Alexandre Rocha
São Paulo – O Grupo Elloumi dono da Cofat, empresa tunisiana que produz feixes de cabos elétricos para veículos, quer formar uma joint-venture com uma companhia brasileira para montar uma fábrica no Brasil e atender a indústria automobilística local.
"O Elloumi é um grande grupo industrial na Tunísia que exporta para várias marcas mundiais, como a Renault, Peugeot, Mercedes e Mitsubishi", disse à ANBA o embaixador da Tunísia em Brasília, Hassine Bouzid.
A companhia será um das participantes da 2ª Jornada Tunisiana de Negócios, que começa hoje (26) e vai até quarta-feira em São Paulo, e vai aproveitar o evento justamente para encontrar um parceiro brasileiro.
"Eles estão vindo ao Brasil pela primeira vez e querem fazer contatos com empresas brasileiras", acrescentou Bouzid.
Fomentar a cooperação industrial entre os dois países é um dos objetivos da jornada, tanto que a primeira atividade do evento, organizado pela embaixada da Tunísia e pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), será um seminário sobre as oportunidades de cooperação industrial entre os dois países.
Ele será realizado hoje a partir das 9 horas na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com a participação de Bouzid, do presidente da CCAB, Paulo Sérgio Atallah, representantes da Fiesp, da União Tunisiana da Indústria, Comércio e Artesanato (Utica), entre outros.
Livre comércio
Se o grupo Elloumi quer investir no Brasil, existem também oportunidades para empresas brasileiras investir na Tunísia.
Isso porque o país africano goza de um acordo de livre comércio com a União Européia. Por causa disso, na avaliação de Bouzid, pode ser vantajoso para os industriais brasileiros investir na montagem de fábricas em solo tunisiano.
"O Brasil ainda não tem nada com a União Européia, deverá ter, mas quando o acordo for assinado ainda haverá um período de adaptação", disse o diplomata, referindo-se ao acordo que deve ser assinado entre a UE e o Mercosul.
A opinião é partilhada pelo embaixador do Brasil em Túnis, Sérgio Barcellos Telles, para quem pode ser vantajoso para empresários que almejam o mercado europeu investir na Tunísia.
A acordo entre o país africano e a UE foi assinado em 1995 e tem o prazo de implementação progressiva de 12 anos. No entanto, Bouzid ressaltou que não existem restrições, tarifárias ou não tarifárias, à importação de produtos tunisiano na Europa.
"Esse tipo de relação entre a Tunísia e a Europa vem de longe, desde 1969", disse o embaixador. De fato, mesmo antes da assinatura do "acordo de associação" entre a Tunísia e a UE em 1995 já havia um acordo preferencial em vigência.
Exportações e importações
O diplomata acrescentou que hoje os produtos industrializados respondem por 80% de tudo o que a Tunísia exporta. "Somos os primeiros exportadores de produtos industriais da África, mais até do que a África do Sul", garantiu.
Além do grupo Elloumi, que pertence ao empresário Faouzi Elloumi, a Jornada vai contar com a participação de representantes de outras 9 empresas tunisianas interessadas em fazer negócios nos setores de alimentos, produtos de couro, calçados, cerâmica, confecções, construção civil, equipamentos de iluminação, ferragens, material de escritório, papel em pasta, produtos agroindustriais, farmacêuticos, siderúrgicos, revestimentos e turismo.
E os negócios possíveis não são só na área de cooperação industrial, mas na de venda e compra também. "O que nós queremos é que o comércio com o Brasil cresça, tanto no que diz respeito às importações, quanto às exportações. Se formos para um evento como este querendo só exportar será um fiasco", disse Bouzid, que já foi presidente do Centro de Promoção de Exportações da Tunísia (Cepex), órgão semelhante à brasileira Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil).
De acordo com Mohamed Ikbal Khaldi, responsável pelas relações com o Brasil no Cepex, o Brasil é o "primeiro cliente" da Tunísia na América do Sul.
Ele ressaltou que além dos fertilizantes e produtos químicos que a Tunísia já exporta para o Brasil, seu país pode oferecer uma série de outros produtos, como equipamentos elétricos e azeite de oliva. "A Tunísia é o quarto maior exportador de óleo de oliva do mundo, atrás apenas da Itália, Espanha e Grécia", disse. Além disso, o setor têxtil é o mais expressivo da indústria exportadora tunisiana. "Precisamos tentar aumentar o fluxo de comércio entre os dois países, apesar da distância geográfica", acrescentou.
Para tanto, Khaldi ressaltou que os empresários brasileiros e tunisianos precisam se conhecer melhor. Da mesma opinião partilha Bouzid. Para isso, boa parte da programação da jornada será destinada a rodadas de negócios, que vão ocorrer hoje à tarde, amanhã durante todo o dia e na quarta-feira pela manhã. Sempre no hotel Mofarrej na Alameda Santos, região dos Jardins.
Além das 10 empresas do país africano, mais de 50 representantes de empresas brasileira de vários setores vão participar.
As trocas comerciais entre os dois países ainda são pequenas, mas vêm crescendo bastante. No primeiro trimestre o Brasil exportou para a Tunísia o equivalente a US$ 30,1 milhões, um aumento de 260.7% em relação ao mesmo período do ano passado. Na mão contrária, a Tunísia exportou para o Brasil o equivalente a US$ 6,1 milhões, ou 204,92% a mais do que nos primeiros três meses de 2003.
Realmente, de acordo com o diretor da CCAB e cônsul honorário da Tunísia em São Paulo, Rubens Hannun, empresários tunisianos têm vindo ao Brasil cada vez com mais freqüência, fato que começa dar um impulso maior no aumento da corrente comercial (exportações mais importações) entre os dois países, que nos primeiros três meses do ano cresceu 250% em comparação com o mesmo período de 2003.
Os contatos entre empresários tunisianos e brasileiros começaram a ficar mais intensos em 1999, quando foi realizado no Brasil um evento voltado para o turismo e para a gastronomia. Já em 2002 foi ocorreu a primeira jornada de negócios e foi criado o Conselho-Empresarial Brasil-Tunísia, formado por seis integrantes de cada país, e que vai se reunir hoje.
No total, a delegação tunisiana que vai participar da jornada conta com 15 pessoas, entre empresários e representantes do governo.
Acordos
Ainda hoje serão assinados acordos de cooperação entre a Apex e o Cepex e entre Agência (Tunisiana) de Promoção de Investimentos Estrangeiros (Fipa) e a Investe Brasil, órgão semelhante mantido pelo governo e pela iniciativa privada brasileira.
O primeiro deles prevê a troca de experiências e informações sobre comércio exterior, a chamada "inteligência comercial", e até a troca de pessoal, com funcionários da Apex fazendo estágios no Cepex e vice-versa. Os dois órgãos vão se comprometer também a dar apoio aos empresários dos dois países.
O presidente do Cepex, Ferid Tounsi, é um dos integrantes da missão tunisiana e vai assinar o documento juntamente com seu colega brasileiro, Juan Quirós.
O segundo acordo diz respeito à troca de experiência na área de investimentos. De acordo com Bouzid, a Tunísia trabalha forte há 30 anos para atrair investimentos estrangeiros e hoje, segundo ele, existem 2,3 mil empresas internacionais instaladas em seu país, principalmente da Alemanha, Itália e França, mas também de países como os Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul.
Perfil
A Tunísia está localizada no norte da África, banhada pelo Mediterrâneo entre a Argélia e a Líbia, tem uma área de 163.610 quilômetros quadrados e uma população de 9,8 milhões de habitantes. Trata-se de uma república que tem como chefe de estado o presidente Zine Abidine Ben Ali.
O produto interno bruto (PIB) do país é de US$ 24,8 bilhões (dados de 2003). Além do acordo com a UE, a Tunísia faz parte da União do Magreb Árabe (UMA), da qual participam também a Argélia, Marrocos, Líbia e Egito, da União Africana e da Liga dos Países Árabes. Além disso, faz parte da Organização Mundial do Comércio (OMC) desde a fundação do órgão em 1994.
Mais informações
CCAB
Setor de marketing
(55+11) 3283-4066

