São Paulo – As empresas mais avançadas na transformação digital são as que têm também melhor resultado no mercado internacional. O professor de Engenharia da Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o engenheiro argentino Alejandro Germán Frank (foto acima), afirma que pesquisas apontam isso. “Aquelas empresas que estão transformadas digitalmente, que têm bem estabelecida uma estratégia digital e dominam bem o uso de tecnologias digitais, elas têm muito mais desempenho em termos de mercado internacional, seja de exportação ou custos operacionais, e todo o efeito financeiro que isso produz”, afirma em entrevista à reportagem da ANBA.
Frank é pós-doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) dos Estados Unidos, onde também é pesquisador afiliado. Ele atua como diretor do Núcleo de Engenharia Organizacional da UFRGS, universidade pela qual também é doutor em Engenharia da Produção e coordenador do curso de Especialização em Indústria 4.0 e Transformação Digital. O especialista defende que quem trabalha com o mercado internacional precisa estar obrigatoriamente inserido no mundo digital. “Não dá para pensar comércio exterior no século 21 sem transformação digital”, disse ele.
Mercados ansiosos e acelerados como os atuais demandam a chegada rápida de produtos e a digitalização é uma ferramenta que permite celeridade a muitos processos do comércio exterior, como os burocráticos e a consulta a documentações. “Estamos falando de atender mais rápido um consumidor que hoje em dia não tem tanta paciência para esperar e encontra facilmente substitutos. Ao ter muitos substitutos, a concorrência se dá por quem entrega de forma mais rápida aquele produto que atende melhor o que o consumidor deseja e quer”, diz.
Frank afirma que a economia digital hoje está presente em todas as áreas da sociedade e que no mundo dos negócios, do comércio exterior e das cadeias produtivas globais, a transformação digital é atualmente o principal desafio e necessidade. “Temos vivenciado muitas anomalias e muitos desequilíbrios das cadeias produtivas globais, muitos desafios em termos de fornecimento, de transporte marítimo, em termos de geopolítica; todos esses desafios têm criado problemas para a forma como as cadeias têm se organizado”, diz.
A modelação ao digital tem entrado como ferramenta para lidar com esses problemas, acelerando decisões, melhorando processos e permitindo atender demandas de forma mais ágil. Estando dentro de processos conectados é possível visualizar cada elo da cadeia e seus stakeholders por meio, por exemplo, do compartilhamento de informações. “Quando estamos falando de uma crise, de uma guerra, eu já consigo antever algum problema de comércio em determinado ponto e consigo, por exemplo, visualizar outros mercados onde posso ter demandas dos mesmos produtos, tenho a visibilidade do que está acontecendo”, diz.
O que fazer para ser digital?
Mas o que as empresas que atuam com mercados internacionais devem fazer para passar do analógico ao digital? O professor recomenda olhar para duas grandes áreas, a da tecnologia e da estruturação. Na tecnologia é preciso, primeiro, digitalizar processos, depois estar mais conectada com os stakeholders e outros agentes, e, então, compartilhar informações em nuvem, em bancos distribuídos e compartilhados. Um passo mais avançado é o uso da inteligência artificial para analisar dados e tomar decisões a partir deles.
Dentro da estruturação é preciso trabalhar a formação das pessoas para um mindset digital, para que entendam do que se trata e estejam abertas ao uso das tecnologias na organização. Além de digitalizar os processos da empresa, é necessário muitas vezes revê-los, repensar como são feitas as transações, como se lida com os clientes. “Por fim, a questão do ambiente organizacional, como a empresa tem formado a sua cultura e a sua liderança focada na transformação digital. Quando a gente pensa na transformação digital, pensa em algo que vem da chefia, da alta chefia, mas ela precisa ser uma visão da empresa porque envolve uma transformação da organização como um todo”, diz Frank.
O pós-doutor afirma que o maior desafio para a transformação digital nas empresas, especialmente nas pequenas e médias, tem sido que elas entendam que essa mudança não é apenas para grandes corporações. “Sempre que a gente pensa em transformação digital, a gente acha que é preciso altos investimentos. Naturalmente, para aqueles que vão construir ferramentas digitais para oferecer para o mercado demanda investimentos sim, mas as empresas que vão ser usuárias, que vão se apropriar das tecnologias no seu dia a dia, elas muitas vezes conseguem soluções relativamente acessíveis no mercado”, diz Frank.
Câmara Árabe
Alejandro Germán Frank deu um treinamento para os funcionários da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista, sobre transformação digital nesta terça-feira (31). A instituição criou recentemente a Plataforma Ellos, que faz uso de blockchain e pela qual pretende levar todo o processo de comércio exterior do Brasil com os países árabe para o digital. Por meio da iniciativa, a Jordânia já passou a usar o despacho aduaneiro digital nas exportações ao Brasil. O treinamento foi aberto pelo presidente da instituição, o embaixador Osmar Chohfi, e conduzido pela diretor de Marketing e Conteúdo, Silvana Gomes, com participação do diretor de Tecnologia e Inovação, Marcos Bulgarelli.