São Paulo – Formada por 53 países, a África tem na diversidade uma das suas características mais marcantes. São diferentes raças, idiomas, religiões, costumes e graus de desenvolvimento econômico. Em comum, boa parte das nações tem a influência da colonização européia, com processos de independência relativamente recentes, e o fato de representar um novo mercado para empresas de grandes países emergentes como Brasil, China, Índia e Turquia.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Welber Barral, destaca que a África tem maior necessidade de produtos industrializados e menos barreiras comerciais do que os países ricos, como os Estados Unidos e a União Européia, tradicionais destinos das exportações brasileiras. “É um mercado mais aberto”, afirmou.
As nações africanas costumam ter fortes relações comerciais com suas ex-metrópoles. Assim, ex-colônias francesas têm muitos negócios com a França, ex-protetorados britânicos com o Reino Unido e assim por diante. As empresas brasileiras e de outros países emergentes chegam para contrariar essa lógica.
A língua é um fator facilitador do comércio dos europeus com suas ex-colônias e, embora o Brasil nunca tenha colonizado ninguém, muitos empresários buscam negócios com ex-protetorados portugueses.
Angola, por exemplo, é um dos mercados mais procurados pelos brasileiros no continente. No primeiro semestre, segundo dados do MDIC, o país foi o terceiro principal destino das exportações brasileiras para a África.
O grupo Odebrecht é um dos que têm negócios em Angola nas áreas de construção, mineração e exploração de petróleo. A empresa está presente também em Moçambique, outro país de língua portuguesa.
Petróleo
Angola é um dos países apontados pelos especialistas como promissores para os empresários brasileiros. Além da facilidade de comunicação, o país é rico em petróleo, cujas exportações têm impulsionado a economia. A disponibilidade de commodities facilita também a obtenção de financiamentos para os negócios, pois elas podem ser usadas como garantia, conforme a ANBA mostrou em outra reportagem sobre a África, publicada nesta segunda-feira (12) de manhã.
“Todos os produtores de petróleo são bons mercados”, disse o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Nessa seara, entram também países como Nigéria, Argélia e Líbia, respectivamente, quarto, quinto e sétimo principais destinos das exportações brasileiras à África.
O Egito é o maior mercado do Brasil no continente, com exportações de US$ 733 milhões no primeiro semestre, seguido da África do Sul, maior economia africana, com US$ 633 milhões. “O Egito não é só o maior destino, mas o Brasil tem também um grande saldo comercial com o país”, observou Barral. O superávit no comércio bilateral foi de US$ 676 milhões nos primeiros seis meses do ano, número importante em uma época em que as importações brasileiras sobem mais do que as exportações.
Mesmo sendo um mercado já consolidado, Barral destaca que a importância do Egito para os exportadores brasileiros pode crescer ainda mais, uma vez que o país está prestes a assinar um acordo de livre comércio com o Mercosul. O bloco sul-americano já tem um acordo de preferências tarifárias fixas com os países da África Austral, entre os quais a África do Sul é o principal destaque. O Brasil tem uma aliança estratégica com os sul-africanos, que inclui também a Índia, o chamado diálogo IBAS.
Barral ressalta também as oportunidades nos países do Magreb, especialmente Argélia, Marrocos e Líbia. O secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, lembra que a Argélia acumula tradicionalmente um enorme superávit comercial com o Brasil, pois é nosso segundo maior fornecedor de petróleo, atrás apenas da Nigéria. “O Brasil merece uma maior presença na Argélia em função desse déficit”, declarou.
A Líbia, também grande produtora de petróleo, entrou no foco das empresas brasileiras nos últimos anos, especialmente das construtoras. Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão estão presentes no país.
Agricultura
O Marrocos, sexto maior mercado brasileiro na África, é grande fornecedor de minerais fosfatados para a indústria brasileira de fertilizantes. O país, segundo Alaby, negocia atualmente um acordo de cooperação na área de energia com o Brasil, que poderá resultar futuramente na produção de etanol em território marroquino. Isso representa uma oportunidade para os exportadores de máquinas agrícolas e de equipamentos para a indústria sucroalcooleira.
Para Alaby, os setores com maior potencial de negócios na África são os de máquinas agrícolas, veículos, material de construção, equipamentos médicos e alimentos. Na seara agrícola, ele citou também o Sudão, maior país do continente, como mercado a ser mais explorado pelas empresas brasileiras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em mais de uma ocasião que o Brasil vai ajudar a África a promover sua própria revolução verde. Na área pública, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), referência no setor, realiza uma série de projetos em cooperação com governos africanos e tem um escritório em Gana. Mais recentemente, a iniciativa privada tem olhado com maior interesse para negócios no setor no continente.
A África já é vista como nova fronteira agrícola, por exemplo, pelos países árabes do Golfo, que com poucas áreas para produção de alimentos, têm investido em países africanos para suprir suas demandas internas.

