São Paulo – Ter um plano de retomada pode definir o desempenho e o êxito das empresas após a pandemia do novo coronavírus, que trouxe transformações importantes nos mercados ao redor do mundo. Essa foi uma das orientações dadas no seminário virtual “Negociações internacionais e segurança jurídica: adequações diante deste novo cenário”, promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira nesta quarta-feira (20), no qual falaram especialistas do Brasil e dos Emirados Árabes Unidos.
O assunto foi tratado no webinar pelo líder de mercados na KPMG, André Coutinho (foto acima). “Assim como foi importante ter um bom plano de gestão de crise e ter um bom plano de continuidade de negócios (na crise), igualmente importante agora é ter um bom plano de como será a retomada dos negócios”, afirmou Coutinho ao público do evento virtual, quase 600 pessoas do Brasil e exterior.
De acordo com Coutinho, o planejamento deve levar em conta fluxo de caixa, a cadeia de fornecimento, a competitividade em relação aos concorrentes, entre outras questões. “Você estará disputando mercado e terá uma clientela fragilizada tanto do ponto de vista do impulso de compra quanto da situação financeira”, disse o líder de mercados da KPMG. Segundo ele, fazer o planejamento é difícil diante da incerteza grande como a atual. “Mas não é opção não ter plano de retomada”, afirmou Coutinho.
O executivo da KPMG afirmou que o desafio que está sendo enfrentado, e seguirá por pelo menos mais dois meses no Brasil, é grande para qualquer setor. Estudo da KPMG mostrou que poucas empresas desenvolveram negócios, colocaram novos produtos no mercado e cresceram na pandemia. “A grande maioria tem sofrido bastante com a questão financeira, com o caixa, muito importante numa situação como essa, com a saúde dos colaboradores, a manutenção do volume de negócios no momento da crise”, disse.
Ele lembrou as diferentes fases trazidas pela crise, a primeira delas a adaptação rápida que teve de ser feita pelas empresas, como o estabelecimento do trabalho remoto, e a necessidade de tomada de decisões que não fossem prejudiciais no futuro. O segundo momento foi de adaptação à crise e de resiliência, da qual ele acredita que as empresas devem tirar aprendizados, ganhos de conhecimento e de produtividade. “Fala-se muito na questão da tecnologia, que nunca mais será a mesma”, disse.
A terceira fase é a da retomada, que no Brasil ainda está por vir. “Do que escuto dos nossos colegas da KPMG China, a mensagem principal é fazer um bom planejamento da retomada dos negócios”, contou André Coutinho. O executivo sugere um estudo de diversos possíveis cenários de retomada, se ela ocorrer em junho ou até apenas no final deste ano. “É super importante para que você possa ter esse retorno de forma mais rápida e mais acelerada possível para o teu negócio”, disse Coutinho.
A última fase será a de vivenciar a nova realidade que a pandemia trará, de conviver com o que será o novo normal. “São novas realidades efetivamente, com as quais todos os executivos, todas as empresas devem estar bastante preocupadas”, disse Coutinho.
Com o novo cenário, terão que conviver tanto os setores que conseguiram crescer na crise quanto os que foram prejudicados. No primeiro caso se encaixam o delivery, as plataformas de conferências virtuais, a telemedicina, as produtoras de snacks, entre outros. “A dúvida que fica para esses setores que escalaram muito rapidamente é se esse volume de negócios vai continuar pós crise, eu acredito que para alguns sim”, afirmou. Estudar se a mudança de consumo veio para ficar deve ser parte do plano de retomada.
Há empresas que sofreram os efeitos do distanciamento social e, no novo contexto, terão os negócios retomados, mas com redução de volumes. É o caso dos serviços financeiros, principalmente o financiamento da compra de bens como carros e apartamentos. “Poucas pessoas estão pensando em trocar de carro ainda neste ano”, disse Coutinho. Mais um exemplo são os serviços de transporte de passageiros, que terão menor demanda diante da nova opção de fazer um dia de trabalho home office.
Outros setores terão o retorno dos negócios de forma mais lenta e precisarão reemergir. “Por ser um caminho mais longo, exige uma reserva de capital, exige uma condição financeira boa dessa empresa”, afirmou Coutinho. O executivo cita o setor automotivo, que já se questionava sobre a figura do carro como objeto de desejo de consumo das gerações mais jovens, o imobiliário, em função da incerteza financeira, e o turismo. Ele acredita que o turismo será o último elo dessa cadeia a se recuperar.
Há ainda os segmentos onde o cenário de queda pode persistir por longo tempo ou até ser permanente, como aeroportos e empresas de viagens corporativas. Segundo Coutinho, as relações interpessoais vão mudar. “O que estamos fazendo aqui vai se tornar muito mais comum”, disse, sobre a realização virtual do seminário. Os modelos operacionais terão que se adaptar ao conceito virtual, segundo ele. “As empresas que já estavam adaptadas a isso antes da crise, passaram por ela de forma muito mais rápida”, disse.
Coutinho afirmou que uma das lições deixadas pela pandemia às empresas é a necessidade de se preparar para as crises, que a cada quatro ou cinco anos costumam acontecer. “Não podemos deixar de planejar e olhar para as crises que vêm por aí”, disse.
O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, que mediou as discussões, concordou com Coutinho sobre a frequência das crises e a necessidade de as empresas estarem preparadas para enfrentá-las. Ele lembrou da incerteza do atual cenário. “Estamos em um momento onde não existem mais respostas prontas, as poucas respostas vêm de quem já passou pela pandemia, como a China, por exemplo, mas a realidade de lá diferente, a Europa também vive um contexto totalmente diferente do nosso”, disse.
Hannun afirmou que a Câmara Árabe promoveu o webinar com o intuito de ajudar as empresas em questões de gestão durante esse período e que as próximas conferências online que a entidade vai promover terão também esse propósito. Além de Hannun e Coutinho, falaram no webinar o secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, os sócios do Baker & McKenzie Habib Al Mulla, Tarek Saad e Pietro de Libero, o sócio do Veirano Advogados, Fábio Amaral Figueira, a diretora de vendas e marketing no Marriott Hotels -Brasil, Nina Mazziotti, o diretor jurídico da Câmara Árabe, William Abid Dib Jr., e o CEO da Travel Plus, Renato Aureliano.
Acompanhe outras reportagens da ANBA abaixo com as demais abordagens do webinar:
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