São Paulo – Um jovem empreendedor da cidade gaúcha de Pelotas fez do seu negócio uma maneira de nutrir o apoio dos brasileiros à causa Palestina. Ali Mahmoud Yousef Amer criou em janeiro deste ano a Al Baraka, loja virtual que comercializa no Brasil produtos simbólicos do país árabe. Parte da receita das vendas é destinada aos atingidos pelo conflito na Faixa de Gaza.
Al Baraka vende artigos como camisetas do futebol palestino, lenços tradicionais chamados kufiyas ou hatas, além de peças com o nome Palestina ou outras alusões ao país, como colares, pingentes, camisetas, moletons, bonés, quadros, bandeiras e adesivos. Há também alguns produtos usados por muçulmanos em geral, como hijab, que é o lenço feminino, abayas, que são as vestes longas para mulheres e homens, e tapetes para oração.
Amer desenvolve os produtos e os encomenda a um fornecedor na China, em um modelo de negócios chamado dropshipping, em que o lojista trabalha como intermediário entre o fabricante e o consumidor final. “A qualidade é muito boa”, diz, sobre o que vem do fornecedor atual. O plano futuro, no entanto, é comercializar produtos fabricados nos países árabes, inclusive na própria Palestina, e ampliar a gama de itens oferecidos.
Amer, que tem 17 anos, conta que a ideia do negócio surgiu no final do ano passado, quando teve que fazer uma cirurgia e ficou por muito tempo acamado, com várias horas do dia livres para pensar. Observando negócios similares, mas que precisavam ser melhorados, e baseado em uma experiência com dropshipping do irmão, além do amor pela Palestina, resolveu levar o projeto adiante. “Para os brasileiros terem algo para demonstrar o seu apoio à Palestina”, afirma.
O empreendedor relata que a maioria dos clientes não são árabes ou palestinos que vivem no Brasil e sim brasileiros. “Você vê que isso não é apenas um negócio, que você está fazendo alguma coisa por seu país também”, afirma, sobre o apoio à Palestina que promove. Apesar de ter nascido no Brasil, Amer é palestino, já que é filho de um casal da Palestina. Para a Faixa de Gaza, o jovem envia 10% do faturamento através de grupos humanitários e conhecidos da família.
Na Palestina e no Brasil
A história de Amer e seus familiares está estreitamente ligada à Palestina. O pai Mahmoud Yousef Ali Amer se mudou para o Brasil aos 19 anos. Depois de ficar alguns dias em São Paulo, foi para o Sul do Brasil, transitou por outras cidades gaúchas, como o Chuí, na fronteira com o Uruguai, e se estabeleceu em Pelotas, onde atualmente possui uma loja de departamento e duas de produtos eletrônicos.
Os negócios foram construídos no Brasil, mas os vínculos com a Palestina não se desfizeram. Ao contrário, seguiram bem fortes com o decorrer dos anos. Assim Mahmoud se casou com uma conterrânea palestina e fez questão de que os filhos – quatro rapazes e uma menina – passassem longos períodos na Cisjordânia para conviver com os familiares, aprender a cultura local e se firmar na religião, que é muçulmana. O próprio Mahmoud e a esposa costumam ficar por meses seguidos na Palestina.
O sonho de Mahmoud é que um dos seus filhos assuma os negócios em Pelotas para que ele esteja mais livre para passar longos períodos na terra natal. Mas a filha ainda é nova, os filhos mais velhos estudam para outras profissões e Amer convive com a forte vontade de estar na Palestina. “Lá temos família, tios, primos, é diferente”, diz Amer. Saber que ele tem uma causa a defender para o país também fortalece os vínculos com a região.
Falando com a ANBA juntamente com o filho, Mahmoud afirma que adora o Brasil e o considera sua segunda pátria. “Ir para a Palestina para sempre e nunca mais voltar para o Brasil, isso nunca, jamais”, afirma o comerciante. “As duas são minhas pátrias”, afirma, reforçando que quer mesmo estar um pouco em cada lugar. Pai e filho estão preocupados e indignados com o que enfrentam os palestinos atualmente em Gaza.