Alexandre Rocha
São Paulo – O Egito quer que a questão da responsabilidade social das empresas faça parte da declaração final da 11ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), que ocorre em São Paulo. A informação foi dada ontem (16) à ANBA pela embaixadora Naela Gabr, representante permanente do Egito na Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra.
"A questão da responsabilidade corporativa está em evidência e queremos que continue em evidência ao final da conferência. Os governos, o setor privado e a sociedade civil têm de construir juntos o desenvolvimento", disse. "As empresas, as multinacionais principalmente, precisam ter responsabilidade social e compromisso com o desenvolvimento", acrescentou.
Como exemplo, ela citou a indústria farmacêutica e destacou o sucesso do Brasil em conseguir a redução do preço de medicamentos usados no tratamento de moléstias graves, como a aids, por meio da ameaça de quebra de patentes.
"As indústrias farmacêuticas têm que ter seu lucro, isso é importante para manter o sistema funcionando e garantir as pesquisas. Mas há um limite, estas empresas têm de ajudar também, principalmente no combate a doenças no terceiro mundo", afirmou Naela.
Espaço político
Outra questão, que o Egito quer ver na declaração final da 11ª Unctad, é a garantia de um "espaço político" dos países nos tratados internacionais. De acordo com ela, as negociações e acordos multilaterais impõem uma série de condições aos participantes, que limitam sua capacidade de manobra, principalmente em tempos de crise.
O acesso à OMC pode ser considerado um exemplo. Naela acredita que ele deveria ser facilitado. "É muito difícil entrar na OMC, o país precisa aceitar uma série de procedimentos destrutivos, no que diz respeito à sua economia e ao comércio internacional. Até para países como a China o procedimento foi muito difícil", declarou.
"Os países têm que ter obrigações, mas talvez, no caso de algum problema interno, é preciso que os governos tenham algum espaço para respirar", acrescentou a diplomata.
Importância do G-20
Ela destacou também a importância do comércio sul-sul e o papel do G-20 no fortalecimento dessas relações. O G-20 é um grupo de países em desenvovimento que atua contra o protecionismo agrícola dos países mais ricos no âmbito da OMC, do qual o Egito e o Brasil fazem parte.
"O G-20 é um movimento extremamente importante. Pois pela primera vez os países em desenvolvimento exercem uma certa nfluência nas negociações da OMC", disse a embaixadora. Para ela, que participou da reunião ministerial do órgão no sábado (12), apesar das desconfianças iniciais sobre a coesão do grupo, hoje ele já mostrou que é sólido.
Tanto que, de acordo com ela, num primeiro momento países mais ricos desdenharam de tal articulação e passaram a buscar acordos diretamente com alguns países, deixando de lado as negociações da OMC.
"Mas isso não transcorreu como eles esperavam, e agora estão de volta às negociações da OMC", ressaltou. A embaixadora disse ainda que a Liga dos Estados Árabes pleiteia a posição de observadora na OMC.

