Geovana Pagel
São Paulo – Em 1988, após 30 anos de muito estudo, dedicação e paciência, foi lançado o primeiro "Dicionário Árabe-Português-Árabe", produzido de forma totalmente artesanal, no Brasil. “Foi tudo feito a máquina e com papel carbono”, lembra o professor universitário e monsenhor Alphonse Nagib Sabbagh, de 84 anos.
O monsenhor libanês, que veio visitar a família em 1957, "com passagem de ida e volta", segundo ele, acabou ficando no Rio de Janeiro. Dois anos depois, fundou a disciplina de literatura árabe na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de onde se tornou professor-titular. “No início não tínhamos nenhum material de apoio e mesmo assim desenvolvemos diversas apostilas de gramática e de vocabulário”, lembra.
De acordo com Sabbagh, o Centro de Estudos Árabes da UFRJ a cada ano disponibiliza 15 novas vagas. Segundo ele, o principal objetivo é atender os alunos do curso de Letras Orientais, habilitação português-árabe. “Alguns professores e alunos da universidade colaboraram com a organização e ilustração do dicionário”, diz.
O professor conta que na primeira edição saíram 5.000 exemplares com 3.000 verbetes cada, distribuídos pela editora carioca Ao livro técnico, com o apoio da UFRJ. A edição libanesa terá 500 páginas e 30.000 verbetes e vai se chamar "Dicionário Português-Árabe". A obra deve ser lançada pela Librairie du Liban, localizada em Beirute, provavelmente em 2004.
Sabbagh explica que primeiro o dicionário será lançado nos países árabes e depois nos outros orientais. “Mas Portugal, Espanha e Paris também já demonstraram interesse na obra”, afirma.
Editora libanesa
Em 1993, o professor de literatura árabe participou de um congresso em Paris onde conheceu um representante da Libraire, editora especializada na publicação de livros árabes com tradução para todas as línguas do mundo.
“Falei sobre o trabalho desenvolvido no centro de estudos da universidade e da complementação do dicionário. Pouco tempo depois eles entraram em contato comigo para solicitar os manuscritos necessários para a segunda edição do livro”, conta.
O professor faz questão de lembrar como estava organizada a edição brasileira. “Na primeira coluna constava a palavra em árabe, na segunda a pronúncia do árabe em letras latinas, e na terceira coluna, a tradução para o português”, explica. “Na edição libanesa, na primeira coluna vai constar a palavra em português e ao lado a tradução e, quando for o caso, as respectivas expressões árabes”, completa.
Mesmo aposentado, Sabbagh continua a presidir comissões e colaborar com projetos da universidade, em especial com o Centro de Estudos Árabes. “Quem não faz filhos, escreve livros”, brinca o monsenhor.
“Estou desenvolvendo um novo método para ensinar os falantes de língua árabe e preparando outro ensaio do ensino do árabe para os falantes de língua portuguesa”, conta entusiasmado.

