São Paulo – O embaixador da Líbia no Brasil, Khaled Dahan, afirmou que espera que o comércio entre os dois países cresça em meados do primeiro semestre do ano que vem. Em visita à Câmara de Comércio Árabe Brasileira nesta quinta-feira (20), Dahan falou à ANBA sobre as relações diplomáticas e comerciais bilaterais. O diplomata está deixando o cargo que ocupou por quase cinco anos, seu primeiro como embaixador. Ele já atuou como diplomata em outros países anteriormente, como a Rússia. Agora, ele retorna à Líbia para trabalhar no Ministério de Relações Exteriores do país.
“Minha expectativa é que assim que a Líbia estiver mais estabilizada e retomando seu desenvolvimento econômico, com o novo governo eleito [o que deve acontecer no mês de abril ou maio de 2019], o comércio com o Brasil e com outros países voltará a crescer”, afirmou Dahan. “Desejamos tudo de bom ao Brasil e ao novo governo, e estamos seguros de que boas pessoas vão orientar o novo governo da maneira correta, para que as relações se mantenham”, declarou.
Segundo o embaixador, as eleições na Líbia estavam previstas para dezembro, mas ainda existem partes da nova constituição que não foram acordadas pelas partes e que devem ser discutidas nos próximos meses, e até abril ou maio deve se estabelecer um novo governo. O país está estabilizado, de acordo com Dahan. “O conselho presidencial tenta reunir todos os grupos para fazer parte do governo; é uma época de transição, mas a população já tem a consciência de que realmente precisa de um novo governo”, disse.
Dahan falou que entre as principais ações que desenvolveu, a retomada da relação com empresas brasileiras de infraestrutura foi uma das mais importantes. “A Líbia já teve diversos contratos com empresas do Brasil, principalmente no setor de infraestrutura, para construir estradas, pontes, viadutos, recuperar aeroportos; e também contratos de cooperação entre a Petrobras e a Empresa Nacional de Petróleo da Líbia, para ter concessão de perfuração de petróleo em algumas regiões determinadas”, contou.
Segundo o embaixador, a OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Petrobras tiveram que interromper suas atividades na Líbia quando começou a guerra civil no país, em fevereiro de 2011, por motivos de segurança. Em seu período à frente da embaixada, Dahan se reuniu com algumas dessas empresas que, segundo ele, disseram que gostariam de ter um diálogo com as autoridades da Líbia para dar continuidade às obras.
O embaixador afirmou ter dialogado com representantes das áreas brasileiras de economia, comércio, saúde, defesa, indústria, entre outras, para estabelecer contatos e abrir portas. “Eu acredito que meu país logo, logo, vai se restabelecer e ter condições de continuar a cooperação com as empresas brasileiras em todos os campos e setores”, enfatizou.
Segundo ele, houve aumento nas relações comerciais com o Brasil nos últimos cinco anos, mas nada considerável. “A Líbia não tinha um câmbio oficial, o que dificultava a negociação com outros países, mas agora com as reformas econômicas no país, o governo irá restabelecer o câmbio oficial, o que irá facilitar muito os negócios, e a curto prazo, deve aumentar a balança comercial consideravelmente”, afirmou Dahan. A moeda oficial da Líbia é o dinar líbio.
As exportações do Brasil para a Líbia, de janeiro a novembro, somaram US$ 195,35 milhões, um aumento de 38,5% sobre o mesmo período do ano passado. As importações totalizaram US$ 20,7 milhões, uma queda de 48,2% na mesma comparação. O país árabe compra do Brasil principalmente minério de ferro, carne bovina, frango e café, e vende combustíveis.
Outro destaque de sua gestão, para Dahan, foi o apoio do Brasil à Líbia em um acordo político assinado em 2015 em Skhirat, no Marrocos, mediado pela Organização das Nações Unidas (ONU), para formar um governo de unidade nacional – havia uma disputa de poder em diversas partes na Líbia. “O Brasil ficou do lado da Líbia, ficou do lado da ONU, ficou do lado da justiça”, falou.
Outra ação que o embaixador ressaltou foi a visita que a Câmara Árabe organizou para os embaixadores árabes e africanos ao Porto de Suape, em Pernambuco, no ano passado. “Eu sugeri que a rota de exportação do Brasil para a Líbia mude, porque hoje a mercadoria vai pela África do Sul e sobe para o Golfo Árabe, e leva três meses para chegar; mas se for direto pelo Norte da África, leva apenas sete dias”, colocou. Segundo Dahan, a Líbia tem o maior litoral do Mar Mediterrâneo, com 2 mil quilômetros de costa entre o Egito e a Tunísia. “Seria uma ideia, porque saindo da Líbia, o navio pode passar pela Itália e outros países da Europa, e voltar para o Brasil trazendo mercadorias desses países; é uma ideia muito importante que poderia desenvolver o comércio com a África do Norte e com a Europa”, sugeriu.
Dahan assumiu o posto em abril de 2014 e disse gostar do Brasil, mas que foi um momento desafiador, em que o País vivia um cenário de crise política e econômica, e a Líbia também passava por crise interna. Ele disse ter se sentido muito bem-vindo e acolhido, tanto pelo povo brasileiro quanto pelo governo, “especialmente os colegas do Ministério das Relações Exteriores, gostaria de agradecer por toda facilidade que proporcionaram para eu poder exercer minha missão diplomática neste país amigo”. O embaixador enfatizou a relação histórica entre os países e a inauguração da embaixada da Líbia em Brasília, em 1974.
O primeiro secretário da embaixada e responsável pelo departamento consular, Emhemed Almotaa, acompanhou o embaixador em sua visita à Câmara Árabe. Eles foram recebidos pelo presidente Rubens Hannun, o diretor-geral interino Tamer Mansour e os diretores William Atui e Mohamed Mourad.
“Gostaria de agradecer à Câmara Árabe por toda a assistência que recebemos, do presidente Rubens Hannun e do secretário-geral Michel Alaby, que é uma pessoa com quem aprendi e trabalhamos juntos, e agradecer todos os diretores pela assistência – quando venho aqui me sinto em meu país, me sinto em casa, todos são muito receptivos e nos ajudam muito. Obrigado”, finalizou.