São Paulo – Empresas do município de Jundiaí, interior do estado de São Paulo, estão interessadas em conhecer com mais profundidade as exigências e oportunidades do mercado halal. Empresários e executivos locais participaram na manhã desta terça-feira (13) da apresentação do Projeto Halal do Brasil, na sede do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Jundiaí, para saber como se tornarem fornecedoras desse nicho.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostram que Jundiaí exportou no ano passado US$ 709 milhões em produtos, tais como máquinas e aparelhos, plásticos e borrachas, alimentos, aparelhos e instrumentos de ótica, entre outros, tendo como principais destinos Estados Unidos, Argentina, Chile, Uruguai, México, Paraguai, Peru, Colômbia, China e Bolívia. Houve crescimento de 18% nas exportações sobre 2021.
Países muçulmanos não estão entre os grandes importadores de produtos de Jundiaí, mas os líderes do Projeto Halal do Brasil apresentaram aos empreendedores da cidade essa possibilidade. O projeto é levado adiante pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) com o intuito de inserir 500 empresas nacionais, principalmente de alimentos com valor agregado, no mercado halal. Os produtos halal são aqueles produzidos segundo as regras da religião islâmica.
Entre os executivos que ouviram as palestras na Ciesp-Jundiaí estava o cofundador da empresa Quinta Semente, Renato Masini (foto de abertura). A companhia importa e comercializa frutas secas no Brasil, inclusive tâmaras da Tunísia e dos Emirados, e distribui nuts brasileiras como castanhas e amendoins no mercado nacional. A Quinta Semente compra os produtos em grandes volumes e os fraciona em embalagens menores. “Preciso explorar esse mercado e entender o que eles consomem, qual é a necessidade deles”, disse Masini para a ANBA sobre o halal.
A coordenadora de Comércio Exterior da empresa Castelo, Milene Vieira da Silva, participou do evento. A Castelo é amplamente conhecida no Brasil por seu vinagre, mas ela produz mais de 80 tipos de produtos, desde molhos até conservas de vegetais, condimentos e temperos. A empresa é exportadora e retomou suas vendas para os países muçulmanos no ano passado com fornecimento de pimenta biquinho, palmito e patê de pimenta a Dubai. Após ouvir a apresentação do Projeto Halal do Brasil, a executiva disse que pretende verificar quais linhas de produtos poderiam obter certificação halal e teriam demanda entre muçulmanos.
A De Marchi é uma das empresas de Jundiaí que já têm certificação halal. Manuel Hing, que representou a companhia no Ciesp, estava no evento para se informar sobre as atuais oportunidades no mercado halal. A De Marchi produz frutas, legumes e polpas de frutas congeladas, além de açaí, com exportações para cerca de 15 países. A companhia possui certificação halal e está em tratativas para vender aos países muçulmanos, segundo Hing. Ele afirma que a demanda pelo selo veio nas negociações com compradores da região.
As lideranças de Jundiaí presentes no evento da Ciesp incentivaram os empresários a olharem para a exportação. Falando em nome do prefeito de Jundiaí, o gestor de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do município, Cristiano Lopes, abriu o encontro e disse que o objetivo da iniciativa era apoiar o processo de exportação das empresas, lembrando que Jundiaí já é uma referência em importação por causa das facilidades logísticas.
O diretor do Ciesp-Jundiaí, Manoel Flores, também participou e aconselhou que as empresas locais destinem entre 10% e 15% da sua produção à exportação para equilíbrio dos negócios. Ele deu sua visão sobre os Emirados Árabes Unidos, onde esteve recentemente, e ressaltou o trabalho do país árabe e muçulmano pela atração de turismo, o que deve gerar ainda mais consumo. O mercado é fortemente dependente de importações.
O que é o Projeto Halal do Brasil
No encontro na Ciesp os participantes puderam conhecer o que é um produto halal e as principais exigências para que ele tenha essa certificação; o tamanho e as tendências de consumo nos países muçulmanos; os detalhes do Projeto Halal do Brasil, como as possíveis formas de participação na iniciativa e as atividades que serão promovidas; e ouviram histórias de sucesso de empresas que já possuem a certificação e atendem o consumo halal.
A gerente de Projetos de Internacionalização da Câmara Árabe, Fernanda Dantas, explicou que o Projeto Halal do Brasil se compõe de três fases: a capacitação, na qual as empresas ainda não certificadas recebem informações e são sensibilizadas sobre o halal, o treinamento online e segmentado para companhias interessadas em receber a certificação halal e a promoção comercial, com participação em feiras e em missões internacionais. Empresas poderão se candidatar para conseguir um apoio de até 50% nos custos para obter o selo halal.
O projeto terá duração de 30 meses, até 2025, e investirá um total de R$ 15,4 milhões. Os mercados prioritários são os países árabes Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito, além de outros não árabes, como África do Sul, Indonésia, Malásia, França e Alemanha, esses dois últimos porque abrigam as maiores feiras de alimentos do mundo. Dantas apresentou em Jundiaí ações de promoção comercial que serão realizadas neste ano, as próximas sendo feiras na Malásia e na Alemanha e missão comercial para a África do Sul.
Além de Dantas, falaram no evento Elaine Cardoso, da Academia Halal e da certificadora Fambras Halal, que apresentou o que é um produto halal e sua certificação, Sotirios Ghinis, economista da Câmara Árabe que abordou os mercados, e Walid El Orra, da certificadora Cdial Halal, que contou cases de sucesso de empresas no mercado halal. A assessora de Cooperação Internacional de Jundiaí, Lígia Contursi, conduziu o evento, que foi promovido pela Prefeitura Municipal de Jundiaí, pelo Programa Exporta + Jundiaí, com apoio do Projeto Halal do Brasil.
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Projeto Halal do Brasil