Cairo – A primeira Semana do Cinema Brasileiro começa nesta sexta-feira (04) no Centro de Criatividade Artística da Ópera do Cairo e traz ao publico egípcio uma seleção de 15 grandes obras do cinema nacional. A mostra inclui clássicos como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, dramas como “Central do Brasil”, de Walter Salles, e “Bicho de Sete Cabeças”, de Lais Bodanzky.
O festival vai exibir também comédias românticas como “A Dona da Historia” e “A Partilha”, de Daniel Filho, filmes históricos como “Guerra de Canudos” e “Mauá – O Imperador e o Rei”, de Sérgio Resende, e até um tributo ao Rei do Futebol com “Pelé Eterno”, de Aníbal Massaini Neto.
A mostra permitirá ao espectador egípcio um melhor contato com a vida, arte, cultura e história dos brasileiros. O evento é promovido e organizado conjuntamente pelo Ministério da Cultura do Egito e pela Embaixada do Brasil no Cairo. “Já há muito tempo temos vontade de organizar um evento cinematográfico desse porte com o Brasil, mas não houve oportunidade”, disse Abdel Moeti Kamel, diretor artístico da Ópera do Cairo.
Ele acrescentou que havia também receio de que o cinema brasileiro não despertasse muito interesse no público egípcio. “Hoje em dia a situação parece estar mudando um pouco e o público está dando um pouco mais de atenção para o que vem desta região do mundo. Por essa razão acredito que a Semana terá uma boa receptividade”, afirmou Kamel.
A Semana de Cinema Brasileiro está criando uma grande expectativa junto aos jovens egípcios que olham cada vez mais para o país. “Temos muito sorte que esta semana começa depois de nossos exames de fim de ano e início de nossas férias de verão. Por isso poderei assistir o maior numero de filmes que puder”, disse Heba Mohsen, de 20 anos, que acaba de terminar seu terceiro ano de Ciências Políticas na Universidade do Cairo. “Sou apaixonada pelo Brasil e por tudo o que vem de lá: musica, moda, futebol, tudo. Tenho também vontade de aprender português para poder entender o que dizem”, acrescentou.
Heba conta que não é a única a se sentir desta forma. “Nos últimos dias, cada vez que menciono esta semana de filmes brasileiros, para um dos meus amigos e amigas, percebo que eles, que raramente prestam muita atenção ao que eu digo ou faço, de repente ficam atentos e me perguntam: ‘ah é, onde vai ser? a que horas’”, afirmou ela.
A mostra está criando uma grande expectativa também nos cinéfilos egípcios, dentre os quais muitos que já conhecem algumas das obras que serão apresentadas, como Cidade de Deus, Zuzu Angel ou Os Dois Filhos de Francisco, que foram exibidos na 30ª edição do Festival Internacional de Filmes do Cairo, ocorrido em novembro de 2006.
“Durante esta edição o cinema latino-americano estava sendo homenageado e por isso tivemos a oportunidade de assistir alguns filmes brasileiros. Mas essa não foi a primeira vez que eu entrei em contato com este cinema. Lembro de ter ficado impressionado ao ver o filme Cidade de Deus pela primeira vez numa visita a Paris há alguns anos. Gostei tanto dele que irei certamente revê-lo agora, aqui no Cairo. Na verdade pretendo não somente ver Cidade de Deus, mas muitos dos que estão no programa. Porque parecem ser todos muito bons”, diz o advogado Fouad Fauzi.
Finalmente, no que diz respeito a critica egípcia, a semana de filmes brasileiros também desperta um grande interesse. “Infelizmente, até pouco tempo, raramente o público egípcio tinha acesso a filmes vindos desta região. O que é bastante injusto, pois, ao invés de consumirmos filmes americanos ou europeus, que abordam temas que pouco têm a ver com a vida e a cultura em nossa região, deveríamos olhar mais para a América Latina, pois culturalmente temos muito mais em comum com os povos desta região do que com os americanos ou com os europeus”, afirmou Amr Ramzi, jornalista especializado em cinema do jornal Al Ahram, o maior do Egito.