Alexandre Rocha
São Paulo – A Mister Cayman, um criatório de jacarés-do-papo-amarelo localizado em Maceió (AL), mal começou a fazer o abate comercial dos animais e já encontrou no mercado árabe suas primeiras oportunidades de negócios no exterior.
"Nós fechamos contratos com árabes interessados em revestir os estofados e as arandelas (luminárias) de iates com couro de jacaré", disse a jornalista Maria Cristina Ruffo, proprietária da empresa junto com seu marido, o empresário e arquiteto Silvio Garabuggio.
De acordo com ela, devem ser enviadas, a partir de setembro e até o final do ano, cerca de 500 peles para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. No prazo de um ano, Cristina espera embarcar entre 5 mil e 6 mil peles.
Como a produção da Mister Cayman ainda não chega a esse volume, é possível que no pacote entrem produtos de terceiros. Segundo a empresária, a mercadoria vendida será suficiente para fazer o trabalho de revestimento em couro em cerca de 100 barcos.
Autorização do Ibama
O casal só começou a fazer o abate comercial dos animais em março deste ano, mas, de acordo com Cristina, já tinha autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para fazê-lo desde o ano 2000.
A criação de jacarés, segundo Cristina, começou em 1994, época em que o casal tinha no sítio de três hectares em Maceió, a seis quilômetros da praia, uma criação de peixes da espécie tambaqui. De acordo com a empresária, apareceram por lá três jacarés, que foram capturados.
"Nós capturamos os animais e recebemos uma autorização do Ibama para desenvolver o projeto de criação. Desde 1994 nós ajudamos a manter essa espécie que estava ameaçada de extinção", disse.
A exploração comercial dos animais só começou com a instalação de um abatedouro especializado, em uma área de 14 hectares na cidade de Paulo Afonso, no interior da Bahia, com apoio da prefeitura local.
Produtos
Quase nada de se perde. Além do couro, é aproveitada a carne para consumo humano, a cabeça, as patas e os ossos para o artesanato e a banha para a produção de cosméticos. "Estamos pensando também no uso da urina como fixador de perfumes", afirmou a empresária.
A carne, por enquanto, é comercializada apenas na Bahia, pois ainda não conta com a autorização do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para ser vendida no país inteiro. Tem apenas o aval dos órgãos locais de vigilância sanitária.
Cristina disse também que a produção de carne ainda não é suficiente para atender o mercado nacional, mas acrescentou que o produto "exótico" já vem tendo boa aceitação em churrascarias e "butiques" de carnes silvestres.
"O gosto da carne está entre o peito de frango e o peixe, é muito semelhante ao sabor do robalo", garantiu. Segundo ela, boa parte da carne do animal pode ser consumida, principalmente o rabo, que os nordestinos chamam de "macaxera" e preparam ensopado com molho de leite de coco. Trata-se, evidentemente, de um apelido, já que macaxera é como é chamada a mandioca, ou aipim, no Nordeste do país.
Mas, de acordo com Cristina, o couro é mesmo o principal produto. Segundo ela, cada centímetro da pele "salgada", ou cru, custa US$ 4,00. Já o produto curtido e tingido vale US$ 9,00 por centímetro. De olho no mercado externo, a empresária vai participar em setembro da feira "Le Cuir", em Paris, voltada para o setor de couros, onde pretende "entabular" alguns negócios.
Segundo Cristina, o Mister Cayman abate em média 100 animais por mês, o que equivale a uns 500 quilos de carne e 100 peles. O plantel do criatório é de 5 mil jacarés. A mão- de-obra empregada atualmente é pequena. De acordo com ela, o manejo dos jacarés é relativamente fácil, duas pessoas cuidam da criação e outras 10 do abate.
Para aumentar a produção, a Mister Cayman pretende, em parceria com o Banco do Nordeste, incentivar outros criadores com o fornecimento de matrizes reprodutoras e a posterior compra da produção, como se fosse uma cooperativa.
O bicho
Embora a boa qualidade e o valor do couro sejam as principais motivações para a criação desses animais em cativeiro, de acordo com informações do Centro de Conservação e Manejo de Répteis a Anfíbios (RAN) do Ibama, elas também foram as causas da caça ilegal que resultou em uma grande diminuição da população do jacaré-do-papo-amarelo na natureza.
Os indivíduos da espécie, que tem o nome científico de caiman latirostris, são considerados de médio porte. Em condições naturais, segundo o RAN, eles não ultrapassam os dois metros de comprimento.
O jacaré-do-papo-amarelo é nativo da América do Sul e é encontrado na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. No Brasil, ele pode ser achado na região costeira, desde o Rio Grande do Norte até a as lagoas dos Patos e Mirim, no Rio Grande do Sul.
Contatos
Mister Cayman
Maria Cristina Ruffo
Tel: +55 (82) 359-3039
e-mail: mrcayman@uol.com.br
www.mistercayman.com.br

