São Paulo – A mais recente exposição organizada no Instituto Casa Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, promove o diálogo do seu próprio acervo com obras de arte de colecionadores convidados. “Conversas entre coleções” fica em cartaz até 24 de março com 256 criações de 127 artistas pertencentes aos acervos particulares, além das peças da própria família Marinho. Em meio às obras dos brasileiros Adriana Varejão, Vik Muniz, Iberê Camargo (1914-1994), Di Cavalcanti (1897-1976) e do chinês Ai Weiwei, entre tantos outros nomes, estão expostas duas peças da palestina Mona Hatoum (na imagem acima, sala com a coleção de Paulo Vieira e com as criações de Mona Hatoum de seu acervo).
A tapeçaria Baluchi (multicoloured), de 2008, representa um mapa-múndi em um baixo-relevo. Outra criação, Projection (2006) representa outro mapa, feito em algodão e folhas secas da árvore abacá. As duas integram a coleção de Paulo Vieira, diretor executivo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e presidente do Conselho Internacional da Tate, instituição que administra três museus britânicos, entre eles a Tate Modern, de Londres.
À ANBA, o diretor da Casa Roberto Marinho e coordenador geral da exposição, Lauro Cavalcanti, explica que a coleção de Vieira se destaca pelo recorte de mapas, cidades e paisagens urbanas. “Dentro dos trabalhos dele [da coleção de Vieira], estão dois belíssimos trabalhos da Mona Hatoum. Um sobre a base de tapetes que ela desgastou fazendo o mapa do mundo. E o outro também, de parede, que ela desgastou com papel cartão também fazendo um mapa. E esses dois trabalhos estão com muito destaque na exposição”, diz.
Nascida em Beirute, no Líbano, em 1952, Hatoum é filha de palestinos que buscaram refúgio no país vizinho. Mudou-se para Londres em 1975, quando o que era para ser uma breve visita se tornou residência por causa da Guerra Civil Libanesa (1975-1990). Hatoum já afirmou que sua história de vida acaba por provocar em sua criação um sentido de deslocamento.
Diferentes coleções, variados olhares
A mostra se desenvolve por muitos caminhos a partir do olhar dos convidados para ali expor parte do seu acervo. Estão separadas em salas individuais parte das coleções de Andrea e José Olympio Pereira; Mônica e George Kornis; Luciana e Luis Antonio de Almeida Braga; Marcia e Luiz Chrysostomo; Mara e Marcio Fainziliber e Paulo Vieira. Selecionadas pelos convidados, as obras ali expostas carregam também o olhar deles e sua relação com o acervo da própria Casa Roberto Marinho. O convite a eles foi feito pela família Marinho e por Cavalcanti.
O casal Andrea e José Olympio Pereira, por exemplo, selecionou de seu acervo obras de artistas contemporâneos vivos e com criações às quais poucas pessoas tiveram acesso. Mônica e George Kornis optaram por expor ali peças inéditas. Luciana e Luis Antonio de Almeida Braga concentraram sua exibição em obras de Lasar Segall e Rubens Gerchmann enquanto Marcia e Luiz Chrysostomo dividiram a coleção em três eixos definidos em “Temáticas”, “Artistas” e “Narrativas”. Mara e Marcio Fainziliber buscaram promover o diálogo entre os diversos artistas de sua coleção entre peças de brasileiros e de estrangeiros. Vieira, além de Mona Hatoum, levou obras do brasileiro Leonilson (1957-1993), do inglês Jonathan Callan e da eslovena Marjetica Potrc, entre outros.
Cavalcanti diz que a ideia da exposição foi justamente mostrar ao grande público obras de arte de coleções fechadas que não estão ao alcance de todos. Parte importante desta iniciativa, diz, foi abrigar essas peças em uma instituição também dona de um acervo particular.
“A Casa Roberto Marinho é justamente um exemplo dos filhos de um colecionador em criar um espaço cultural para disponibilizar ao público a obra que o pai reuniu. Eles, inclusive, antes de ter o espaço cultural, faziam sempre exposições itinerantes para que as obras estivessem ao alcance do público. Há cinco anos, fui convidado para conceber o espaço cultural e abrimos a Casa com muito sucesso, tanto de crítica quanto de público. E aí surgiu a ideia de: por que não chamar outras coleções para que o público pudesse ver?”, diz Cavalcanti.
Após uma ampla reforma na mansão em que o jornalista, empresário e fundador da TV Globo, entre outras empresas, viveu até seu falecimento, em 2003, os filhos e sócios do grupo Globo passaram a abrigar ali o Instituto Casa Roberto Marinho, em 2018. A residência fica no bairro do Cosme Velho, em uma região histórica do Rio. Tem, na sua vizinhança, a companhia do Largo do Boticário, recentemente restaurado. Ambos sob os braços de um dos principais cartões postais do país: a estátua do Cristo Redentor.
Ali, Roberto Marinho recebia artistas brasileiros e estrangeiros, políticos e empresários em eventos que movimentavam a cena carioca. Por iniciativa dos filhos Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, em 2014 a Casa começou a ser restaurada para assumir a forma expositiva que apresenta hoje, cinco anos depois da sua inauguração. Confira mais informações sobre a exposição aqui.