Emirates News Agency
Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) – Os Emirados Árabes Unidos querem atingir um nível recorde na produção de petróleo nos próximos dois anos. A meta é chegar à marca de 2,5 milhões de barris por dia, por meio da expansão da capacidade produtiva, para atender à crescente demanda internacional e evitar uma crise de fornecimento.
Analistas ocidentais acreditam que os Emirados têm o potencial para ir até além dos 2,5 milhões de barris diários, dadas as enormes reservas de óleo bruto existentes no país e a grande quantidade de capital investida para desenvolver e manter os campos de petróleo locais.
Os Emirados, que controlam cerca de 10% das reservas recuperáveis mundiais, não chegaram a produzir 2,5 milhões de barris por dia em 2003, mas estiveram próximos disto. No entanto, espera-se que a média de produção até o final de 2004 retroceda para 2,2 milhões ou 2,3 milhões de barris diários.
De acordo com previsões do instituto londrino Centre for Global Energy Studies (CGES) e do Business Monitor International (BMI), a produção no próximo ano pode aumentar levemente para 2,35 milhões de barris e atingir a marca de 2,5 milhões de barris em 2006.
"As exportações dos Emirados Árabes Unidos e outros principais produtores devem aumentar drasticamente nos próximos dois anos, como resultado do aumento constante na demanda mundial e do rompimento no fornecimento de algumas áreas", afirmou o analista chefe do CGES, Leo Drollas.
"É normal que a maior parte do aumento dessa demanda seja atendida pelos produtores do Oriente Médio, dado o tamanho se suas reservas de petróleo bruto e o potencial de produção", acrescentou ele, em entrevista ao jornal Gulf News.
Atualmente, os Emirados bombeiam mais de 2,2 milhões de barris por dia. No entanto, o fornecimento deve aumentar nas próximas semanas, após o acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) de aumentar a produção para controlar os preços, que aumentaram em níveis históricos no último mês. No mercado internacional, a cotação do barril bateu em US$ 50 na semana passada.
Capacidade para mais
Fontes na indústria estimam que a produção sustentável dos Emirados, isto é, a capacidade de bombear a mesma quantidade por pelo menos seis meses ininterruptos, seja de 2,6 milhões de barris diários; ao passo que, em 2000, era de cerca de 2 milhões de barris e, em 1995, de 1,5 milhões.
A capacidade produtiva deve atingir 3 milhões de barris por dia nos próximos cinco anos e chegar a 4 milhões num prazo mais longo, como resultado do enorme investimento no setor petrolífero, principalmente em Abu Dhabi, que controla 90% das riquezas em petróleo bruto e gás natural do país. De acordo com dados do Ministério do Petróleo e Recursos Minerais, os Emirados Árabes investiram mais de US$ 8 bilhões no setor petrolífero nos últimos quatro anos.
A maior parte dos recursos veio da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc), encarregada da maioria dos projetos de expansão nos campos do país, onde há cerca de 98 bilhões de barris de recursos brutos a serem extraídos.
A Adnoc está envolvida faz uma década em um grande programa de expansão da capacidade produtiva de petróleo e gás natural, em colaboração com seus parceiros ocidentais e do Japão. Estima-se que foram feitos investimentos de mais de US$ 15 bilhões nos últimos dez anos.
"Os Emirados e outros gigantes de petróleo do Golfo (Arábico) terão papel-chave no fornecimento global de petróleo, já que outras fontes estão se esgotando", afirmou uma fonte do setor. "Sua participação de mercado atualmente não passa de 20%, mas espera-se que atinja 40% nos próximos 10 a 15 anos", acrescentou a mesma fonte.
Apesar do aumento esperado na produção, o faturamento com petróleo nos Emirados Árabes Unidos deve cair nos próximos dois anos. Isto porque, apesar dos preços hoje em alta, espera-se que as cotações caiam nos próximos meses. A receita deve atingir algo entre US$ 27 bilhões e US$ 29 bilhões este ano, cair para US$ 21 bilhões em 2005 e para US$ 19 bilhões em 2006.
Mercado reage mais a boatos do que a boas notícias
Para o chefe do departamento de pesquisas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Adnan Shihab El Din, um dos fatores para salto nos preços é a reação exagerada do mercado a boatos e não a fatos concretos.
Se os Emirados pretendem aumentar sua produção no prazo de dois anos, a Arábia Saudita, que detém as maiores reservas de petróleo do mundo, anunciou que vai aumentar sua capacidade produtiva para 11 milhões de barris por dia nas próximas semanas.
De acordo com El Din, o anúncio saudita terá impacto temporário, enquanto boatos sobre interrupções no fornecimento de petróleo produzem efeitos mais fortes. "A decisão tomada na terça-feira (28) por Riad terá impacto apenas temporário, pois o mercado dá mais atenção a boatos e receios do que notícias boas e verdadeiras", disse.
Em entrevista à Emirates News Agency, El Din acrescentou que "infelizmente o mercado não reagiu ao aumento na produção do Iraque para 2,5 milhões de barris por dia, mas sim à possibilidade de que a Nigéria interromperia seu fornecimento".
Para ele, o preço do petróleo nas últimas semanas foi afetado principalmente por fatores psicológicos, e enfatizou que é de fundamental importância encontrar um equilíbrio no mercado neste momento. "A Opep não deveria dar atenção às flutuações diárias oriundas de preocupações sem fundamentos, e sim dar continuação ao plano de aumentar a capacidade produtiva para atender à crescente demanda mundial por petróleo", afirmou.
"A OPEP tem capacidade extra de 1,5 milhões a 2 milhões de barris por dia, a demanda por petróleo bruto não deve exceder 29 milhões de barris diários em 2005 e atualmente estamos produzindo cerca de 30 milhões de barris por dia. A Opep precisa aumentar sua capacidade produtiva em 2 milhões de barris diários nos próximos anos, paralelamente às taxas de crescimento da economia global", acrescentou. Ele acredita que nos próximos cinco anos o grupo deverá investir $ 25 bilhões na expansão da capacidade produtiva.
Quanto ao preço praticado pelos integrantes da entidade, ele disse que a Opep está estudando mudar a faixa de preço atual de US$ 22-28 por barril. El Din não fez, porém, uma projeção da nova faixa de preços, limitando-se a dizer que ela deverá ser aceitável para o mercado. O objetivo final é estabilizar as cotações, mas não em resposta a fatores circunstanciais de receios e boatos.