Erbil – Entrar na Cidadela de Erbil, no centro antigo da capital do Curdistão Iraquiano, localizada a 350 quilômetros de Bagdá, é o mesmo que viajar seis mil anos atrás. Uma fortaleza erguida cerca de 30 metros acima do nível do município atual protege as ruínas de uma cidade construída entre o período Neolítico e da Idade do Bronze, que até a década de 90 ainda era ocupada por migrantes curdos da área rural.
A importância histórica da cidade antiga de Erbil, nome derivado da palavra assíria "Arba-Illu", que significa Quatro Deuses, e a deterioração do local fizeram com que a cidadela fosse incluída na lista dos 100 maiores sítios culturais em perigo do mundo pela Organização Não Governamental (ONG) Fundo Mundial de Monumentos (WMF), de Nova York. Atualmente, o governo local e outras ONGs têm feito esforços para incluir a cidadela na lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Desde 2007, o governo de Erbil em parceria com a Unesco deram início à revitalização da cidadela. As paredes da fortaleza da cidade, que são viradas para o centro comercial antigo da Erbil atual, podem ser vistas a quilômetros de distância. Um dos acessos a pé à cidadela é pelo portão norte. Ao subir a rampa de acesso já é possível ter uma bela vista da cidade atual, talvez uma das possíveis imagens de cartão postal de Erbil, que ainda não recebe muitos turistas.
O maior número de visitantes da cidadela é formado pelos próprios iraquianos e curdos. Com o desenvolvimento econômico da cidade nos últimos anos, a fortaleza passou a ser visitada por alguns turistas que viajam a negócio para a capital curda e arranjam um tempinho para conhecer o ponto histórico, sinalizado em várias placas de rua. Um sinal de que a fortaleza é apreciada por turistas é o fato de ficar um fotógrafo no topo da rampa de acesso à cidadela, preparado para fazer uma foto do visitante com a cidade de Erbil de fundo e vendê-la na saída.
Enquanto a reportagem da ANBA visitava a cidadela, um curdo tirava fotos com sua família da Grécia no portão norte. "Os turistas não conhecem muito aqui. Eles têm medo de vir ao Curdistão pois temem por segurança", afirmou ele. De acordo com o motorista que levou a reportagem para a cidadela, Hunar R. Rasull, que falava poucas palavras em inglês, a cidade de Erbil deve se tornar mais conhecida nos próximos anos com a vinda de empresas estrangeiras.
Segundo informações do site da Cidade de Erbil, a cidadela foi continuamente habitada por milhares de anos. Porém, os arqueólogos não sabem precisar a idade exata de quando toda aquela construção começou. A única maneira de descobrir a verdadeira idade de origem da cidadela seria por meio de escavações arqueológicas, que até hoje ainda não foram realizadas. Mesmo assim, estudos indicam que a cidadela tem entre três e seis mil anos.
Atualmente, no interior da cidadela é possível encontrar centenas de casas destruídas datadas aproximadamente do século 19. Arcos e colunas também podem ser vistos junto a um minarete, que é a torre de uma mesquita, bem conservado e até com as cores originais. Segundo o site, esse foi o único minarete e resquício de mesquita que sobrou no local, que chegou a abrigar dezenas de mesquitas.
Museu e renda
No interior da cidadela ainda é possível conhecer o Museu Têxtil do Curdistão, uma iniciativa privada sem fins lucrativos dedicado a promover, expor e preservar produtos têxteis antigos da região iraquiana. No local, que é uma casa de dois andares construída em 1938, podem ser encontrados diversos tapetes das tribos Kilim, conhecidos mundialmente, chapéus, roupas típicas e equipamentos para tecer os produtos.
Durante a visita da reportagem, havia mulheres jovens e maduras no local tecendo tapetes, sapatos e objetos de decoração. Elas usavam lã de carneiro tingida de várias cores e utilizavam teares de séculos passados para a confecção. As mulheres presentes faziam parte do Projeto Feminino de Geração de Renda, financiado pela Equipe de Reconstrução Regional dos Estados Unidos (RRT). O programa tem como objetivo oferecer oportunidades de empregos para mulheres e ao mesmo tempo resgatar as técnicas tradicionais de tecelagem do Curdistão.
Os tapetes de pequeno porte, segundo as mulheres locais, levam de dois a três meses para serem finalizados. Os detalhes coloridos e as formas geométricas bem trabalhadas, que são feitos à mão, fazem com que os tapetes de mais de dois metros de comprimento levem cerca de um ano para serem confeccionados.
Ao lado dos tapetes, chapéus, cobertores e artefatos expostos no museu, há placas indicando as datas dos objetos. Em algumas salas há ainda explicação das técnicas e matéria-prima utilizada. As placas estão escritas em três idiomas, curdo, árabe e inglês.
Do lado de fora do museu, há uma loja, que oferece grande parte dos produtos expostos no museu e outros souvenirs.
A dificuldade de comunicação pelos estrangeiros no Curdistão, que se deparam o tempo todo com o idioma curdo, pode atrapalhar os turistas despreparados. Mesmo assim, a segurança que a cidade oferece e a hospitalidade dos curdos anima os estrangeiros que descobrem na região um novo Iraque.