Alexandre Rocha
São Paulo – O especialista em comércio exterior Joseph Tutundjian, que tem mais de 20 anos de experiência no setor, dá aos empresários brasileiros interessados em exportar para o mundo árabe dicas de quais os produtos se adequam mais a determinados países.
Tutundjian diz, por exemplo, que vale mais a pena vender mercadorias com pouco valor agregado, commodities, matérias-primas e produtos siderúrgicos para nações que têm economias mais centralizadas, como a Argélia, a Líbia e o próprio Iraque. Ao passo que bens de consumo devem ser oferecidos a países com economias mais abertas, como o Egito e a Arábia Saudita.
"O mercado árabe é extremamente interessante para o empresário brasileiro explorar, mas é preciso ter dois tipos de aproach estratégico. Produtos exportados em grande volume, como commodities e siderúrgicos, são mais indicados para países com economias mais centralizadas", explica. "Já para bens de consumo, como móveis calçados etc., o empresário deve considerar, além destes países, outros de economia mais aberta, como o Egito e a Arábia Saudita", disse Tutundjian, que foi presidente da Cotia Trading, maior empresa de comércio exterior do Brasil.
Isso porque, em economias mais fechadas, as compras são unificadas, geralmente, nas mãos do governo, que lança mão de concorrências internacionais e acaba obtendo a mercadoria de um único fornecedor. Como produtos primários bem aceitos nesses lugares, Tutundjian cita açúcar, soja, sorgo e café.
Fogões e geladeiras
Na outra ponta, Tutundjian avalia que o país que tem o maior potencial de absorver produtos de valor mais agregado é a Arábia Saudita. "A Arábia Saudita é um grande mercado para essas mercadorias", disse.
Essa regra, porém, não é totalmente taxativa. Para exportar é preciso saber as demandas do mercado de cada país. Tutundjian diz, por exemplo, que na Argélia há espaço para a introdução de bens de consumo da chamada "linha branca" (geladeiras, fogões, lavadoras etc.), pois há um déficit muito grande dessas mercadorias por lá, segundo o especialista.
Mas, na Arábia Saudita, pondera, o empresário brasileiro pode encontrar maiores dificuldades, pois há uma ferrenha concorrência de produtos de Taiwan e da Coréia, lembra.
Como forma de travar um primeiro contato com o mercado árabe, Tutundjian recomenda as feiras de negócios. "Elas são muito importantes, funcionam muito no Oriente Médio. Os árabes adoram participar dessas feiras", afirmou. Tutundjian conta que uma de suas primeiras incursões no mundo árabe foi em uma feira da indústria brasileira em Jeddah, principal centro comercial da Arábia Saudita, no final dos anos 70. Lá, segundo ele, foi exposta uma variedade enorme de produtos, de bicicletas a tecidos.
"Nós vendemos tudo, até as amostras. Voltei para o Brasil com US$ 100 mil no bolso e não sabia nem o que fazer com o dinheiro. Foi o primeiro negócio que fiz na região", contou. O especialista recomenda, porém, que o empresário opte por eventos voltados exclusivamente a produtos brasileiros em vez de feiras "transnacionais".
Produtos pouco explorados
Como bens cuja exportação para o mercado árabe ainda é pouco explorada pelos empresários brasileiros e podem ter boa aceitação, Tutundjian cita tecidos, roupas acabadas, calçados – sandálias, especialmente – e alimentos elaborados, como enlatados e cortes de frango.
Tutundjian considera os países do Oriente Médio como uma alternativa interessante para o exportador. Segundo ele, as vendas externas do Brasil para a região podem crescer na faixa dos 20% nos próximos anos.