São Paulo – O Egito inaugurou oficialmente nesta quinta-feira (06) o Novo Canal de Suez, via marítima de 35 quilômetros paralela à original. Além disso, 37 quilômetros da estrutura existente foram alargados e tiveram o calado aprofundado para permitir a passagem de navios maiores. O projeto consumiu investimentos de US$ 8,2 bilhões e foi concluído em apenas um ano, quando inicialmente previam-se três.
O canal é uma importante fonte de receitas para o estado egípcio e sua ampliação é uma das principais apostas do presidente Abdel Fattah El-Sisi para impulsionar o crescimento econômico do país. O governo espera que o faturamento da rota mercante que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho salte dos US$ 5,3 bilhões registrados em 2014 para US$ 13,2 bilhões em 2023.
A estimativa é controversa. Analistas afirmam que dificilmente o comércio internacional vai crescer o suficiente nos próximos anos para atingir a marca esperada pelo Egito. “Não há um estudo de viabilidade, que seja conhecido, para mostrar a viabilidade do projeto”, declarou Ahmed Kamaly, economista da Universidade Americana do Cairo, à agência de notícias Reuters.
De acordo com o site do Al Ahram, o maior jornal egípcio, o economista sênior de mercados emergentes da Capital Economics, de Londres, William Jackson, afirmou que o comércio internacional teria de crescer 9% ao ano em média para que estimativa fosse atingida, muito mais do que a média anual registrada desde o começo da década passada. “Isso parece improvável”, declarou ele, segundo o diário.
O governo, porém, defende com unhas e dentes o potencial do projeto que chama de “presente do Egito para o mundo”. “Nós estamos otimistas que o comércio mundial vai aumentar”, declarou o vice-diretor de Planejamento e Pesquisa da Autoridade do Canal de Suez, Yehia Rushdi, de acordo com o Al Ahram.
Michael Storgaard, porta voz da companhia de navegação Maersk, disse, de acordo com a agência Bloomberg, que o projeto era “necessário para manter a atratividade do canal”. Ainda segundo a mesma agência, porém, o chefe da área de análises do Lloyd List Intelligence, Neil Atkinson, opinou que “o canal será sempre atrativo, mesmo sem nenhuma melhoria”.
As novas instalações prometem reduzir em sete horas o tempo de espera para uma embarcação poder atravessar o canal e permitirão aumentar o número de navios que passam diariamente por lá dos atuais 49 para 97 em 2023.
Orgulho nacional
A aposta no projeto é tão alta que, segundo o Al Ahram, o governo investiu US$ 30 milhões somente nas comemorações da inauguração. Além de movimentar a economia, a ideia é levantar o moral da população e o orgulho nacional.
“Os egípcios precisavam sentir, no período de um ano, que eles ganharam mais confiança e segurança”, disse o presidente Sisi em discurso na cerimônia de inauguração das novas instalações, realizada às margens do canal na cidade de Ismaília. “Completar tal empreendimento num período curto de tempo é motivo de orgulho para os egípcios”, acrescentou.
O chefe de estado egípcio chegou ao local das comemorações em grande estilo. Ele desembarcou do iate El-Mahrousa, o primeiro a passar pelo canal original no dia de sua inauguração, em 1869.
O presidente da França, François Hollande, foi convidado especial do evento. Os dois países assinaram este ano acordos no valor 5 bilhões de euros na área militar, de acordo com o Al Ahram, e o resultado pode ser em parte visto no local da cerimônia, que foi sobrevoado por caças franceses Rafale, e no próprio canal, onde navegou uma fragata que Egito recebeu da França na semana passada.
Entre os convidados estavam também os primeiros-ministros da Rússia, Dmitry Medvedev, da Grécia, Alexis Tsipras, e dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, os reis da Jordânia, Abdullah II, e do Bahrein, Hamad Bin Isa Al-Khalifa, o emir do Kuwait, Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al Sabah, e os presidentes da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, do Sudão, Omar Al-Bashir, de Angola, José Eduardo dos Santos, da Mauritânia, Mohamed Ould Abdel Aziz, e da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, entre outros chefes de estado e de governo.
Para turbinar as comemorações e incentivar a população a fazer coro, o governo decretou feriado no país e liberou as catracas dos trens e outros meios de transporte coletivo, museus e parques públicos.
A inauguração ocorre em meio a uma escalada da violência no Egito. Sisi foi eleito no ano passado, após ter derrubado seu antecessor, Mohamed Morsi, primeiro presidente eleito do Egito depois dos quase 30 anos do regime de Hosni Mubarak, que renunciou em 2011 em meio aos protestos da Primavera Árabe.
Sisi era comandante das forças armadas do governo de Morsi, mas desde que assumiu o governo vem reprimindo com força a Irmandade Muçulmana, grupo do ex-presidente, e colocou o movimento na clandestinidade.
“O Canal de Suez não foi o único feito dos egípcios, eles também disseram ‘não’ ao terrorismo”, declarou o presidente em seu discurso. “Nós temos combatido o terrorismo e vamos ganhar [a batalha] definitivamente”, acrescentou.
Após a ampliação do canal, o Egito pretende desenvolver nos arredores um grande polo industrial e de logística, para onde pretende atrair investimentos de US$ 15 bilhões.


