São Paulo – Promover o cultivo de alimentos de forma mais sustentável é um dos atuais desafios do mundo e o país que sedia a partir desta quinta-feira (30) a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), os Emirados Árabes Unidos, vem fazendo esforços neste sentido. Um exemplo disso é a existência no país da Bustanica, a maior fazenda vertical do mundo, objeto de reportagem da Emirates News Agency (WAM).
As fazendas verticais promovem o cultivo de alimentos em camadas verticais, dentro de prédios, uma alternativa diante do impacto que as mudanças climáticas podem ter nos modelos tradicionais de produção. Na fazenda Bustanica são cerca de 31 mil metros quadrados. O empreendimento possui três andares, onde são produzidas cerca de mil toneladas de alimentos por ano – em unidades separadas, que comportam as plantas em diferentes estágios.
“A Bustanica é uma instalação agrícola modulada de ambiente controlado. Modulada significa que estamos separados por cômodos, o que nos dá a versatilidade e a adaptabilidade para cortar e trocar produtos em um ambiente controlado com o elemento de agricultura de precisão, o que significa que podemos fornecer às plantas e culturas exatamente que elas precisam no momento exato”, diz Robert Fellows, diretor de produção da Bustanica. Na foto de abertura, Fellows apresenta a fazenda para a reportagem da WAM.
Tudo, desde a temperatura, umidade, iluminação, água e nutrientes, é monitorado com precisão – o que maximiza o crescimento e o rendimento, praticamente eliminando qualquer risco de contaminação. “O maior benefício que temos aqui, especialmente nesta região, é que podemos produzir 365 dias por ano, portanto, não somos regidos por fatores externos, como calor, enchentes, secas e pragas”, conta Fellows.
A fazenda vertical em Dubai dispensa ainda pesticidas, não degrada o solo e produz mais alimentos usando uma área menor em comparação com a agricultura tradicional. Da semente à primeira colheita, são cerca de seis semanas em um processo que consome até 95% menos água. Fellows explica que há 45 mil plantas em cada uma das salas e que, à medida que elas começam a crescer e a se desenvolver em seus últimos estágios antes da colheita, liberam muita umidade. “Nossos sistemas ambientais removem a umidade por meio da troca de ar dentro das salas. Em seguida, transformamos a umidade no que chamamos de condensado ou forma líquida. E a mandamos de volta para um local de tratamento de água, que é onde ocorre a reciclagem, a purificação e a limpeza da água. Quando isso é feito, a água é enviada de volta para as áreas de cultivo. Isso pode reduzir, e de fato reduz, nosso consumo de água em até 95%.”
A Bustanica, que significa seu jardim” ou “seu pomar” em árabe, abriu em junho de 2022, com um investimento de cerca de US$ 40 milhões. A instalação é a primeira da Emirates Crop One (ECO1), uma joint venture entre a Emirates Flight Catering (EKFC) e a Crop One. Localizada perto do Aeroporto Internacional Al Maktoum, a fazenda produz hortaliças e trabalha para expandir o portfólio de produtos, disponíveis em estabelecimentos comerciais do país. Apoia ainda a Estratégia Nacional de Alimentos 2051 e a Estratégia de Segurança Hídrica 2036 dos Emirados Árabes Unidos.
Ao ser questionado sobre desafios que relacionam as mudanças climáticas à questão da segurança alimentar, Fellows ressalta que deve haver um foco maior em produtos cultivados localmente – lembrando que o modelo da fazenda em Dubai pode ser reproduzido em outros lugares. “Definitivamente transferível e definitivamente escalonável também”, sugere. Para Fellows, iniciativas como a da Bustanica serão uma necessidade em busca da segurança alimentar.
A presidência da COP28 dos Emirados Árabes Unidos diz que é necessário olhar para os sistemas alimentares e a agricultura para limitar o aquecimento global a 1,5°C, ao lembrar que eles são responsáveis por um terço das emissões globais. Por isso, busca abordar os desafios interconectados das mudanças climáticas e dos sistemas alimentares – apostando na inovação como uma resposta para alguns deles. A agricultura vertical, classificada como crucial pela ministra para a Mudança Climática e Meio Ambiente dos Emirados Árabes Unidos, Mariam Almheiri, por permitir cultivo de alimentos de forma mais sustentável, é uma das apostas.
Apesar de fundamental, a presidência da COP28 lembra que a inovação é apenas uma parte da transformação. Por isso, convida governos a alinharem sistemas alimentares e estratégias agrícolas com as contribuições nacionalmente determinadas, planos nacionais de adaptação e de ação relacionados à biodiversidade para atingir as metas do Acordo de Paris. Além disso, a COP28 trabalha com representantes de todas as etapas do sistema alimentar e da cadeia de valor agrícola para acelerar a transição para a agricultura regenerativa.
A COP28 será na Expo City Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro. O evento deve reunir mais de 70 mil participantes, incluindo chefes de Estado, integrantes de governos, líderes internacionais do setor, representantes do setor privado, acadêmicos, especialistas, jovens e atores não estatais. A conferência da ONU deste ano apresentará o primeiro Balanço Global, uma avaliação do progresso em relação às metas climáticas.
Reportagem de Pablo Relly e Renan de Souza