Dubai – O investimento em educação é o principal requisito para que um país seja competitivo na chamada indústria 4.0, termo que designa a atividade econômica que funde o mundo digital, o mundo físico e o mundo virtual, nas palavras do criador do conceito, o suíço Henrik Von Scheel. “Seu telefone tem mais recursos do que o foguete que foi para a lua, tudo está conectado”, exemplificou ele nesta terça-feira (10), no Annual Investment Meeting (AIM), conferência sobre investimentos estrangeiros diretos (IED) que ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. “O mundo virtual é real no mundo digital, que é real no mundo físico”, acrescentou.
Scheel deu palestra e participou de dois painéis do evento. A educação foi citada por quase todos os debatedores como um ingrediente essencial para que um país faça a transição para a indústria 4.0. “É necessário haver um alto nível de pessoas educadas para mantê-la”, comentou Lee Gibson Grant, especialista em criptomoedas e na tecnologia de blockchain. “É preciso dar educação e treinamento para as pessoas para que elas possam assumir um novo tipo de trabalho”, acrescentou.
Isto porque é consenso que o avanço da indústria 4.0 vai acabar com empregos tradicionais, a partir do avanço da automação, da robótica, da biometria, da inteligência artificial e de outras tecnologias. Um bom exemplo atual é o desenvolvimento de veículos autônomos, que pode afetar diretamente taxistas e motoristas em geral. Nesse sentido, as pessoas precisarão ser treinadas para novas funções. “Haverá extinção de empregos, mas não de competências”, comentou a saudita Fatima Al Arabi, gestora e consultora de investimentos e fundadora da Alaf Capital.
Na mesma linha, o chefe da Invest in Finland, agência de promoção de investimentos da Finlândia, Antti Aumo, deu o exemplo de seu país. “A Finlândia tem uma indústria de alta tecnologia, mas há 100 anos era um país pobre e majoritariamente agrícola, neste período nós educamos nossa população e bem”, destacou.
Isso não quer dizer que nação escandinava não tenha enfrentado problemas para se adaptar aos novos tempos. Segundo Aumo, a Finlândia chegou atrasada na transição para a indústria 4.0 e por causa dos altos custos de produção acabou perdendo indústrias para outros países.
“Perdemos 200 mil empregos nos últimos anos em indústrias tradicionais por causa dos custos, isso num país que tem 3,5 milhões de habitantes”, contou. A indústria 4.0 é também um efeito da globalização, então além da integração de plataformas e tecnologias, ela gera competição entre países para atraí-la. “Esta é uma enorme oportunidade para países emergentes”, comentou Scheel.
Portugal é um desses países. “Nas três outras revoluções industriais, Portugal só se deu conta anos depois, agora nós decidimos ser parte da quarta”, disse João Vasconcelos, ex-secretário de Estado para a Indústria do governo português e atualmente assessor sênior da empresa Clearwater International. Ele foi responsável por um programa voltado à indústria 4.0 e startups no país. “Isso foi importante para atrair investimentos e também para reter nossas indústrias tradicionais”, ressaltou.
Vice-secretário-executivo da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e Caribe (Cepal), Mario Cimoli disse que os governos não podem manter a política tradicional de atração de investimentos na indústria 4.0. “Precisamos de novas políticas educacionais, plataformas atuais de tecnologias da informação e telecomunicações, e regulamentação”, destacou.
Jake Zeller, sócio da AngelList, plataforma de investimentos em startups, na mesma linha, recomendou: “Invistam em educação e tenham uma regulamentação favorável às startups”.
Banco Mundial
Antes, o economista sênior de Clima de Investimentos do Banco Mundial, Peter Kusek, apresentou os principais resultados do último Relatório Global de Competitividade em Investimentos da instituição. Ele destacou que os investidores consultados destacaram como fatores relevantes para um país atrair recursos um bom ambiente de negócios e estabilidade política.
“O investimento estrangeiro direto (IED) é bom para o desenvolvimento e é a principal fonte de financiamento externo para muitos países em desenvolvimento”, declarou. “O IED beneficia tanto a economia que recebe quanto a economia que emite”, acrescentou.
Outra constatação do estudo é que investidores de países em desenvolvimento são mais propensos a investir em locais que oferecem riscos maiores. De forma geral, no entanto, os investidores querem proteção legal, liberdade para transferência de capitais e previsibilidade, mas, curiosamente, incentivos fiscais não são fatores dos mais relevantes no cálculo entre risco e retorno.
“Estas constatações valem para todos os países”, afirmou Kusek à ANBA. “O investimento que um país deve atrair, porém, é aquele que busca a eficiência, as exportações e a inovação, que vão ajudar a desenvolver, diversificar e agregar valor à economia”, concluiu.