Emirates News Agency
Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) – No Golfo Árabe, 200 quilômetros a oeste da cidade de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, a Ilha de Delma não parece uma faixa do deserto. Ao invés disso, é como se uma gigantesca fazenda tivesse sido arrancada de algum país agrícola europeu e levada para Abu Dhabi.
As pessoas que visitam a ilha ficam surpresas ao ver repolhos, couve-flores, cebolas, pepinos, tomates, melões, pimentões, salsa, bananas e mangas crescendo. A surpresa maior vem ao perceber no local também maçãs, pêras, morangos, figos, amêndoas, uvas, laranjas, limões, azeitonas, kiwi, e cedros, incomuns à região.
Segundo dados da agência de notícia Gulf News, acaba de ser lançado um projeto para introduzir ainda mais plantas à ilha. O projeto será financiado pelo presidente dos Emirados Árabes Unidos, o xeque Zayed bin Sultan Al Nahyan. O presidente quer fazer o país chegar à auto-suficiência agrícola e programa até exportação do excedente.
O projeto de Al Nahyan prevê a implantação de 140 novas fazendas na ilha durante os próximos dois anos. A maioria delas vai cultivar produtos estranhos ao clima de deserto e mais apropriados a temperaturas baixas.
Habitantes da ilha ficaram surpresos com a transformação pela qual o antigo trecho de deserto passou nos últimos 20 anos. "Não digo que parece um milagre, é certamente um milagre," disse Abdullah Al Qubaisi, um morador de Delma. "Em que outro lugar pode-se encontrar todos estes tipos de frutas e verduras em uma pequena área árida?"
Novos tipos de verduras e frutas devem passar a ser cultivados no local, como parte do projeto financiado pelo xeque. Delma tem cerca de 500 limoeiros e a intenção é aumentar este total para mais de 1,1 mil. Cerca de 470 laranjeiras serão plantadas, somadas às 575 existentes.
Também serão introduzidas mais 168 romãzeiras, se juntando às 205 que já fazem parte da ilha, e cerca de cem figueiras, 30 oliveiras, 70 mangueiras, 125 pereiras e 20 bananeiras. Três cafeeiros e cinco macieiras vão começar a ser plantados a título de teste.
O grande projeto
A expansão de Delma faz parte de um grande programa agrícola envolvendo todos os emirados. A meta é reduzir o grande custo de importação alimentar e a desertificação, além de proteger o meio ambiente e atrair animais silvestres para a região.
Foram feitos vários investimentos no setor agrícola, em uma tentativa de transformar os Emirados no maior produtor agrícola entre os países árabes, apesar de o clima e de o terreno serem os mais secos da região. Algumas regiões receberam, inclusive, para isso, um sistema de resfriamento que reduz a temperatura local.
Os Emirados Árabes são o quinto maior exportador de produtos agrícolas entre os países árabes, o segundo maior importador e têm uma das maiores rendas per capita do setor agrícola na região.
As exportações agrícolas do país totalizaram cerca de US$ 560 milhões em 2002, incluindo verduras e frutas, cereais, carnes, ovos, derivados do leite, e outros produtos. Este valor é quase o dobro dos US$ 213 milhões exportados em 1995, e mais de dez vezes as exportações registradas logo após a criação do país, em 1971, segundo dados da Organização Árabe para Desenvolvimento Agrícola, organização baseada em Cartum, capital do Sudão.
Em termos de produção de pescado, os Emirados estão entre os principais produtores na região, com uma produção de 124 mil toneladas em 2001, o quinto maior volume, atrás apenas do Marrocos, Egito, Mauritânia, e Iêmen.
Dados do Ministério de Planejamento mostram que cerca de US$ 4,2 bilhões foram investidos em produção agrícola no país na última década. Tais investimentos elevaram a participação do setor agrícola no produto interno bruto do país.
Revolução agrícola
Milhares de hectares de deserto já foram transformados em área cultivada. Além da Ilha de Delta, há projetos agrícolas espalhados por várias regiões dos Emirados. A Al Jarf, uma outra área de deserto, por exemplo, agora é um grande pomar com 500 mil árvores.
Os moradores dos Emirados interessados em plantar recebem investimentos por parte do governo, como concessões de terras, empréstimos para compra de equipamentos, fertilizantes e sementes, além de orientação técnica. Muitas novas pequenas fazendas, com áreas entre dois e três hectares, estão surgindo a partir deste incentivo.
Esses pequenos empreendedores, além de cultivar frutas, também criam animais e fazem as suas próprias rações, o que também está fomentando a produção leiteira. Hoje o país já supre 90% da sua demanda por produtos lácteos.
O país também obteve no ano passado a sua segunda maior colheita de frutas cítricas. As 325 mil árvores de frutas cítricas produziram cerca de 22 mil toneladas de frutos.
Também foram colhidas 9,1 mil toneladas de manga, 331 mil toneladas de tomate, 34,5 mil toneladas de cebola, 28,5 mil toneladas de repolho, 27,4 mil toneladas de moranga e 20,2 mil toneladas de berinjela, além de outros legumes e verduras.
Petróleo
O projeto agrícola também está ajudando o país a diminuir a sua dependência do petróleo. A indústria petrolífera é a principal do país, seguida pelo setor de alumínio. Os Emirados ocupam a terceira posição entre os países com maior reserva da commodity no mundo.
No país vivem cerca de quatro milhões de pessoas. Até o ano de 2002 apenas 12% da população vivia no campo.

