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São Paulo – O Brasil e o Egito devem trabalhar para acelerar as desgravações de produtos previstas no acordo de livre comércio que o país árabe assinou com o Mercosul. A vontade foi manifestada por participantes de um fórum que ocorreu na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista, nesta sexta-feira (08) pela manhã, com a presença de representantes de órgãos de promoção comercial do pais árabe e empresários brasileiros.
A delegação egípcia que está no Brasil irá para Buenos Aires participar de reunião com representantes do Mercosul neste domingo (10), na qual o assunto das desgravações será levantado. A missão é liderada pelo chefe do Serviço Comercial do Egito (ECS), que também é o primeiro subsecretário do Ministério da Indústria e Comércio do Egito, Ahmed Anter.
O vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, afirmou que a entidade vai trabalhar para acelerar essas desgravações. Dos produtos que terão redução de tarifas para comercialização entre Mercosul e Egito pelo tratado, que são 9.800, apenas 52% terá queda imediata, os demais irão tendo redução de taxas em até dez anos.
Citando produtos egípcios que serão beneficiados no acordo, como fertilizantes, químicos e têxteis, a CEO da Agência de Desenvolvimento de Exportações do Egito (EDA), Sherine El Shorbag, disse, referindo-se aos prazos para desgravação, que espera que algumas das cláusulas do acordo com o Mercosul possam ser negociadas. “Para algumas destas áreas, o acordo prevê livre comércio em dez anos”, disse ela ao público do fórum.
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Fertilizantes, produto que o Egito mais exporta ao Brasil, terá tarifa zerada de imediato, segundo informações apresentadas no fórum pela executiva de Relações Internacionais da Câmara Árabe, Fernanda Baltazar. No universo de itens incluídos no tratado, alguns terão queda de tarifas em quatro anos, outros em oito, outros em dez e outros terão o prazo ainda definido.
Entre os móveis, em 5% deles o Egito terá isenção de tarifas em quatro anos, 22% em oito anos, 63% em dez anos e 10% ainda será definido. No caso de têxteis e vestuário, 7% terá queda imediata, 15% em quatro anos, 42% em oito anos e 36% em dez anos.
Segundo informações dadas à ANBA por Renato de Alencar Lima, do escritório regional do Itamaraty em São Paulo, é possível acelerar a desgravação de bens em reuniões técnicas entre as partes depois de acordos assinados. Lima falou durante o fórum representando o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
O Egito e o Brasil já têm comércio significativo, mas ocorre principalmente pela exportação de produtos brasileiros. As vendas do Brasil ao mercado egípcio somaram mais de US$ 2 bilhões entre janeiro e outubro, enquanto as do Egito ao Brasil, US$ 140 milhões. Nas duas mãos houve crescimento. O Brasil forneceu aos egípcios principalmente açúcar, carne bovina, milho, carne de frango e minério, e o país árabe embarcou ao Brasil fertilizantes, naftas e azeitonas.
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“O Brasil é um parceiro muito confiável, pois no contexto das repercussões negativas que teve a Carne Fraca, eles (os egípcios) manifestaram confiança e continuaram comprando. Somos muito agradecidos ao Egito por essa manifestação de confiança”, afirmou Chohfi sobre a reabertura do mercado egípcio à carne brasileira em um prazo curto após os esclarecimentos de denúncias da Polícia Federal brasileira sobre vendas de carne sem inspeção, operação que foi chamada de Carne Fraca.
O vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe disse que o Egito é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil entre os países árabes. O embaixador do Egito no Brasil, Alaaeldin Roushdy, que também falou durante o fórum, lembrou da importância dos dois países em suas regiões, o Brasil com um mercado de 200 milhões de pessoas e o Egito com 100 milhões de pessoas. “São os maiores em suas regiões e a cooperação pode ser muito maior do que é atualmente”, disse.
Os representantes da delegação egípcia apresentaram o potencial do país. Anter falou sobre a nova fase econômica do Egito, com a implementação pelo governo de programas bem-sucedidos que ajudaram o país a ganhar competitividade. Ele citou a diminuição da taxa de desemprego, o aumento das reservas internacionais, a flutuação da libra egípcia sobre o dólar, o acordo com o Fundo Monetário Internacional, além da redução de prazo para emissão de licenças para produção local de manufaturados e a nova lei de investimentos.
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Shorbag falou também sobre a atratividade de seu país como destino de investimentos, em função das novas leis na área, do tamanho do parque industrial, o baixo custo de produção, os acordos bilaterais, entre outras características. Ela disse que o país melhorou sua capacidade de lidar com mercados internacionais. Segundo Shorbag, o Egito sempre teve como mercados principais Europa e Estados Unidos, mas agora buscará novos.
Também falaram no fórum o diretor da Investe São Paulo, Sérgio Costa, a economista do Departamento de Financiamento e Relações Institucionais Internacionais do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Denise Andrade Rodrigues, e o chefe adjunto do Departamento das Américas do ECS, Yasser Qourany.
Ao final do encontro, os egípcios e representantes da Câmara Árabe responderam uma série de perguntas dos empresários presentes sobre questões de comércio entre Brasil e Egito. Estiveram presentes ainda representantes de entidades, como a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), e lideranças da Câmara Árabe, como o diretor Mohamad Orra Mourad.