Débora Rubin
São Paulo – Os três técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que estavam no Líbano em uma missão para ajudar a recuperar a agricultura do país, após o conflito recente, voltaram ao Brasil com um levantamento detalhado das regiões visitadas. Foram cinco dias de trabalho intenso durante os quais eles visitaram pequenos agricultores de quatro regiões do país.
Segundo Carlos Reisser Junior, da Embrapa Clima Temperado, que fica em Pelotas (RS), a viagem serviu para que os três, cada um especializado em uma área, conhecessem as particularidades da agricultura local e, a partir disso, pudessem elaborar projetos de melhorias. Reisser, que é doutor em agrometeorologia, conta que o país é um oásis em meio aos demais países árabes. "Ali há muitas condições para o desenvolvimento da agricultura. Há solo adequado, topografia e, o mais importante, água", diz o técnico. "Ali é possível plantar desde banana até cereja."
As quatro regiões visitadas foram o sul do país, uma das zonas mais afetadas pelo conflito deste ano, o norte (região de Trípoli), o Vale do Bekaa e, por fim, o Monte Líbano, parte alta do Líbano onde são produzidas uvas, maçãs e outras frutas. "Ali, os produtores utilizam água de degelo para irrigação", conta Reisser.
As propriedades visitadas eram todas de pequenos agricultores, que usam apenas mão-de-obra familiar. "Eram terras de, no máximo, um hectare, um hectare e meio", diz Reisser. A maior propriedade que eles conheceram foi uma de 300 hectares, no Vale do Bekaa.
No último dia da missão, os três, Reisser, Flávio Gilberto Herter e Wanderlei Ferreira, da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), se reuniram no Ministério da Agricultura libanês para passar o relatório aos técnicos locais. Segundo Reisser, o próximo passo é a vinda dos técnicos libaneses ao Brasil.
"A idéia vai muito além de ajudar a reconstruir o país. Queremos estabelecer um intercâmbio entre os técnicos mesmo", explica o coordenador do trabalho, o pesquisador José Madeira Netto, da Embrapa Brasília.
Contato
Os três brasileiros chegaram ao Líbano em uma semana tumultuada, quando o ministro da Indústria do Líbano, Pierre Gemayel, foi assassinado (dia 21 de novembro). Ainda assim, Reisser diz não ter visto ou vivido nenhuma situação tensa ou de risco.
"Pelo contrário. Fomos sempre muito bem recebidos, em todos os lugares. Eles simplesmente recebem muito bem os brasileiros. Todo mundo, sem exceção, dizia ter um primo, um tio, um parente distante vivendo aqui", conta o técnico da Embrapa. "Eles querem saber tudo sobre o nosso país", diz. Para ele, essa relação só tende a abrir mais portas para a cooperação bilateral na área da agricultura.
Missão
A viagem dos técnicos da Embrapa foi o primeiro resultado concreto de um trabalho que vem sendo desenvolvido pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), pertencente ao governo federal. Em outubro, a ABC enviou uma missão ao Líbano com representantes de diversos órgãos do governo e da iniciativa privada para fazer um diagnóstico de quais áreas o Brasil poderia ajudar. O diretor da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Mustapha Abdouni, também esteve na missão.

