São Paulo – A terceira edição do curso gratuito O Mundo Islâmico teve início na manhã desta quarta-feira (17) em formato híbrido. Convidados acompanharam as três primeiras aulas presencialmente em Brasília, enquanto empresários brasileiros de diversas regiões do País e do mundo puderam assistir de forma remota. O tema deste ano é “Ética e os Negócios com o Consumidor do Mundo Islâmico”, e as aulas buscam informar sobre as oportunidades e os desafios para empresários brasileiros nos 57 países com população de maioria islâmica.
Neste encontro, o tema foi “A população muçulmana e suas particularidades”, dividido em três aulas. A primeira trouxe a estimativa de crescimento da população muçulmana e do mercado halal global. Quem falou foi o vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), Ali Zoghbi. Ele deu uma breve explicação sobre o Islã e suas bases essenciais, que são o respeito às diferenças, a liberdade de crença, a preservação da vida e o conceito halal. Ele também contou a história do Alcorão, livro sagrado do Islã.
“Halal significa tudo aquilo que é lícito, seu consumo é permitido por Deus para os muçulmanos de acordo com a Sharia, a lei islâmica. Halal é então a base de tudo que é lícito na alimentação, no social, na conduta, na justiça, na vestimenta, nas finanças, etc. É um sistema baseado em princípios e valores que beneficiem a humanidade”, disse Zoghbi.
Zoghbi informou que hoje, a população mundial é de oito bilhões de pessoas, e 1,9 bilhão são muçulmanos (24,5% da população). Em 2060, serão 9,8 bilhões de pessoas no mundo e destas, 3 bilhões serão muçulmanos, ou 31,5% da população mundial, de acordo com as estimativas, já que a população que segue a fé islâmica cresce mais rapidamente que as demais.
Os três países de maioria islâmica com maior população são Indonésia, Paquistão e Bangladesh. Segundo Zoghbi, há ainda países como Nigéria e Índia, em que a população muçulmana é minoria, e mesmo assim, é um número expressivo. “Na Índia, a população islâmica é 14% do total, com 204 milhões de adeptos. É o país com a maior minoria muçulmana do mundo. É um mercado em ascensão”, disse. A Rússia foi mencionada, pois tem uma população de 14 milhões de muçulmanos, ou 10% do total, assim como a China, hoje um dos maiores mercados halal do mundo, importador e exportador.
O novo perfil do consumidor muçulmano foi o tema da segunda aula, com Alessandra Frisso, sócia-diretora da H2R Pesquisas Avançadas e diretora da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Ela informou que esta é uma população jovem e que está cada vez mais presente em centros urbanos. Cerca de 66% dos muçulmanos no mundo têm menos de 30 anos e possuem renda e instrução. Eles estão cada vez mais conectados e valorizam o consumo ético, compram muito pela internet e gostam de marcas globais que estão alinhadas aos valores muçulmanos. “Os muçulmanos buscam cada vez mais o consumo responsável e a convergência entre o halal e o ESG (governança ambiental, social e corporativa), consumindo alimentos, medicamentos, cosméticos, vestuário e até turismo halal”, disse.
A terceira aula do dia foi sobre o calendário islâmico e sua influência nos negócios, comandada pelo presidente da H2R Pesquisas Avançadas e membro do Conselho de Orientação e Deliberação da Câmara Árabe, Rubens Hannun. Ele falou sobre os finais de semana em países de maioria muçulmana, que costumam ser sexta-feira e sábado, e sobre datas como o Ramadã, o mês do jejum, e como isso modifica o consumo e os negócios. “É importante conhecer e pesquisar sobre o país onde vai fazer negócios, saber quais os dias do fim de semana e as datas do jejum naquele ano”, disse. Segundo ele, o Ramadã é um momento de cautela para as negociações com os muçulmanos. Hannun informou ainda que os horários de consumo online mudam no mês do jejum, em que só se pode comer e beber após anoitecer e antes de amanhecer.
A abertura contou com discursos do presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, do decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Alzeben, do presidente da Fambras, Mohamed Zoghbi, do diretor do departamento de Energia e Agronegócio do Ministério das Relações Exteriores, Alexandre Ghisleni, e do secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Fernando Sardenberg. O presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, participou do evento de abertura em Brasília.
O curso, que contou com mais de mil inscrições, é promovido pela CNA e a Fambras, com apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Fambras Halal, Academia Halal do Brasil, Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, Instituto Brasil Logística e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Relações Empresariais Internacionais (Ibrei). Os demais encontros ocorrem nos dias 25 de agosto e 1º e 9 de setembro, das 9 horas às 11h15 (horário de Brasília).