Amã – Atender o mercado brasileiro está no cerne da expansão planejada pela Arab Potash Company (APC), produtora de potássio da Jordânia. Durante visita do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Marcos Montes (foto acima), à empresa neste sábado (07), executivos da companhia anunciaram aumento de exportação, além de abertura de escritório e futura operação produtiva no País.
Acompanhado de delegação empresarial ligada ao agronegócio, o ministro desembarcou nesta sexta-feira (06) pela noite na Jordânia como parte de uma missão a três países árabes na busca de alternativas para o fornecimento de fertilizantes ao Brasil. Além da Jordânia, Montes visita até a próxima sexta-feira (13) Egito e Marrocos. A Câmara de Comércio Árabe Brasileira participa da missão.
A Arab Potash é a única fabricante de potássio dos países árabes e já é fornecedora do Brasil. A empresa começou a exportar ao mercado brasileiro em 2019, um volume 42 mil toneladas, passando para 154 mil toneladas em 2020 e 138 mil toneladas em 2021. No primeiro trimestre de 2022 já foram embarcadas 91 mil toneladas, com perspectiva de passar de 300 mil toneladas até o final do ano, segundo a empresa.
“Queremos aumentar nossa produção e abastecer principalmente o mercado brasileiro”, afirmou à delegação do Brasil o presidente e CEO da Arab Potash, Maen Nsour. A partir da expansão da produção, a companhia jordaniana pretende vender 500 mil toneladas ao Brasil em dois anos e chegar a 1,2 milhão de toneladas em 2026, segundo Nsour disse à reportagem da ANBA.
Atualmente o Brasil importa 95% do potássio que consome, 12 milhões de toneladas. Os maiores fornecedores internacionais do produto ao mercado nacional são Rússia, Canadá e Belarus. A guerra Rússia-Ucrânia, porém, vem gerando inseguranças no atendimento. Frente ao cenário, o governo federal brasileiro lançou o Plano Nacional de Fertilizantes, buscando alternativas, inclusive, incentivando a produção doméstica.
Arab Potash no Brasil
A Arab Potash, além de exportar mais ao Brasil, pretende abrir uma representação no País até o final deste ano. “Assim teremos três escritórios, na China, na Índia e no Brasil”, disse Nsour à delegação. Já os planos de ter uma operação produtiva no Brasil são para daqui dois anos. “Vamos aumentar cada vez mais nossas exportações ao Brasil e posteriormente pensamos em investir no Brasil, construir fábricas de fertilizantes no Brasil”, revelou o CEO da empresa.
O ministro Marcos Montes se mostrou entusiasmado com os anúncios. “A primeira notícia que aqui escutei me deixa muito feliz, o investimento de empresas como essa no Brasil, mas hoje aqui precisamos estreitar mais o relacionamento, e podemos importar mais o potássio aqui da Jordânia”, disse, colocando o ministério à disposição para ajudar na abertura do escritório. Ele esclareceu que o governo não compra o potássio, mas é um instrumento para que cooperativas e empresas possam negociar.
A Arab Potash trabalha com extração de potássio do Mar Morto. A empresa produz 2,6 milhões de toneladas de potássio ao ano, mas o maior volume não é do vermelho granulado, tipo que o Brasil importa. A produção desse fertilizante que interessa ao mercado brasileiro, no entanto, vem crescendo na Arab Potash, e saiu de 69 mil toneladas em 2019 para 381 mil toneladas no ano passado. A meta é chegar a 1,2 milhão de toneladas do potássio vermelho granulado em 2023, segundo informou Nsour.
Em apresentação para a delegação, o CEO da Arab Potash deixou claro que há forte disposição para que boa parte do aumento de produção da empresa seja direcionado ao mercado brasileiro. “Estamos estudando a demanda internacional, principalmente a brasileira”, disse Nsour. Ele também sinalizou que os investimentos na produção atual de potássio vermelho tiveram o Brasil como principal motivação e que a empresa vai investir em qualidade para atender as exigências dos importadores do País.
O executivo contou ainda do apoio que a empresa tem no governo jordaniano ao comércio de potássio com o Brasil, com manifestações por parte do rei Abullah II e do Ministério da Agricultura local. Além do CEO da empresa, o membro do conselho, Shehadah Abu Hdaib, também falou para os brasileiros, ressaltando as excelentes relações do Brasil e da Jordânia e a disposição para colaborar em adubos. “Faremos de tudo para abastecer o mercado brasileiro de fertilizantes”, disse ele.
Parceria na segurança alimentar
Na visita à empresa, o ministro Marcos Montes falou aos jordanianos das perspectivas da produção agrícola do Brasil, que neste ano deve chegar perto de 300 milhões de toneladas, e da importância do abastecimento de fertilizantes para que o País siga exportando alimentos ao mundo. Ele falou que há expectativa muito grande de aumentar a importação de potássio da Jordânia e convocou os jordanianos a trabalharem juntos com o Brasil pela segurança alimentar. “A responsabilidade é nossa, do Brasil, mas também é de vocês, que produzem esse potássio”, disse o ministro.
O embaixador do Brasil na Jordânia, Ruy Amaral, disse à ANBA que a visita do ministro marcará um antes e um depois no processo de aproximação entre Brasil e Jordânia. “O Brasil é um país riquíssimo em água – o que é uma das razões do nosso sucesso como exportador de commodities -, mas pobre em fertilizantes. A Jordânia, ao contrário, é um país paupérrimo em água e muito rico em fertilizantes, com grandes reservas de fosfato, produz potássio de grande qualidade. Temos tudo para fazer uma parceria muito proveitosa mutuamente, levando para o Brasil os fertilizantes jordanianos e trazendo de volta água sob forma de produtos agrícolas”, afirmou ele.
A diretora de Relações Institucionais da Câmara Árabe, Fernanda Cândido Baltazar, também vê essa aproximação como benéfica para os dois países e acredita que a missão terá frutos. “A missão do Ministério da Agricultura aos países árabes reforça a importância estratégica desse mercado para o Brasil e iniciamos da melhor forma possível, em visita técnica à Arab Potash, que tem o Brasil como importante mercado e busca ampliar cada vez mais”, disse ela para a ANBA.
Missão
Além do ministro Marcos Montes, participam da missão outros representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como o secretário de Comércio e Relações Internacionais, Jean Marcel Fernandes, o secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação, Fernando Camargo, o diretor de Programas, Luis Eduardo Pacifici Rangel, e o assessor técnico Fabiano Maluf Amui.
O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti, e o diretor de Projetos Estratégicos na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Bruno Caligaris, integram a delegação, assim como representantes da certificadora Cdial Halal, da empresa BRF, da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), e da Copacol, entre outros.
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