São Paulo – O presidente do Egito, Mohamed Morsi, quer implantar no seu país a experiência brasileira em programas sociais. A ideia de Morsi é fazer com que a população passe a consumir mais e, assim, impulsionar a economia local, a exemplo do que ocorre no Brasil. Nesta quinta-feira (09), ele participou do Encontro Empresarial Brasil-Egito na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e afirmou que o Brasil é um exemplo de nação que derrotou um regime militar e prospera na democracia.
“O Egito está retomando relações estratégicas com países que passaram por situações [de transição] semelhantes e que tiveram sucesso no campo político e social. O Brasil é um exemplo neste processo”, afirmou o presidente.
Durante encontro com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, Morsi demonstrou interesse em conhecer detalhes dos cursos profissionalizantes oferecidos pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que formam profissionais para atuar na indústria. Ele deseja promover no Egito a profissionalização e a capacitação da mão de obra.
Na quarta-feira (08), em Brasília, o governo egípcio assinou acordos com o brasileiro nas áreas de desenvolvimento social e de desenvolvimento agrário, com o objetivo de promover troca de experiências, tecnologias e capacitação de pessoal. Morsi ainda assistiu, no Itamaraty, uma apresentação sobre os programas sociais do Brasil.
Na visita a São Paulo, o líder egípcio se reuniu também com representantes de grandes empresas, entre eles executivos da Brasil Foods (BRF), JBS, Marcopolo, indústria de ônibus que tem uma fábrica no Egito, com o vice-presidente executivo de Pessoas, Relações Institucionais e Sustentabilidade da Embraer, Jackson Schneider, e com o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva. Na quarta-feira, em Brasília, Morsi conversou sobre cooperação em aviação e defesa com a presidente Dilma Rousseff.
Morsi ouviu as propostas dos líderes empresariais e afirmou que deseja ver essas empresas investindo em no Egito, e não apenas exportando. Ele disse também que pretende desenvolver os setores de siderurgia, cerâmica, alimentos, transportes e construção.
“Nossas semelhanças podem aprofundar a relação entre os países. Queremos indústria de aeronaves no Egito. Temos infraestrutura, mas precisamos de know-how. Nos setores de ônibus e na área têxtil nós queremos indústria e queremos que exportem a partir do Egito”, disse Morsi, lembrando que o país tem parcerias com blocos econômicos e está em uma localização estratégica. O Canal de Suez, principal meio de ligação para navios que viajam do Mediterrâneo para a Ásia, corta o Egito.
Negócios
O presidente egípcio e a Fiesp negociaram a realização de uma missão brasileira ao país árabe no começo de setembro. A proposta, segundo Morsi, é que a delegação seja pequena em quantidade de pessoas, porém, efetiva para fechar negócios. O diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, afirmou que irá trabalhar em parceria com a Fiesp para que a missão seja realizada.
Além de Alaby, a Câmara Árabe foi representada no encontro com Morsi pelo seu presidente, Marcelo Sallum, pelo vice-presidente de Relações Internacionais, Helmi Nasr, o presidente do Conselho de Administração da instituição, Walid Yazigi, e o ex-presidente Salim Taufic Schain.
Sallum observou que esta é a primeira visita de um presidente egípcio ao Brasil e disse que sua presença aqui é uma oportunidade de ampliar as relações entre os dois países. “É preciso aproveitar este momento de portas abertas entre os dois países, pois há laços de amizade”, afirmou.
Ele disse ainda que a rodada de negócios entre empresários brasileiros e egípcios, realizada na Câmara Árabe na quarta-feira (08), resultou em negócios entre empresários dos dois países que, juntos, têm 275 milhões de habitantes.
O Brasil foi o último país do grupo Brics (formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul) visitado por Morsi. Em 2012, o Brasil exportou US$ 2,7 bilhões para o Egito e importou US$ 251,4 milhões. Morsi e Skaf afirmaram que é preciso equilibrar a balança comercial entre os dois países. O mesmo foi dito por Dilma na passagem de seu colega egípcio por Brasília.
Lula
Na capital federal, Morsi teve ainda uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula convidou o egípcio para participar do seminário “Novos enfoques unificados para acabar com a fome na África”, que vai ocorrer em Adis Abeba, na Etiópia, nos dias 30 junho e 1º de julho. O evento é organizado pela União Africana e pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), com apoio do Instituto Lula, entidade do ex-mandatário brasileiro.
Lula disse também que pretende visitar o Egito em novembro deste ano. O ex-presidente esteve no país árabe no primeiro ano de seu mandato, em 2003.


