Isaura Daniel
São Paulo – Os pesquisadores brasileiros poderão entender melhor os processos biológicos das plantas a partir da viagem que a nave russa Soyuz fará ao espaço no final do próximo mês. O Brasil enviará cerca de nove experimentos científicos para serem testados na Estação Espacial Internacional (EEI). Um deles é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e servirá para observar como as sementes de Gonçalo Alves, uma árvore típica do cerrado, germinam em um ambiente de gravidade baixa.
A Embrapa aguarda para os próximos dias a confirmação de que o experimento fará parte da missão. Ele está sendo testado por cientistas russos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em São José dos Campos, interior de São Paulo. Quem vai levar o experimento para o espaço é o astronauta brasileiro, Marcos Pontes, que participa da missão ao lado de um russo e um norte-americano. Serão enviados quatro conjuntos, cada um com 10 sementes de Gonçalo Alves. A planta serve para extração de madeira.
De acordo com o chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Maurício Antônio Lopes, o objetivo é, a partir da observação de como a planta germina na microgravidade, entender melhor a influência da gravidade no seu desenvolvimento na Terra. "Onde há gravidade, a tendência é que as raízes cresçam em direção ao centro da Terra e as folhas em direção à luz. Queremos saber como essas orientações serão afetadas", explica Lopes.
De acordo com ele, a comparação dos dois processos vai trazer informações sobre o desenvolvimento biológico das plantas na Terra. O efeito da gravidade sobre a longevidade da planta, a formação das suas células devem ser algumas das perguntas que serão melhor respondidas a partir da experiência. O objetivo, explica Lopes, não é plantar Gonçalo Alves no espaço, mas trazer respostas, por exemplo, sobre como fazer uma planta ter uma vida mais longa.
Será a primeira vez que uma espécie de árvore tropical será enviada ao espaço. Já foram feitas experiências semelhantes com plantas no passado, mas não pelo Brasil e nem com árvores tropicais. "Poucos países têm acesso a essa estrutura", lembra Lopes. De acordo com ele, o envio vai permitir o avanço brasileiro em estudo de processos biológicos sofisticados.
Gonçalo, o escolhido
A Embrapa propôs cinco tipos de experimentos, mas as sementes de Gonçalo Alves foram escolhidas pelo interesse de conservação da espécie, que tem madeira densa, e por questões práticas, como o tempo necessário para a experiência e o peso baixo das sementes. As sementes serão afixadas em um papel de filtro poroso com uma fita especial dentro de um invólucro. A experiência será feita no Brasil no mesmo período que na Estação Espacial para que os dois processos sejam comparados.
A EEI é um projeto científico desenvolvido pela Rússia, Estados Unidos, Japão, Canadá, França, Alemanha, Itália, Suécia, Suíça, Inglaterra, Dinamarca, Bélgica, Noruega, Holanda, Espanha e Brasil. O governo brasileiro vai investir cerca de US$ 15 milhões para participar da missão. É a primeira vez que um astronauta brasileiro vai participar de uma missão espacial. O grupo vai ficar no espaço por duas semanas.
Cientista de escola
Além das sementes de Gonçalo Alves, serão enviadas para teste na EEI duas experiências científicas de escolas municipais de São José dos Campos. Uma delas é a germinação de sementes de feijões e a outra a separação de clorofila nas plantas. Os experimentos serão feitos simultaneamente na Estação Espacial e na cidade de São José por um grupo de 16 crianças de quatro escolas municipais.
A Embrapa está acompanhando o processo nas instituições de ensino. "A intenção é despertar os jovens para a importância da ciência e da tecnologia", explica Lopes. A nave russa parte no dia 30 de março.

