São Paulo – A cultura dos Emirados Árabes Unidos é um misto do novo, do antigo e do cedido. É também uma cultura do coletivo e não do individual. E apesar da data de fundação do país ser 1971, quando os sete emirados formaram a nação, a história do povo dos Emirados é milenar.
Foi essa visão geral que deu sobre seu país a consultora de Pesquisa no Arquivo Nacional dos Emirados Árabes Unidos, Aisha Bilkhair (foto acima), durante a palestra “Perspectivas Sociais e Históricas dos Emirados Árabes Unidos”, realizada nesta segunda-feira (31), na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo.
Para falar das diferentes vertentes culturais do seu país, ela usou como exemplo um costume antigo dos povos árabes, de dar para a noiva uma caixa de presente, na qual é posto algo da avó, que é herdado, algo do marido, ou seja, novo, e algo do vizinho, que foi emprestado. “É disso que se trata a nossa cultura, algo novo, algo antigo e algo emprestado ou cedido”, afirmou ela.
A pesquisadora deu vários exemplos de achados arqueológicos do seu país que remontam à história de um povo bem antigo, como uma pérola de 7.500 anos encontrada em escavação, além de outra de 8.000 anos, vestígios da Idade da Pedra e da Idade do Ferro, e uma carta do Profeta Maomé chamando pessoas da região ao islamismo.
“Não somos nada novos”, disse a especialista, que fez um breve apanhado sobre os domínios de povos estrangeiros na região, como os portugueses e os britânicos, e as lutas com os que ali viviam. Ela também contou sobre o costume da pesca de pérolas no país e de como o início do “cultivo” de pérolas, pelo Japão, impactou a atividade.
Bilkhair falou do sentimento de coletividade e da transmissão de cultura que há em seu povo. Ela deu como exemplo a convivência forte em famílias, com filhas, mães e avós vivendo na mesma casa ou na casa ao lado. “Geração após geração temos transmissão de cultura e isso não ocorre quando você separa gerações”, disse. “A nossa cultura é uma cultura do nós e não uma cultura do eu, é uma cultura voltada à comunidade e não para o individual”, falou.
A consultora deu vários exemplos curiosos de costumes mais antigos no país. Um deles foi a forma com que se fala com as crianças muito pequenas, usando expressões vindas de hieróglifos egípcios. “Nam Nam” é a expressão pela qual os bebês se referem à comida. É ensinado também às crianças que dias de chuva são felizes e por isso elas devem cantar e dançar quando chove. “Faz as pessoas pensarem em grupo e celebrarem em grupo”, disse.
Bilkhair se deteve ainda em contar sobre o papel e tratamento dado às mulheres em diferentes momentos da história. Ela relatou o respeito às pegadas de mulheres no deserto, que quando encontradas não deviam ser seguidas por um homem, o papel que elas tiveram na resolução de problemas entre tribos, e como foram e são incentivadas a estudar. “A gente não podia faltar um dia na escola”, disse a consultora, sobre sua própria experiência.
O encontro na Câmara Árabe reuniu cerca de 60 pessoas. A palestra foi aberta pela vice-presidente de Comunicação e Marketing da instituição, Silvia Antibas, que é historiadora. Ela contou das iniciativas da Câmara Árabe em prol da cultura, como a Casa Árabe, braço da instituição que promoveu a palestra de Aisha Bilkhair. O evento foi realizado em parceria com o Consulado dos Emirados Árabes Unidos em São Paulo.