Trípoli – Além de know-how, materiais, equipamentos e máquinas, a Odebrecht precisou trazer para a Líbia um exército de trabalhadores de 31 nacionalidades diferentes para executar as obras que tem no país. São por volta de cinco mil empregos diretos e mais 1,1 mil indiretos, segundo o CEO da companhia em Trípoli, Leonardo Villar.
Do total, 260 são funcionários da própria empresa remanejados de outros países e que são considerados “estratégicos”. De acordo com Villar, a companhia tem como política colocar gente de seus próprios quadros em pelo menos metade das funções técnicas e administrativas para “trazer a cultura da empresa”. “A outra metade vem do mercado”, disse o executivo.
A mão-de-obra internacional está presente em todos os níveis do negócio, desde o canteiro de obras até o mais alto posto de chefia. Os brasileiros, como Villar, são 160. Para administrar essa verdadeira Babel, a empresa tem que cuidar de detalhes que vão da alimentação à montagem de hierarquias de trabalho, que tentam agrupar pessoas da mesma origem.
Além dos brasileiros, há egípcios, turcos, tailandeses, vietnamitas, colombianos, argentinos, mexicanos e, é claro, líbios, entre vários outros. Para toda essa gente é preciso fornecer alojamento, uniformes, transporte e assistência médica.
“Para cuidar da alimentação, muitas vezes trazemos cozinheiros do país de origem dos trabalhadores. Procuramos colocar encarregados da mesma nacionalidade [dos subordinados] para que ele tenha liderança sobre o grupo”, afirmou Villar, ao citar dois exemplos de como a empresa lida com a questão.
Os operários são, em sua maioria, tailandeses, vietnamitas, turcos e egípcios, recrutados em boa parte por meio de empresas contratadas pelos governos dos próprios países de origem. São geralmente homens que buscam empregos no exterior para mandar dinheiro para suas famílias. Essas companhias cuidam do treinamento e do transporte do trabalhador para o país da obra. O vínculo empregatício, porém, é com a Odebrecht.
Segundo Villar, muitos países com grande disponibilidade de mão-de-obra têm como política fomentar a procura de trabalho no exterior como maneira de ampliar a atração de divisas, por meio das transferências às famílias, e de know-how. O Egito, por exemplo, tem na renda de seus expatriados uma fonte importante de entrada de capital externo.
Cerca de 23% dos funcionários são líbios e eles trabalham principalmente em serviços administrativos e na operação de máquinas. “Todos os nossos motoristas, por exemplo, são líbios. Também temos engenheiros, advogados e contadores. Nós procuramos maximizar as contratações locais pois com eles é mais fácil entender o sistema do país e se comunicar”, afirmou o executivo. A porcentagem de líbios só é menor do que a de tailandeses.
Já os brasileiros são considerados um diferencial importante da companhia. “O brasileiro tem uma flexibilidade muito grande pois o Brasil tem tanta mistura de raças e todo mundo convive bem”, disse Villar. Ele acrescentou que o brasileiro tem como costume botar a mão na massa para mostrar ao funcionário como é que se faz o trabalho, o que garante um bom nível de aprendizado.
Um desses profissionais do Brasil é o carioca Diego Berrino, que trabalha como administrador nas obras do novo aeroporto de Trípoli. Há 10 anos na Odebrecht, ele antes passou dois anos em Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Há cerca de um ano no país, Berrino diz que a adaptação na Líbia é mais difícil do que nos Emirados. Ao contrário do país do Golfo, onde os estrangeiros são maioria, na Líbia ocorre o contrário, e a maior parte da população só fala o árabe. Menos cosmopolita, o país tem também costumes mais arraigados.
“Mas tenho contato com os locais, tento vivenciar a cultura deles e até já fui convidado para um casamento”, disse Berrino. Ao dizer ao colega que ia falar com sua mulher – a fisioterapeuta gaúcha Julliana Lopes – sobre o evento, ficou surpreso ao saber que havia festas separadas para os homens e as mulheres.
Berrino é um dos 20 funcionários estrangeiros que trouxeram mulher e filhos para a Líbia. Aliás, mais do que isso, além do filho Gabriel, de apenas nove meses, o casal trouxe a babá, Vera, de Uruguaiana, assim como a patroa, e uma cachorrinha, a yorkshire Lua.
No início, Berrino morou sozinho em Trípoli, pois Julliana estava grávida e deu a luz no Brasil. Ela se mudou quando Gabriel tinha três meses. Para ela, que tinha vida profissional e social mais ativa no Brasil e nos Emirados, a adaptação foi mais difícil, pois se viu na posição de dona de casa enquanto o marido trabalha, da mesma maneira que trabalhava nos outros lugares.
Julliana diz, porém, que o filho ajuda muito, pois ocupa boa parte do seu tempo. Como outros estrangeiros da Odebrecht moram perto, logo se formou um círculo de amizades. Na sexta-feira, dia de descanso nos países árabes em geral, o programa mais comum é ir a churrascos na casa dos amigos. Outras opções do casal são sair para jantar e freqüentar o clube da própria empresa.
Mesmo com saudades da família, dos amigos brasileiros e de uma vida social mais agitada, Julliana não cogita voltar tão cedo ao Brasil. O trabalho no exterior dá ao marido condições profissionais e financeiras melhores do que as que ele teria no Brasil, a oportunidade do filho pode estudar em colégios de alto padrão e da família morar em uma casa ampla e confortável.

