Manaus – Empresários do Amazonas demonstraram grande interesse em exportar seus produtos aos países árabes durante o seminário “Oportunidades de Negócios e Investimentos entre Manaus e os Países Árabes”, realizado nesta segunda-feira (11) na Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), em Manaus, como parte da visita de delegação de embaixadores árabes ao estado.
Produtos como cosméticos, fármacos, vinagres, bebidas não alcoólicas e itens típicos da região, como fibras, peixes e açaí, estão entre os com maior potencial para os negócios. Na outra mão, os embaixadores apresentaram possibilidades de vendas de produtos árabes como azeite de oliva, goma arábica e fertilizantes.
Para o vice-presidente Administrativo da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Mohamad Mourad (dir., na foto acima), que acompanha a delegação, a reunião foi fundamental para aproximar os empresários do mundo árabe. “Muitos empresários vieram nos procurar para trocar cartões no final do evento. Acho que três setores podem ser bastante promissores: cosméticos, fármacos e produtos locais, como açaí e fibras, que têm um apelo muito grande para exportação, principalmente entre os jovens”, disse.
O secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansur, fez uma apresentação sobre a relação comercial do Brasil com os países árabes, enfatizando que o bloco de 22 países é o terceiro maior comprador de produtos brasileiros. “Do estado do Amazonas, os árabes compram muito ouro e aparelhos elétricos. O estado fica em 20º lugar nas exportações e em 12º em importações”, afirmou.
Empresas de alguns setores se apresentaram, como a Aqua Amazon Brazil, de água mineral, que já é associada à Câmara Árabe e exporta para os Emirados Árabes Unidos; a Real Bebidas; a startup Biozer, de cosméticos, fitoterápicos e alimentos naturais; a MDS Trade Solutions, que exporta peixes da região como tambaqui, pirarucu e aruanã; a Pronatus Amazonas, de cosméticos naturai; e a Virrosas, empresa de vinagres.
O presidente da Fieam, Antonio Silva (C., na foto acima), disse que a reunião “beneficia o intercâmbio entre nossas nações amigas”. O embaixador da Liga dos Estados Árabes, Qais Marouf Kheiro Shqair, afirmou haver muito interesse em cosméticos, principalmente nas linhas anti-envelhecimento nos países árabes.
O embaixador do Sudão, Abdelmoneim Ahmed Alamin Elhussain, apresentou a goma arábica como potencial produto para importação brasileira. “O Sudão produz 85% da goma arábica no mundo, e ela é muito usada na indústria de cosméticos e fármacos”, apontou.
O chefe da divisão do Oriente Médio no Itamaraty, Leandro Silva, disse que a cultura árabe é parte indissociável da cultura brasileira, e que as perspectivas de relacionamento são cada vez melhores após a visita do presidente Jair Bolsonaro a três países árabes em outubro: Catar, Emirados e Arábia Saudita. “Em nome desse potencial, missões como essa são essenciais, temos interesse em aumentar o fluxo comercial e o fluxo humano entre os países”, disse.
“Temos uma relação forte, sólida e de longa data com o Brasil e gostaríamos de ampliar essa boa relação, baseada no respeito, sempre; que essa via de mão dupla se fortaleça”, disse o embaixador da Palestina e decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, Ibrahim Alzeben (esq., na imagem do alto).
A Câmara Árabe foi por muitos embaixadores como a ferramenta ideal para os empresários amazonenses que querem explorar o mercado árabe. “Cada vez mais a Câmara Árabe se prova como a porta de entrada de negócios entre os árabes e os brasileiros”, disse Mourad. Ele fez um convite para os empresários locais participarem do Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, em 14 de abril de 2020.
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Zona Franca
Na manhã desta segunda, a missão de diplomatas árabes visitou a sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e se reuniu com o superintendente adjunto de operações da instituição, Luciano Tavares, o superintendente adjunto de projetos, Gustavo Igreja, o coordenador geral de Comércio Exterior, Felipe Esteves, entre outros encarregados, que falaram sobre os benefícios que a zona franca oferece às empresas que ali se instalam, como isenções e reduções de impostos de importação, imposto de renda, imposto sobre produto industrializado, entre outros.
Os principais produtos fabricados na zona franca são eletroeletrônicos, motocicletas, televisores de LCD, aparelhos de GPS e celulares. O polo industrial de Manaus conta com 439 indústrias e gera mais de 85 mil empregos diretos, com os objetivos de reduzir a desigualdade e o isolamento geográfico da região e promover o desenvolvimento. Empresas como a Samsung, LG, Yamaha e Honda estão no polo industrial de Manaus.
O embaixador do Marrocos, Nabil Adhoghi, perguntou como a reforma tributária poderia afetar os negócios na zona franca. “Sem dúvida a reforma tributária é uma grande preocupação, mas ouvimos do governo que as vantagens competitivas na região não serão afetadas”, disse Tavares. A coordenadora de estudos econômicos e empresariais da Suframa, Ana Maria Souza, reiterou a resposta de Tavares. “Estamos de acordo com a reforma tributária e o governo Bolsonaro”, falou.
Segundo Souza, apenas 5% dos produtos fabricados na região são exportados, principalmente para a Colômbia, Estados Unidos e China. “Nossa grande pauta exportadora é composta por alumínio e extratos e concentrados de refrigerantes”, contou. Ou seja, o próprio mercado brasileiro é o mais atendido pelas companhias instaladas em Manaus.
Segundo Felipe Esteves, acordos como o de livre comércio entre Mercosul e Egito fazem com que os países envolvidos tenham acesso preferencial a produtos da zona franca. “No caso do acordo entre o Mercosul e o Egito, existe um programa de reduções tarifárias gradativas desde 2017; há uma lista de outorga do Egito para o Mercosul e do Mercosul para o Egito, e a zona franca está englobada nas condições de acesso preferencial, isso facilita o fluxo entre os países”, explicou.
O novo embaixador do Egito, Wael Ahmed Kamal Aboul Magd, que está no País há apenas uma semana, integrou a delegação. Ele perguntou se há setores prioritários que podem se beneficiar da zona franca. “Não há setores prioritários, todos são bem-vindos, somente cinco produtos que não têm isenção de impostos da zona franca: fumo, bebidas alcoólicas, alguns tipos de preparação de cosméticos, e armas e munições”, disse Souza.
“A zona franca de Manaus foi criada há 52 anos com o objetivo de integrar essa região do País e trazer desenvolvimento, e temos que compensar a questão logística com os incentivos fiscais como atrativo para as empresas”, disse Tavares.
Honda
Os embaixadores visitaram ainda a fábrica de motocicletas da Honda, a maior e mais verticalizada da marca no mundo, que está estabelecida na zona franca desde 1976. Lá, são produzidas motocicletas, quadriciclos e motores estacionários. “A Honda sempre procura produzir onde tem mercado”, disse o vice-presidente da fábrica, Julio Koga. Segundo ele, são produzidas 950 mil motocicletas por ano e exportadas para mais de 60 países do Oriente Médio, África, América do Sul e Oceania.
Outros participantes da delegação são os embaixadores da Mauritânia, Wagne Abdoulaye, da Tunísia, Mohamed Hedi Soltani, e os encarregados de negócios da embaixada da Jordânia, Mutazz Khasawneh, e da Líbia, Osama Ibrahim Ayad Sawan. O presidente da Sociedade Árabe Palestina do Amazonas, Mamoun Yousef Abdel Hameed, e a analista de relações institucionais da Câmara Árabe, Danielle Berini, também participaram das reuniões.
Nesta terça-feira, haverá reunião dos diplomatas com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC).