Randa Achmawi
Cairo – No Norte do Egito, a 130 quilômetros da capital, a vegetação às margens do rio Nilo chama a atenção de quem passa. São as flores e plantas exuberantes de El Mansura, uma cidade que se tornou famosa no país árabe por sua história e também por seus jardins. Mansura já se chamou Guezirat Al Ward, que no idioma árabe quer dizer Ilha das Rosas. Hoje o seu nome significa, em árabe, "a vitoriosa". El Mansura é vitoriosa porque foi local de captura do rei francês Luís IX, no ano de 1250, durante as Cruzadas. Em El Mansura os turistas podem conhecer história e ao mesmo passear por parques e jardins.
A cidade fica no Delta egípcio, região onde as águas do Nilo se dividem em duas vertentes que desaguam no Mar Mediterrâneo. Ela foi fundada no ano 616 da era muçulmana ou 1219 da era cristã pelo sultão ayubita Al Malek Al Kamel. Durante as Cruzadas, quando a cidade próxima, Damietta, foi tomada, El Mansura serviu como forte. "Por causa de sua localização estratégica a cidade de Mansura serviu durante um grande período de posto militar avançado a partir do Cairo", diz Wael Allem, do escritório de turismo da cidade.
Ela também ficou conhecida por ter sido palco de lutas e pela forte resistência manifestada por sua população contra a presença dos cruzados franceses. "Durante os meses de julho e agosto do ano de 1221 d.C. o avanço dos cruzados comandados pelo cardeal francês Pelagius foi contido exatamente na entrada da cidade", conta Wael. "Quando Abdel Malek Al Kamel ordenou que fossem abertas as barragens para inundar os campos cultivados previamente pelos cruzados no espaço que forma os dois braços do rio Nilo, estes foram obrigados a abandonar as conquistas feitas anteriormente no Egito", explica.
E foi durante o reino do último sultão ayubita Turanchah que a cruzada do rei francês Luís IX conheceu sua derrota final em El Mansura. "Em fevereiro de 1250, eles (os cruzados) entraram na cidade, mas foram em seguida expulsos pela população após longos e difíceis combates nas ruas" diz Wael. Finalmente durante a batalha ocorrida em frente às portas da cidade, o rei Luís IX e o resto do seu exército foram capturados pelos homens do sultão ayubita. Um mês depois eles foram liberados em troca da libertação da cidade de Damietta.
Mais tarde, durante do reinado dos Mamelucos, a cidade de El Mansura passou a fazer parte da província de Daqahliya. E no ano 1527 da era cristã, o governante otomano do Egito, Soliman Pacha Khadem, transferiu para o local o Dar El Hokm, nome em árabe do tribunal provincial. Então El Mansura virou capital da província de Daqahliya, um estatuto que mantém até hoje. Em 1826, El Mansura havia crescido tanto que acabou se tornando um centro regional ao qual estão ligados atualmente hoje mais de 60 vilarejos. No decorrer de todo o século XIX, graças ao cultivo do algodão, a região do Delta conheceu um verdadeiro boom econômico, o que contribuiu para atração pessoas de todas as partes do Egito e fez com que sua população aumentasse consideravelmente.
Hoje El Mansura se orgulha de ter em seus registros históricos a captura do rei Luís IX. A beleza dos jardins complementam o turismo histórico. O jardim considerado mais belo é o que carrega o nome da legendária sultana mameluca, Chagaret Al Dorr, que governou o Egito durante 80 dias em 1250 e negociou a liberação de Damietta. Chagaret viveu um período da sua vida em Mansura. Na cidade também se encontram calçadões para passeios à beira do Nilo. Neles se pode caminhar durante horas numa atmosfera onde reina paz e tranqüilidade.
Um passeio no próprio rio Nilo também é uma opção para quem busca lazer na cidade. Isso pode ser feito num dos diversos pequenos barcos à vela, no Egito chamados de Felukas, ancorados às margens do rio. O passeio pode durar uma ou meia hora. Estar num Feluka no Nilo, em Mansura, é como mergulhar na memória de seus habitantes e aprender um pouco com sua sabedoria. "Esta é uma experiência que infelizmente poucos conhecem, mas que não vale menos em termos de prazer ou bem estar que qualquer outra vivida neste país tão fascinante", conclui uma turista alemã que se aventura pela primeira vez na descoberta do Egito.

