Cairo – Como parte das medidas para garantir a estabilidade macroeconômica e dar um crescimento sustentável e abrangente ao Egito, o Banco Central do país anunciou nesta quinta-feira (27) a adoção do sistema de câmbio flexível para a libra egípcia em relação às moedas estrangeiras. O objetivo prioritário é que as cotações reflitam as forças da oferta e da demanda. O Banco Central visa estabilidade de preços.
A cotação do dólar no Banco Central do Egito registrou 22,96 libras no dia do anúncio. Nos bancos comerciais, a cotação ultrapassou a barreira de 23 libras, ante 19,70 no final do pregão da quarta-feira (26) e antes mesmo das decisões do Banco Central, publicadas na manhã da quinta-feira. Na foto acima, Hassan Abdullah, governador do Banco Central do Egito.
O Banco Central também confirmou que cancelará gradativamente as instruções emitidas em 13 de fevereiro de 2022 que previam a obrigatoriedade de utilização de cartas de crédito em operações de financiamento de importação. A conclusão do seu cancelamento total deverá ocorrer até dezembro de 2022 e tem como objetivo servir como incentivo à atividade econômica no médio prazo.
O Banco Central do Egito também trabalhará para a construção e desenvolvimento do mercado de derivativos financeiros com o objetivo de aprofundar o mercado de câmbio e elevar os níveis de liquidez em moeda estrangeira. O Comitê de Política Monetária decidiu, em sua reunião extraordinária realizada nesta quinta-feira, aumentar as taxas de depósitos overnight, de empréstimos e a taxa da principal operação do Banco Central para atingir 13,25%, 14,25% e 13,75%, respectivamente.
No mesmo contexto, os mercados de muitas commodities testemunharam um estado de confusão e paralisia no movimento de compra e venda, em antecipação à estabilidade do câmbio. A mudança cambial implica na reprecificação dos produtos, especialmente aqueles são importados, como ouro, automóveis e algumas outras mercadorias não essenciais ao país.
O que diz o setor privado
A reportagem da ANBA no Cairo conversou com exportadores e importadores de diferentes setores. Suas opiniões variaram a respeito da extensão do impacto que a decisão terá sobre o movimento do comércio e o tamanho do aumento esperado da inflação geral e dos preços de commodities básicas.
Sherif El Sayad, chefe do Conselho de Exportação das Indústrias de Engenharia do Egito, destacou a necessidade de expandir as exportações no próximo período paralelamente às decisões. Ele acha importante aumentar o número de exportadores de forma a ultrapassar 20% das empresas que atuam no Egito. Salientou também a necessidade de elevar a exportação de cada empresa para ultrapassar 40% de capacidade produtiva, garantindo a continuidade da produção e atraindo a moeda forte necessária para importar matérias-primas. Al-Sayad ressaltou que a liberalização cambial era esperada, diante das mudanças globais, e prevê a continuidade das oscilações do dólar nos próximos dias.
O engenheiro Matti Bishai, chefe da Comissão de Comércio Interno da Divisão Geral de Importadores da Federação Geral das Câmaras de Comércio do Egito, destacou o grande impacto do aumento da taxa de câmbio nas transações bancárias no país, especialmente para a indústria de alimentos. Nos últimos tempos, o Egito testemunhou um boom do dólar e o surgimento do mercado paralelo “negro” da moeda. Ele afirmou que a maioria das commodities teve grandes altas no último período, como resultado da expectativa de alta da taxa de câmbio e, portanto, um grande número de setores comerciais não viverá grandes impactos em decorrência dessa mudança na taxa de câmbio.
Em relação às recentes decisões do Banco Central de cancelar a exigência de créditos documentários para importações de até US$ 500 mil em vez de US$ 5 mil, ele afirmou que levará a uma grande aceleração na saída de mercadorias empilhadas nos portos e, consequentemente, haverá um boom de bens e o fornecimento de produtos em falta no mercado ou que registaram um déficit no último período.
Acordo com o FMI
Depois que o Banco Central do Egito anunciou que havia tomado um conjunto de decisões, entre as quais a flexibilização do câmbio e o aumento das taxas de juros, o governo egípcio revelou que havia chegado a um acordo para obter um empréstimo de US$ 9 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI). O recurso servirá para financiar o orçamento egípcio.
O Ministério das Finanças do Egito, por intermédio do ministro Mohamed Maait, anunciou a implementação de um pacote de programas de proteção combinados totalizando 67 bilhões de libras egípcias anuais, a partir de novembro próximo. O principal objetivo é fornecer um pacote de proteção social e apoio aos cidadãos à luz das mudanças globais atuais.
Traduzido do árabe por Georgette Merkhan