Alexandre Rocha*
Gavião Peixoto (SP) – A Embraer fez ontem (18) a entrega oficial da primeira unidade do ALX Super Tucano para a Força Aérea Brasileira (FAB), em evento realizado na fábrica da empresa localizada em Gavião Peixoto, uma pequena cidade de 4 mil habitantes perto de Araraquara, interior de São Paulo.
O contrato firmado entre a Embraer a FAB prevê a entrega de 76 aeronaves iguais nos próximos quatro anos, um negócio cujos valores giram em torno de US$ 460 milhões, segundo confirmou o presidente da companhia, Maurício Botelho. “É coisa dessa ordem”, disse ele. Os militares, que já rebatizaram o avião de A-29, poderão adquirir futuramente outras 23 unidades.
Apesar do volume da compra e do fato de o avião ter sido desenvolvido com vistas a atender às especificações da FAB e da realidade brasileira, Botelho acredita que ele pode ser perfeitamente utilizado em outros países e vê no mercado exterior um potencial ainda maior do que o representado pela forças armadas do Brasil. “O contrato com a FAB é interessante e eu acho que a opção de exportação envolve quantidades muito maiores”, declarou o presidente da Embraer em entrevista coletiva após o evento.
O Super Tucano é um avião destinado ao treinamento de pilotos, ataque leve e “familiarização com armamentos”. Ele começou a ser desenvolvido em 1995 e é derivado do antigo Tucano, mas é mais potente e tecnologicamente mais avançado.
Equipado com um motor turboélice de 1,6 mil cavalos, o aparelho está disponível nas versões monoposto e biposto e, de acordo com a empresa, utiliza componentes eletrônicos de última geração, semelhantes aos utilizados nos caças supersônicos F-5BR, que estão sendo modernizados pela Embraer a pedido da FAB, e que serão instalados na futura remodelação da frota de jatos AMX da Força Aérea. Isso, segundo Botelho, vai permitir que os pilotos possam operar os três aviões diferentes sem grandes necessidades de adaptação.
Sivam
“Ele foi projetado para atingir uma velocidade média, mas com sistemas eletrônicos de missão que têm grandes avanços, o que o torna de grande interesse para FAB”, afirmou Botelho. Apesar de a primeira entrega oficialmente ter sido realizada ontem, a Força Aérea já vem testando o avião e até criou uma nova unidade especialmente para operar o Super Tucano. Batizada de Esquadrão Alfa, ela é formada por 10 pilotos e 20 mecânicos comandados pelo tenente coronel Fábio Lannes.
“Eu já pilotei e é um bom avião, utiliza aviônicos de última geração e tem capacidade para carregar armamentos também de última geração”, disse Lannes. Ele acrescentou que o treinamento em terra dos pilotos já começou; em janeiro terá início a fase de treinamento no ar, em São José dos Campos; em fevereiro, o avião passará a ser operado em Natal (RN) e, posteriormente, em Boa Vista (RR), Porto Velho (RO) e Campo Grande (MS). A idéia é utilizar num futuro próximo os Super Tucanos no Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam).
De acordo com Botelho, a aeronave é ideal para ações de combate a guerrilha e vigilância de fronteiras. Parar ele, colocar um jato supersônico para executar esse tipo de serviço sai muito caro, além de ter eficiência duvidosa por causa da alta velocidade dessas aeronaves.
Apesar de o evento marcar a entrega oficial do avião para a FAB, quem conduziu o vôo de apresentação foi um piloto de testes da Embraer, o comandante Oliveira Lima, coronel reformado da aeronáutica. Um homem de meia idade que ostentava longos cabelos grisalhos amarrados num rabo de cavalo. Acompanhado do engenheiro Alexandre Olive, ele realizou duas passagens em baixa altitude nas proximidades do hangar principal da fábrica de Gavião Peixoto, uma em velocidade reduzida e outra em alta velocidade.
Vitrine para o mercado externo
Na visão do presidente da Embraer o uso do Super Tucano pela FAB servirá de vitrine para potenciais compradores internacionais. “Não há como vender para o exterior sem que o avião esteja em uso pela força aérea local”, disse ele, que qualificou a empresa que dirige como o “braço industrial e tecnológico” da FAB. Ele disse, porém, que a empresa vai fornecer para o México um avião de patrulha marítima que ainda não está em uso pela Força Aérea Brasileira.
Botelho vê potencial de negócios envolvendo o modelo com países da América Latina, Europa e Ásia, além do Oriente Médio. “Há certamente possibilidades no Oriente Médio”, afirmou. No início do mês a Embraer participou do Dubai Air Show 2003, realizado nos Emirados Árabes Unidos. No entanto, ele não quis falar sobre os resultados da feira. “Não há nada específico para comentar.”
Botelho falou um pouco, porém, sobre alguns países com os quais a Embraer espera fechar negócios na área de defesa, como o México e a Grécia, para onde ela espera vender aeronaves de vigilância da família 145; a Índia, mercado onde, segundo ele, a empresa já vem trabalhando; e até os Estados Unidos, país onde a Embraer firmou uma parceria com a Lockheed Martin e outras companhias que poderá resultar na construção de uma fábrica em Jacksonville na Flórida para produzir versões modificadas da família 145.
Botelho ressaltou, no entanto, que a confirmação desse último negócio vai depender do contrato de fornecimento que o consórcio conseguir.
Meta
De acordo com Botelho, hoje a divisão de aeronaves de defesa responde por algo entre 10% e 12% das receitas da Embraer. Ele quer aumentar esse percentual para 20% até 2007. “É um plano ousado e significa realizar vários mercados do mundo”, afirmou. Até o terceiro trimestre de 2003 a Embraer obteve uma receita líquida de US$ 1,296 bilhão.
O executivo ressaltou, no entanto, que a Embraer não pretende competir em todos os segmentos da aviação de defesa, mas em alguns nichos, como os de aeronaves de vigilância, treinamento e ataque leve.
Licitação
Ainda no segmento de defesa, Botelho negou que a Embraer esteja estudando desfazer, em troca de uma parceria com a russa Sukhoi, o consórcio com a Dassault francesa para participar da licitação que a FAB vai promover para a compra de novos jatos supersônicos.
“A Embraer não vai se aliar a um programa que será um fracasso”, disse ele, ressaltando que o acordo com os franceses segue firme. Segundo Botelho, o Su-35 Super Flanker dos russos é apenas um protótipo. “Se o Brasil fizer essa opção comparará 12 protótipos e não 12 aviões”, declarou.
O modelo oferecido pela Embraer/Dassault é o Mirage 200BR. Botelho afirmou que, caso a proposta seja vencedora, os jatos serão montados em Gavião Peixoto e haverá total transferência de tecnologia por parte dos franceses.
Jatos comerciais
Botelho acrescentou que a fabricação de aviões militares é essencial para impulsionar o desenvolvimento de aeronaves comerciais. De acordo com ele, se a Embraer não tivesse desenvolvido o AMX na década de 80 em parceria com os italianos, hoje não teria a capacidade tecnológica que utiliza em seus jatos comerciais.
A Embraer aposta forte no crescimento da demanda por jatos regionais com capacidade para carregar entre 30 e 120 passageiros, como os da família ERJ 145 e Embraer 170. A empresa espera entregar o primeiro 170, que pode carregar entre 70 e 78 pessoas, à Alitália em fevereiro de 2004. O avião ainda depende de certificação definitiva por parte das autoridades aeroviárias.
Por outro lado, o primeiro ERJ 145 produzido na China pela joint-venture criada entre a Embraer e a China Aviation II fez seu vôo inaugural esta semana. Botelho acredita que a China terá uma demanda por 300 aviões regionais nos próximos 10 anos.
*O repórter viajou a convite da Embraer