São Paulo – O brasileiro Paulo Rebello é doutorando em Ciência Política pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Sua pesquisa é voltada às relações entre o Brasil e o Oriente Médio, com foco nas monarquias do Golfo, principalmente Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Omã.
Rebello nasceu em Vila Velha, no Espírito Santo, mas se considera praticamente brasiliense por ter vivido boa parte de sua vida na capital federal. Cursou História na Universidade de Brasília (UnB) e lá também trabalhou na Embaixada dos Emirados Árabes Unidos por quatro anos, antes de iniciar a pesquisa em Salamanca, em setembro do ano passado.
O doutorado deve terminar em 2025, e agora, ele pretende iniciar a fase de pesquisa de campo. Ele volta ao Brasil para fazer algumas entrevistas e deve passar algum tempo no Oriente Médio, entre Líbano, Israel, Palestina, Omã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
“Aqui [na Universidade de Salamanca] não tem uma tese de doutorado com um único tema. O sistema europeu incentiva a escrita de artigos que tenham a ver com um tema central”, contou Rebello à ANBA por videochamada.
Rebello deverá produzir cinco artigos para a conclusão do doutorado. “Três [artigos] já têm temas definidos, e todos envolvem o Brasil em perspectiva comparada. O primeiro eu já escrevi, foi sobre Emirados Árabes Unidos e América Latina. Outro que já está sendo encaminhado será sobre o BRICS, como o BRICS pode atuar como ponte para a construção da paz no Oriente Médio. Enxergar o Brasil como o principal ator do Sul Global é fundamental”, declarou.
“O terceiro artigo é sobre o Brasil como mediador, no caso, nas questões do Irã, e Israel e Palestina. São pesquisas que já estão sendo realizadas aqui na Universidade de Salamanca em cooperação com outras universidades europeias”, disse.
Rebello explicou que um dos aspectos da pesquisa é demonstrar as questões tangíveis das relações com os países árabes e que ele investiga também o poder legislativo. “Aí o escopo aumenta um pouco, pegando a questão da Palestina, Israel, Líbano. Ao analisar o posicionamento de alguns deputados e senadores [brasileiros], é possível mapear o interesse dos setores políticos com os países árabes e como eles são moldados ao longo do tempo, afinal se tem uma renovação do legislativo a cada quatro anos”, disse.
A partir disso, o pesquisador busca mapear quais são os senadores e deputados mais ativos na construção das relações com os países árabes, a partir de discursos, votações e participações em eventos, que são questões tangíveis. “Assim, você consegue entender que existe um grupo no legislativo que reflete os interesses dos países árabes, que é o chamado lobby. E trazer para o âmbito internacional. Então você pega isso e leva para uma questão mais teórica, que é a análise de discurso. Então você pega essa análise tangível e leva para o mundo das ideias. Isso é mais positivo para quem? Quem iniciou isso? Por que se iniciou isso? Então são várias perguntas que eu tento responder e apresentar”, declarou o doutorando.
Paulo Rebello também é analista político e investiga temas como política externa brasileira, segurança internacional e política comparada. Sua mais recente publicação foi uma análise sobre o terceiro mandato de Lula em um site acadêmico sobre temas da América Latina.