Cairo – O Brasil ganhará ainda mais importância nos próximos anos como fonte de segurança alimentar mundial e o Egito tem papel relevante nesse contexto como fornecedor de fertilizantes ao mercado nacional. O panorama foi apresentado por representantes do governo brasileiro no seminário “Brasil e Egito: Oportunidades no Comércio Bilateral”, nesta segunda-feira (09) no Cairo, capital egípcia.
Promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira com apoio da Embaixada do Brasil no Egito e da Federação das Câmaras de Comércio do Egito, o evento fez parte da agenda da missão brasileira que se encontra no país árabe liderada pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes.
O ministro falou no seminário sobre o compromisso do Brasil com a segurança alimentar global e o diretor de Projetos do ministério, Luis Eduardo Pacifici Rangel, detalhou o assunto, em um panorama sobre o crescimento que o País terá nos próximos anos na produção de alimentos e a situação atual do abastecimento local de fertilizantes. Os adubos são essenciais para a produção nas lavouras.
“O Egito é importante fonte de fertilizantes para o Brasil”, disse Rangel. No ano passado, o país árabe exportou 1,4 milhão de toneladas em fertilizantes ao mercado brasileiro, somando US$ 284 milhões. O Brasil compra no exterior atualmente 85% dos adubos que usa no campo e é o quarto maior consumidor de nitrogênio do mundo, o terceiro maior de fósforo e o segundo maior de potássio.
Segundo gráfico apresentado por Rangel, Rússia, China e Canadá são os três maiores fornecedores de fertilizantes ao Brasil, com 22%, 15% e 10%, respectivamente, do total importado pelo País, mas nações árabes também figuram entre as principais fontes do produto. O Marrocos está em quarto lugar com 7%, o Catar em sétimo com 4% e o Egito na nona posição, com 3%. Outras nações árabes como Omã, Argélia e Arábia Saudita estão na lista dos 20 maiores fornecedores. Os dados se referem a NPK.
Rússia, China, Catar, Argélia e Irã são os grandes fornecedores de nitrogenados importados pelo Brasil, enquanto Marrocos, Rússia, Arábia Saudita, Estados Unidos e China são os maiores em fosfatados. O ranking dos grandes exportadores de potássicos ao Brasil é composto por Canadá, Rússia, Belarus, Israel e Alemanha, segundo a apresentação do ministério.
De acordo com dado divulgado por Rangel com base na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil responderá por 40% da expansão da produção de alimentos até 2050. O Ministério da Agricultura projeta que a safra de grãos passará de 250,9 milhões de toneladas em 2019/2020 para 318,3 milhões de toneladas em 2029/2030, e a produção de carnes se expandirá de 28,2 milhões de toneladas para 34,9 milhões de toneladas no mesmo período.
Plano Nacional
Para garantir o abastecimento de adubos, o governo federal criou o Plano Nacional de Fertilizantes, que foi apresentado aos egípcios no seminário. O projeto tem vários nortes, entre eles a integração com fornecedores mundiais de nitrogênio, fósforo e potássio, e a atração de investimentos para o setor. O diretor de Projetos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Bruno Caligaris, deu detalhes sobre o plano aos participantes do evento.
Os caminhos para o abastecimento de fertilizantes também foram explorados por outros palestrantes, como o diretor técnico adjunto da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré, e o representante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) na missão, Sérgio Feltraco, que defenderam a comercialização direta entre os exportadores de fertilizantes e os produtores rurais.
O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti, também falou no seminário e deu um panorama sobre como o Brasil conduz sua produção de alimentos. Ele informou que o País usa apenas 8% de seu território para produzir grãos e alimentar 800 milhões de pessoas ao redor do mundo. Há mais 21% de pastagens. 66% do território é preservado.
Parceiro na África
O ministro brasileiro Marcos Montes e o embaixador do Brasil no Cairo, Antonio Patriota, falaram sobre as relações comerciais estreitas de Brasil e Egito. Patriota lembrou que o Egito é o principal parceiro do Brasil na África e que esse não é um relacionamento ocasional, mas que há uma complementariedade estrutural, com o Brasil como exportador de alimentos e o Egito como importador líquido no setor. “Nossa responsabilidade de governo é permitir que essa relação se consolide”, disse Patriota.
Marcos Montes afirmou que há forte intercâmbio no setor agrícola, mas que o comércio entre Brasil e Egito ainda é muito concentrado em alguns produtos e que há desafio de diversificar a pauta. Ele contou, no entanto, que desde 2019, o Brasil abriu mercado para 21 produtos agropecuários no Egito e que também os egípcios abriram mercados no Brasil para produtos como citros, uvas e alho.
Brasil-Egito
Do lado egípcio, os participantes também destacaram a importância do Brasil para o seu país. O vice-ministro de Relações Econômicas do Ministério da Indústria e Comércio, Ibrahim Elsegeny, falou sobre a disposição do Egito de reforçar as relações bilaterais com o Brasil. Ele lembrou que o acordo de livre comércio Mercosul-Egito tem sido importante para o avanço do comércio e que os fertilizantes estão beneficiados no acordo.
O vice-presidente da Fedoc, Mohamed El Masry, afirmou que o Brasil será sempre um dos melhores parceiros do Egito, especialmente no setor de alimentos. Também falaram no evento o diretor da empresa Abu Zaabal For Fertilizers & Chemical, Mustafa El Gabaly, que abordou o comércio de fertilizantes, e a diretora-executiva do Conselho de Exportações de Alimentos do Egito, May Khary, que contou da participação dos egípcios na feira Apas Show neste mês no Brasil.
O seminário foi aberto pelo secretário-geral e CEO da Câmara Árabe, Tamer Mansour, e teve uma mesa redonda conduzida pela diretora de Relações Institucionais da entidade, Fernanda Baltazar.
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