São Paulo – O fluxo mundial de investimentos estrangeiros diretos (IED) somou US$ 1,46 trilhão no ano passado, um aumento de 11% em relação a 2012, de acordo com dados preliminares divulgados nesta terça-feira (28) no Monitor Global de Tendências de Investimentos, publicação da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). O valor ainda está abaixo do recorde de US$ 2 trilhões registrado em 2007, mas próximo da média observada nos anos anteriores à crise financeira internacional de 2008.
A entrada de IED nos países em desenvolvimento, porém, foi recorde em 2013. O fluxo chegou à marca histórica de US$ 759 bilhões, ou 52% do total. Houve um aumento de 6,2% sobre o ano anterior, impulsionado principalmente pela América Latina e Caribe, e pela África, embora seja a Ásia emergente o bloco de nações em desenvolvimento que mais recebe investimentos em termos nominais.
Os investimentos na América Latina somaram US$ 294 bilhões, um crescimento de 18% em comparação com 2013. Foi o quinto ano consecutivo de aumento do fluxo para a região, segundo a Unctad. O desempenho foi influenciado, de acordo com a organização, pela aquisição por US$ 18 bilhões do grupo cervejeiro mexicano Modelo pelo conglomerado belgo-brasileiro AB InBev, que reúne a brasileira Ambev, a belga Interbrew e a norte-americana Anheuser Bush.
O Brasil, porém, permanece como maior receptor de IED da região, com US$ 63 bilhões no ano passado, 3,9% a menos do que em 2012. Os dados divulgados recentemente pelo Banco Central do Brasil (BC), no entanto, são um pouco diferentes, apontam um fluxo de IED superior e US$ 64 bilhões, com uma queda de 2,9% sobre ano anterior.
Na seara global, o Brasil foi o sétimo maior destino de investimentos em 2013, sendo que em 2012 havia ficado na quinta posição. A Unctad ressalta que, apesar do recuo, a quantia recebida pela economia brasileira continua “relevante”, sendo que se seguiu a “crescimentos fortes” e a “recordes históricos” nos anos anteriores.
Segundo a Unctad, a expectativa do fim dos estímulos monetários nos Estados Unidos, principalmente da chamada “quantitative easing”, pela qual o Fed, o banco central norte-americano, injeta dólares na economia, provocou volatilidade no mercado internacional. Isso causou forte impacto em alguns países emergentes, que tiveram desvalorização de suas moedas, quedas nas bolsas de valores e perda de capital estrangeiro especulativo. O Brasil se enquadra nesse cenário.
África
O fluxo de investimentos para a África também cresceu, em 6,8%, para US$ 56,3 bilhões. Na região norte, destaque para o Marrocos, que recebeu US$ 3,5 bilhões, um aumento de 24% sobre o ano anterior. Segundo a Unctad, foi o único país árabe do continente a registrar “crescimento sólido”. A organização informa, porém, que “há sinais de que investidores estão prontos para retornar à região, com diversos negócios internacionais com o Egito como alvo”.
No Oriente Médio, no entanto, a história é outra, houve declínio do fluxo pelo quinto ano consecutivo. Desta vez a queda foi de 20% para US$ 38 bilhões. Ocorreram declínios significativos nos investimentos estrangeiros realizados nos dois principais destinos da região, a Arábia Saudita e a Turquia, de 19% para US$ 9,9 bilhões e de 15% para US$ 11 bilhões, respectivamente.
“A Turquia observou virtualmente uma ausência de grandes negócios envolvendo IED. Além disso, a piora da instabilidade política em muitas partes da região criou incerteza e afetou negativamente os investimentos”, informou a Unctad.
A organização destacou também os investimentos realizados nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que são as principais economias emergentes do mundo, de US$ 322 bilhões, 22% do total global e duas vezes o valor registrado antes da crise de 2008. De 2012 para 2013, o número cresceu 21%. O maior avanço, de 126%, ocorreu na África do Sul, e o Brasil, com a queda, ficou na lanterna entre os membros do bloco em termos de desempenho de um ano para o outro.
Os investimentos nas economias desenvolvidas, por sua vez, cresceram 12% e chegaram a US$ 576 bilhões, o que indica um processo de recuperação, de acordo com a Unctad. O valor, porém, ainda é 44% menor do que recorde atingido em 2007. A fatia dos países ricos no bolo global, que já foi a maior, hoje representa 39%. O fluxo de IED nos Estados Unidos continuou a recuar, mas o país ainda é o que mais recebe recursos.


