capotas dos carros e nas caçambas das caminhonetes, quase sempre falando ao celular. Em um país movido a combustíveis fósseis, as manifestações populares, especialmente as esportivas, são motorizadas.
No souq, cheio de gente, foi armado um grande telão para a população assistir à cerimônia de anúncio das sedes dos mundiais que vão ocorrer após a Copa do Brasil, em 2014. Tudo – o evento da Fifa e a concentração na praça – transmitido ao vivo pela rede de TV catariana Aljazeera.
Em meio aos nativos e estrangeiros – a maior parte da população do Catar é formada por trabalhadores expatriados -, não demorou muito para que as vuvuzelas começassem a soar, no melhor estilo do mundial da África do Sul, realizado este ano. Nas vielas do souq, homens, mulheres e crianças portavam bandeiras, echarpes e camisetas em roxo e branco, as cores da bandeira do país.
“Mabrouk”, que quer dizer “parabéns” em árabe, era a palavra mais ouvida. “Parabéns para o Catar”, disse Ibrahim, um senhor de idade que comemorava junto à multidão. “A felicidade é minha e de toda a cidade”, ressaltou, acrescentando que já esperava que seu país fosse escolhido para receber a Copa de 2022.
O emir Hamad Bin Khalifa Al Tani, que estava na cerimônia da Fifa, não poupou esforços financeiros e políticos para trazer ao seu país o mais popular evento esportivo do mundo.
O governo catariano prometeu construir estádios suntuosos cujas formas remetem a símbolos tradicionais da região, como a ostra, para lembrar a pesca de pérolas, e o “dhow”, embarcação de madeira até hoje muito usada no Golfo. Até ar-condicionado as arenas vão ter, para aliviar o calor escaldante que faz no Catar no verão.
Foi feita extensa campanha de marketing. Doha está cheia de imensos outdoors sobre a candidatura. Camisetas, bonés, faixas e toda a parafernália promocional está à venda ao redor da cidade. Bandeiras do país e anúncios da participação nacional na disputa pelo mundial estão espalhadas pelas ruas.
Não chega a ser o clima que ocorre no Brasil em época de Copa, afinal a cultura catariana é bem mais contida e conservadora, mas uma coisa os dois países têm em comum: a paixão pelo futebol.
“[A Copa] vai ser pela primeira vez no Oriente Médio!”, exclamou o jovem Ibrahim Al Mansouri, que assistia à manifestação no souq. “Até agora não caiu a ficha, vai levar algumas semanas para eu me acostumar com a ideia”, afirmou ele, em árabe. A reportagem teve o auxílio do tradutor da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Saleh Hassan, para fazer parte das entrevistas.
“Hoje ninguém dorme”, ressaltou Mansouri. De fato, o engarrafamento formado ao longo das largas avenidas de Doha entrou noite adentro. A Al Corniche, a avenida beira-mar, estava intransitável.
O rapaz não quis arriscar quem ele acha que pode vencer a Copa de 2022, mas disse que, com certeza, a Seleção do Catar vai estar mais bem preparada do que hoje. “Inshaallah (se Deus quiser)”, concluiu.
Já o policial Omar disse que estava muito feliz com a escolha de seu país e que tinha “80% de esperança” na vitória. Sobre quem será o favorito para vencer o mundial do Catar, ele foi enfático: “O Brasil”.
Esporte da terra
Fora da festa havia também certa indiferença. Os vendedores do souq tocavam seus negócios, afinal quinta-feira é véspera de final de semana no Catar e, mesmo sem a Copa, o local fica cheio.
O jovem Taleb estava mais interessado em outro tipo de esporte. Ele visitava uma loja de falcoaria, que vende animais e equipamentos para o adestramento de falcões, prática popular no Golfo.
Taleb contou que o falcão mais caro do ano foi vendido por 250 mil riais, algo como R$ 125 mil. Mas esta era uma ave local e, segundo ele, o preço varia muito dependendo do animal e da origem. Pode custar, afirmou, de 25 mil a 50 mil riais, por exemplo. Mas, questionado se estava feliz pela escolha do Catar como sede da Copa, o rapaz logo exclamou: “Claro!”