São Paulo – O setor de educação islâmica foi fortemente afetado pela pandemia de covid-19. A professora doutora Kamola Bayram, da KTO Karatay University (Turquia), falou sobre os impactos da pandemia na economia islâmica e na educação financeira nesta segunda-feira (06), no painel “Balanço do impacto da covid-19 nos principais mercados e análise de competitividade e inovação no halal”, no primeiro dia do fórum de negócios Global Halal Brazil. Trata-se do primeiro fórum halal do Brasil, que ocorre com a promoção da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras Halal).
Kamola Bayram disse que entre os educadores da área de halal e finanças islâmicas, o nível de ansiedade aumentou muito durante a pandemia. “Cerca de 75% dos educadores tiveram dificuldade de conciliar vida pessoal e profissional na pandemia, e 70% nunca tinham dado aulas online antes. A mesma porcentagem, 70%, disse que não gostaria de continuar dando aulas online após o final da pandemia”, disse a professora em sua apresentação. Além disso, 83% dos professores disseram que a preparação para as aulas online consumia mais tempo do que as aulas tradicionais.
Entre os fatores que dificultaram a educação no período, Bayram trouxe ainda outros dados. Segundo a doutora, os educadores ficaram desmotivados por dar aulas online, por ter menos interação com os estudantes, por terem dificuldades técnicas e de infraestrutura, e por ter muito menor participação e envolvimento dos estudantes nas aulas.
“Vimos que 90% dos professores acreditam que os estudantes estão mais propensos a não assistir aulas online, comparado às aulas presenciais; 88% acreditam que os estudantes colam nas provas online; 85% dos educadores acreditam que a tecnologia da informação (TI) deveria ser incluída no currículo escolar das finanças e economia islâmicas; e 84% acreditam que as aulas presenciais são mais eficientes”, completou Bayram.
Para o moderador do painel e gerente de Políticas de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fabrizio Sardelli Panzini, foi importante ela tocar nesse tema da introdução da TI no currículo. “Queria destacar a importância da TI, que é crucial nesse momento. Países como o Brasil, países árabes, países islâmicos têm os mesmos desafios e precisamos estar à frente dessa questão”, disse.
Estudantes
Quanto aos estudantes, Bayram apresentou outros prejuízos que a pandemia causou no ensino. “Houve redução nas oportunidades de emprego para graduados que pretendem entrar no mercado de trabalho; há possibilidade de atrasos no pagamento das mensalidades ou de os estudantes simplesmente não conseguirem mais pagar a faculdade; os governos não conseguem se comprometer com instituições públicas ao nível desejado; e há mudanças no comportamento dos estudantes diante dos programas de ensino”, disse.
Ela trouxe dados de que, entre os estudantes, 52% nunca tinham tido aulas online pré-pandemia; cerca de 60% deles indicaram dificuldades de foco nas aulas, principalmente por distrações como notificações do celular e por questões do ambiente familiar. 42% dos estudantes na pesquisa tiveram dificuldade para se concentrar nas aulas pela falta de interação. 40% dos estudantes não tinham uma infraestrutura adequada em casa para ter aulas online, seja pela conexão de internet ou pela ausência de um computador pessoal. Cerca de 14% dos entrevistados disseram que se sentiram isolados durante a pandemia, e que a maior desvantagem nisso foi a falta de habilidade de discutir tópicos das aulas como eles costumavam fazer nas aulas presenciais.
“Por outro lado, a covid-19 trouxe oportunidades para a educação islâmica, como ter programas conjuntos com outras universidades, ter alunos de intercâmbio nas aulas online, entre outras”, disse Bayram.
Participaram deste painel o vice-presidente de Marketing da Câmara Árabe, Riad Younes, a CEO e cofundadora da OneAgrix, Diana Sabrain, e o chefe do Serunai Halal Centre of Excellence, Mohamed Jabal Bin Abd Rahim. O fórum ocorre com o patrocínio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), BRF, Pantanal Trading, Portonave e Iceport.
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